A NEUROSE DO PARAISO PERDIDO

O tema dessa reflexão é uma contribuição de Pierre Weil, foi assim que ele intitulou um de seus livros. O citado livro me encantou pela leveza com que fala de realidades psicológicas tão intensas que ocupam o imaginário da raça humana envolta em seus dilemas.

Na verdade, parece que de uma forma ou de outra todos nós temos uma certa neurose pela idéia de um paraíso perdido, um lugar paradisíaco de onde fomos expulsos e para onde anelamos voltar. Talvez seja um sonho oculto, interiorizado desde a mais tenra idade em nosso ser; ela ocupa a nossa imaginação nos fazendo sentir culpados pela sua perda. Como seria bom se pudéssemos voltar ao paraíso? Qual o caminho para esse lugar de delícias? De certa maneira consciente ou inconsciente acredito que todos nós já nos sentimos órfão desse lugar paradisíaco.

Não vejo problemas em sonhar com um lugar assim, afinal a fantasia faz parte da vida de todos nós e não custa nada sonhar. O problema é quando a idéia do paraíso vira neurose e passamos a viver com olhos voltados para um passado imaginário acreditando que um dia de lá fomos expulsos, quando a nostalgia do Jardim do Édem assume um caráter psico-histórico, adotando um tom melancólico, representado pela eterna perda da liberdade; e aquilo que deveria ser um sonho passa a existir como fantasia, como ilusão e delírio, nos impedindo encarar o presente, de olhar para frente como forma de perseguir na busca de novos ideais.

De onde vem essa obsessão pelo paraíso perdido? Talvez esteja no inconsciente coletivo da ração humana, ela permeia o horizonte de quase todas as religiões e ainda persiste nas culturas modernas. Creio que essa neurose obsessiva funciona como um desejo invertido, ela representa um ideário de uma sociedade perfeita, um projeto de plena realização humana uma quimera impossível. A pergunta que resta é uma só; o paraíso terrestre é saudade ou esperança? Ele esta no passado ou no futuro de todos nós? Em última instância, a neurose do paraíso perdido não seria também a neurose de um paraíso desejado e jamais alcançado. Estou convencido de que o paraíso é produto de nossos desejos, ele é perdido ou encontrado todas as vezes que olhamos para além do imaginário, para a concretude da nossa existência, é lá que o paraíso se encontra, ou não. Permanecer ou ser expulso do paraíso é simplesmente o dilema de curtir ou perder a liberdade.