Piratas do mar da tinta (1)

É provável que o ditado popular actualmente mais aplicável seja: “Quem o alheio veste na praça o despe.” Todos os dias a comunicação social, com o seu poder mediático, desnuda notabilidades no amplo terreiro da opinião pública. Algumas, como as gravadas por Fídias, já afeitas a serícias vestes.

Quando são produzidas estas paupérrimas linhas, como tormentosa mas oportuna intercadência, um outro anexim se impunha: “Pensa muito, fala pouco, escreve menos.”

A sabedoria popular tem razões que a razão desconhece!

Como é simples perceber, os meus escritos são marchetados por inúmeras citações. Eu poderia, sem grande esforço, alterar a sintaxe a meia dúzia de frases, embutir uns quantos palavrões e neologismos, ficando com o labéu pomposo de escritor. Mas, como me referia o saudoso ensaísta Cruz Malpique, depois de tantos milhões de páginas escritas desde que o papel nasceu (e antes!), quem ousa garantir a originalidade vernácula? E, sorrindo de próprios e alheios plágios, intitulava-se “pirata do mar da tinta”!

As notas de rodapé, sobremaneira em textos desta natureza, ou distraem o leitor para assuntos colaterais ou, em alternativa, não servem para nada.

Mas estejam os leitores descansados que a copiosa bibliografia há-de vir um dia a lume e ficará de César o que for de César, incluindo a seriedade da mulher (dele).

Salvador Dali autoriza-me a transcrever tudo quanto leia para trazer ao leitor vivências. “Aqueles que não querem imitar ninguém não produzem nada”, escreveu ele. Mas o génio de Figueres lança-me um repto ainda maior: “A única coisa de que o mundo nunca se vai fartar é de escândalo”.

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 09/10/2009
Reeditado em 14/10/2009
Código do texto: T1856834