Manifesto pela Desordem no Rio de Janeiro

Quão curiosa pode ser a situação do Rio de Janeiro nos últimos dias?

O Rio de Janeiro é minha cidade natal, de onde nunca saí. Vivo na Zona Oeste onde, ao lado da Baixada Fluminense, é o local mais feio e esquecido de todo o estado.

Trabalho de segunda a sábado no centro desta cidade. Para sair de meu bairro, Bangu, e chegar até a Central do Brasil, eu tenho duas escolhas: o ônibus ou o trem.

O inferno ou as trevas.

Hoje não quero falar sobre o ônibus – esse assunto me traz sérias dores de cabeça. Eu opto quase sempre pelas trevas, que atende atualmente por Supervia, a gestora das ferrovias da minha cidade. Esta empresa tem um sério problema, ao meu ver, no que diz respeito à lógica. Ela consegue aumentar o valor das passagens e DIMINUIR a eficiência do serviço.

Para a Supervia, o ser humano pode ser um usuário perigoso. Isto porque, há alguns milhões de anos, o ser humano adquiriu a capacidade de pensar. De raciocinar. E é aí que mora o perigo: o ser humano pensa, mas não consegue deixar o seu instinto de lado. Ainda há, aqui dentro, um predador que não se conforma.

Eu não sou o único morador da Zona Oeste. Existem outros milhares embarcando nos trens todos os dias. Existem milhares de pessoas enchendo os bolsos da Supervia todos os dias. Mas está muito claro que este dinheiro todo não está sendo usado da maneira correta. Vou dizer por quê:

- Saio de casa às 6:15 da manhã, visando embarcar no trem parador que sai de Bangu às 6:55 (Parador? Sim, claro... o trem direto que parte de Santa Cruz chega em Bangu tão cheio que eu me pergunto se ele está realmente transportando trabalhadores ou gado);

- O trem chega e a correria começa. Tudo porque a Supervia decide, partindo de algum critério a mim desconhecido, enviar trens de quatro vagões. Quatro vagões! Algumas vezes mandam trens maiores, há de se admitir, mas você sai de casa sem ter essa certeza. Se você for estudante de Direito, por exemplo, e quiser ler um daqueles singelos compêndios de mil páginas, pode se preparar pra uma maratona (até se estiver sentado);

- O limite foi o trem que enguiçou, semana passada. Durante duas horas a Supervia cancelou os trens, abarrotando o trânsito por tabela, em um dia chuvoso.

Rebelião!

Sejamos justos, a culpa não é só da Supervia. Mas de quem é a culpa? A matemática é tão simples que me espanta que estes seres humanos ainda não tenham chegado a esta conclusão:

- O problema dos trens começou com a questão das vans. O governador Sérgio Cabral e seu subcomandante Eduardo Paes proibiram a circulação de maior parte das vans LEGALIZADAS do Rio de Janeiro, afirmando que esta medida desafogaria o trânsito na cidade. Muito pelo contrário: a medida não só não desafogou como fez com que o trânsito mais parecesse um tsunami. E “curiosamente” a medida ainda beneficiou um aparentado de Sérgio Cabral, chamado Jacob Barata, barão das linhas de ônibus intermunicipais da cidade;

- A questão das vans começou com a eleição desta dupla dinâmica. Um adora destruir a vida apertada do trabalhador. Faz vigorar a lei destruindo a tradição dos vendedores de rua e, não só isso, não cria nenhuma expectativa de futuro para os mesmos. Agentes municipais turrões melindram os camelôs que, indefesos – sem uma criação cultural e digna para se defender – deixam de levar o alimento para casa, ao menos no dia do tal melindre. O outro, ao se deparar com uma revolução, um momento único na vida do brasileiro onde este por fim decide agir contra sua própria apatia, diz que os autores de tal bagunça não passam de uns vagabundos. Como assim? Munidos de marmitas nas mochilas, arrumados e às cinco horas da tarde... estas pessoas devem ser classificadas como vagabundos?

- A eleição de Sérgio Cabral e Eduardo Paes começou com o povo. Os seres pensantes que classifiquei no início deste manifesto. O povo coloca os homens lá em cima, e os confrontam quando se faz necessário.

O povo é o principal culpado.

E as principais vítimas, os topiqueiros (motoristas de vans) – os mesmos que também ajudaram a colocar os governantes lá – dizem que a situação vai melhorar, pois ano que vem Anthony Garotinho com certeza será eleito o novo governador do Rio de Janeiro.

“Garotinho vem aí!” dizem eles.

Conclusão: o povo é primitivo, inteligente, e sofre de um sério problema de AMNÉSIA.

Diego Risan
Enviado por Diego Risan em 11/10/2009
Código do texto: T1859844