Classe artística reclama por reforma - Daniela Jacinto

TEATRO MUNICIPAL - [ 14/10 ]

Notícia publicada na edição de 14/10/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 5 do caderno B.

Problemas levantados vão de goteiras e iluminação deficitária até a presença de baratas no local

O comentário do leitor João Rampim sobre a verba destinada à Cultura para 2010, postado na versão eletrônica do jornal Cruzeiro do Sul, levantou uma questão que, conforme disse durante entrevista, está há anos “engasgada na garganta de todas as pessoas” que usam o Teatro Municipal “Teotônio Vilela”: a necessidade de uma boa reforma. Fotógrafo de espetáculos de dança, João afirma que está sempre naquele teatro e já constatou diversas situações que mostram a precariedade do espaço. Ele sugere que parte da verba para o próximo ano, que será de R$ 10,5 milhões, seja reservada para melhorar o local. A reportagem entrou em contato com outros usuários do espaço, que afirmaram compartilhar da mesma opinião, entre eles o produtor Marco de Almeida, o técnico de vídeo Ricardo Terai e a bailarina e atriz Andréia Nhur.

Conforme depoimento postado no site do jornal, João Rampim afirma: “As instalações estão precárias: há gotejamentos e vazamentos de água no piso inferior; são presenciadas a passagem de ratos entre as cadeiras da plateia; o piso dos corredores e camarins é horrível; o piso superior não é habitável e não há estrutura nenhuma de camarins nem iluminação, além de um alçapão no segundo piso extremamente perigoso - aquilo não oferece nenhuma segurança - até o dia que despencar alguma pessoa lá de cima. Há ainda uma série de poltronas que precisam de reformas dignas”, desabafa.

O depoimento continua: “As mesas de operações de áudio e luz são analógicas e extremamente antigas, os refletores cênicos - que já são pouquíssimos - estão sujos e são extremamente insuficientes (...). Além de faltar um projeto de engenharia para que haja mais segurança no projeto de iluminação cênica, pois os técnicos que operam ali correm um risco imenso arrastando aquelas escadas perigosas e subindo sem nenhuma segurança naquelas tubulações para afinação de luz”.

Durante entrevista, João Rampim ainda frisou que o ar-condicionado do teatro precisa de manutenção. “Tem também o vazamento da caixa d’água, por isso a Prefeitura compra água regularmente para encher a caixa”, observa.

Ricardo Terai, técnico de vídeo, também está constantemente no Teatro Municipal, onde realiza gravações dos espetáculos. “Na verdade, analisando a forma que foi feito, esse teatro já nasceu morto. Foi um gasto muito alto para um espaço muito pequeno, tendo em vista uma cidade do porte de Sorocaba. Para funcionar legal, teria que trocar tudo: a parte de som, iluminação... A casa de força lá parece a casa dos horrores. O som conta com equipamento antigo, obrigando as academias a levar seu próprio aparelho para reprodução quando se trata, por exemplo, de um DVD. É preciso um técnico que faça avaliação e arrume isso. Se um bombeiro ver a situação, ele interdita o espaço”, aponta.

A bailarina e atriz Andréia Nhur faz uma observação sobre a parte hidráulica, que apresenta vazamentos: “Acredito que seja necessária uma revisão da parte hidráulica, pois fica com cheiro às vezes...”

Barata invade o palco

O produtor cultural Marco de Almeida, que também utiliza bastante o espaço para as apresentações artísticas que traz para Sorocaba, afirma que “no Teatro Municipal tudo, da porta de entrada até a saída, tem de ser melhorado”. Para Marco, é uma vergonha Sorocaba não ter um teatro “decente”, como tem em Cerquilho, Salto, Paulínia, entre tantas cidades do interior menores que aqui, e com vida cultural menos intensa. “São cidades que politicamente tiveram boa vontade de investir em um teatro novo. Cerquilho, inclusive, está atraindo patrocinadores em função de ter um bom teatro”, afirma.

Segundo ele, por aqui as coisas são bem diferentes. “O local tem goteiras, falta de iluminação adequada, as lâmpadas do teatro estão quase todas amarelas, por isso que afirmo que a precariedade é enorme”, enfatiza.

Marco ainda observa que o som tem chiado. “Isso é culpa de quem construiu o teatro, não foi uma construção inteligente. Não tem nem infra-estrutura nos camarins, os chuveiros não funcionam, as portas estão quebradas, os trincos quebrados... Nós, da MdA, quando recebemos artistas no teatro, levamos 90% do nosso material como cadeiras e tapetes, para melhorar a estrutura do teatro, que é feia, decadente. Foi até colocado isolamento de som na época do Renato Amary, há mais ou menos 10 anos, quando o teatro ficou fechado para reforma, mas não adiantou nada. Esse isolamento fica desgrudando e cai no palco, na comida... Além disso, só serve para acumular pó. É preciso colocar cadeiras de teatro de verdade, que não balancem, que não façam barulho... Tem ainda o ar-condicionado, que a maioria das vezes não funciona, e quando funciona é com barulho”, acrescenta.

Em dias de chuva, Marco afirma que caem goteiras no público e no palco: “Muitas vezes tivemos de deixar balde ou secar o palco. É um absurdo! Isso não é coisa de uma cidade supostamente moderna, como se pretende Sorocaba, que se diz cidade educadora. para ter educação tem de ter cultura”.

O produtor ainda lembra das baratas: “Para se ter uma ideia, durante uma apresentação, Denise Stoklos chegou a matar uma barata no palco”.

Marco faz apenas uma ressalva, com relação ao piso do teatro, que foi reformado há dois anos. “Estava destruído, então foi a melhor coisa feita...”.

Secretário esclarece

O secretário de Cultura, Anderson Santos, por meio de sua assessoria de imprensa, afirma que o Teatro Municipal “Teotônio Vilela” tem sua manutenção programada para o mês de janeiro, anualmente, quando são realizados serviços de manutenção nas redes elétrica e hidráulica, equipamentos e poltronas. A Secretaria da Cultura já está verificando as necessidades do teatro, a serem orçadas para 2010 e analisadas de acordo com os recursos disponíveis.

Quanto ao valor destinado à manutenção, a Secretaria da Cultura afirma que não existe uma verba igualitária para a realização da manutenção. Ela pode variar de exercício para exercício. Durante as últimas manutenções, por exemplo, houve substituição do piso do palco, reparos na rede elétrica e hidráulica e manutenção dos camarins. “Cabe informar que os equipamentos de som foram adquiridos em 2008, bem como o restauro do piano, realizado em 2007”, ressalta a assessoria.

Com relação aos apontamentos dos usuários, a explicação sobre os vazamentos de água e gotejamentos no piso inferior se devem à infiltração decorrente de o Teatro Municipal ter sido construído abaixo do nível do lago e em cima da nascente existente no local: “Uma bomba de expulsão trabalha 24 horas por dia para evitar que a água ocupe o subsolo do teatro”.

Quanto ao piso superior, trata-se de uma área de serviço e não se destina a camarins. Ainda segundo a assessoria, o alçapão que havia no palco deixou de existir com a substituição do mesmo. Sobre a iluminação, os refletores estão em estrutura das varas fixas, não há polias, portanto os iluminadores necessitam mesmo utilizar escadas pra afinar as luzes para os espetáculos.

Questionado se existe planejamento para a reforma do local, a resposta é que não existe previsão de reforma do Teatro Municipal para 2010, pois não há verba para isso. Será realizada a manutenção que for possível. “Importante ressaltar que uma reforma estrutural implicaria o fechamento por um longo período. Como exemplo, podemos citar as duas reformas já realizadas: 1990 e 2001, ambas mantiveram o teatro fechado por um ano”, esclarece o texto enviado pela Secretaria da Cultura.

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 14/10/2009
Código do texto: T1865773