SORRIA, BRASIL!

Pode parecer para nós mesmos - para nossa própria irritação! - que somos idiotas natos por fazer do futebol (leia-se Seleção Brasileira) um ícone, uma paixão, um símbolo nacional, como há pouco comentou o Galvão Bueno. No entanto, somos assim. É o jeito! Ou negue alguém que, por mais tenha tentado dar uma de durão - ironizando, xingando, culpando, ou mesmo usando o escapismo de comemorar, com um tipo de bom humor masoquista, a vitória francesa, a vontade real não tenha sido a de chorar de raiva? Quem nega que o nó cego na garganta não está falando alto até agora? Negue alguém que não gastou ao menos uma boa meia-hora imaginando os malditos por quês?! Por que a inércia? Por que Parreira parado como uma estátua, sem reações ditas humanas, sem interagir com os jogadores do lado de fora do campo, como aliás fez nos outros jogos, junto com toda a comissão técnica? Terá sido maldição, ou maracutaia das mais sombrias?!

Não adianta! Não conseguimos esconder a verdade de nós mesmos! Ficamos ruminando; e ainda ficaremos por vários dias, a menos em se tratando de confessos não apreciadores do futebol, como raros brasileiros são!

Tomada como todos pela gastura e pasmaceira comum aos cento e oitenta milhões de brasileiros chocados deste instante, não tenho muito a falar - mas é que, de repente, me lembrei: há muitos anos atrás, na hora de um desgosto cavalar que me fez afundar num mar de lágrimas inesgotáveis, alguém - um amigo, e na época bem novo - tomou uma providência instintiva, instantânea, para acalmar aquela minha crise. Movido puramente por intuição, já que tempo nem havia para se ponderar. De um sexto andar de um apartamento do Rio, arrastou-me, gentilmente, à visão panorâmica que se dispunha de uma das janelas dos quartos para o horizonte vasto à frente, dando vista para todo um bairro. E, como num passe de mágica, aquele banho de amplidão sustou, de abrupto, o meu acesso!

Fico projetando aquele efeito miraculoso de tantos anos atrás ao banho inconsolável de lágrimas do brasileiro nessas situações, e no dia de hoje. E concluo que a solução é empregar, na medida do possível, o mesmo método: se forçar a sair do hipnotismo, do confinamento sensorial que uma Copa do Mundo provoca no Brasil! Buscar, com urgência, as janelas, o respiradouro para o mundo do lado de fora dos campos da Alemanha, muito mais vasto; para o país continental, a fim de se enxergar a vida sob o prisma verdadeiro!

Papai Noel não veio desta vez; não trouxe o hexa! Falhou a engrenagem do trenó! Esperemos a próxima; quem sabe o presente não vem?!

Assim, olhemos das janelas mais altas para enxergar o todo do panorama! Amanhã brota uma nova flor no nosso acanhado canteiro; os do nordeste brasileiro que contemplem, com êxtase, a maravilha gratuita de suas paisagens naturais (que eu conheço bem), quadros divinos, que não dependem que outrem lhos ofereça para que deles se usufrua!

De norte a sul do Brasil, amanhã é domingo de inverno em panoramas magistrais! Procuremos as praias, sob o sol ameno da estação do ano! Deliciemo-nos com o chimarrão do sul, ou com o vatapá na Bahia! Curtamos os amigos nos shoppings, ou nas montanhas pródigas dos horizontes imensos do nosso país!

Não sabemos apenas jogar bem o futebol em Copas do Mundo! Por aqui também o fazemos, o que rende eternamente craques para fora do Brasil! O Brasileirão vem aí! Então todos aos estádios, para continuar com as festas de torcida mais belas de que se tem notícia em todo o mundo - mas, claro, na paz!

Sabemos dançar, sabemos festejar, sabemos lutar, e exercitamos como ninguém a superação das dificuldades, de dia para dia. O brasileiro é, pois, um guerreiro nato! Porque após as pequenas batalhas diárias, nutre-se do seu bom humor e disposição, consciente das guerras do amanhã!

Assim, meus queridos, apaixonados torcedores, façamos o que, entre tantas outras qualidades e talentos, temos de melhor: sorrir! Sabemos sorrir como ninguém, em meio às adversidades do dia-a-dia!

A perda do Hexa foi apenas mais uma; mas isso não tem que significar o fim dos sonhos, e nem mesmo um escolho dígno de turvar a nossa extensa e promissora história; e quem a constrói somos nós, com as nossas reações!

Sabemos como niguém transformar dor em alegria, infortúnios em descontração, atropelos em forças!

Sabemos sorrir; isto muda tudo!

Então, sorria, Brasil!

Com amor,

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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 01/07/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T185857
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