Deus precisa de ti
DEUS PRECISA DE TI!
Hoje, quando cheguei aqui, me chamou a atenção uma música, de formatação para-litúrgica, que vocês cantavam, cuja letra simples diz que “Deus precisa de ti, muito mais do que possas imaginar...”. Como a letra da música é correlata com o tema que eu queria abordar, estabeleci alguns paralelos buscando estabelecer a responsabilidade de cada um na tarefa missionária, na evangelização e na difusão dos valores do Reino. Pois a mencionada letra quer expressar a todos nós o que agente já sabe: Deus quer nos usar, quer se utilizar de nós, de todo o nosso potencial, em seu trabalho de derramar amor, paz e bênçãos sobre a humanidade. Nós somos chamados a ser agentes disto.
Deus precisa de ti
muito mais que possas imaginar...
precisa de ti
muito mais que das estrelas,
precisa de ti
muito mais que do mar,
precisa de ti...
A minha Igreja, infelizmente é mais litúrgica (sentada) do que missionária (dinâmica). A gente fala em desenvolver um “projeto missionário”, ir à rua a procura das “ovelhas desgarradas”, de levar o evangelho àqueles que ainda não conhecem a boa-notícia, todos acham maravilhosa a idéia, mas tudo fica na mesma. Os que vêm à igreja não precisam tanto ser evangelizados quanto os que estão lá fora, e que são a maioria.
É difícil desinstalar as pessoas e as estruturas. Ficamos sentados, esperando que eles venham à missa, à novena e pagar o dízimo e não saímos de porta-em-porta a anunciar a novidade do Reino. Enquanto isto as seitas (eu assisti nesta semana na tevê) festejam a presença de 50 mil pessoas numa jornada de avivamento. Sabem de onde saíram essas pessoas? De nossos templos!
Deus precisa de ti, muito mais do que possas imaginar...
O fato é que Deus precisa de nós, ele quer nos “usar” apara desenvolver seu projeto no mundo, e nem sempre pode contar com pessoas disponíveis. Por que será? Preguiça? Descrença? Falta de coragem? Inexistência de verdadeiros líderes cristãos? Falta de objetivos definidos? Eu não sei...
O caso é que Deus desde todo o sempre chamou pessoas, homens e mulheres, crianças, jovens e idosos para trabalhar nas suas obras de plantio, conservação e colheita e nem sempre pode contar com a nossa disponibilidade. Dizem por aí que ele não chama os capazes, mas capacita os chamados. Desde o começo ele designou profetas para esse trabalho:
Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci;
antes que fosse dado à luz, eu o consagrei para fazer de você
um profeta das nações (Jr 1, 5).
Quando se fala em trabalhar nas coisas do Reino, ajudar a regar a semente e profetizar, a idéia que surge é que essas tarefas são uma exclusividade das hierarquias religiosas, como se o batismo não conferisse a todos os cristãos a tríplice missão de servir, santificar e profetizar. Os profetas eram todos leigos. Não consta que Deus tenha vocacionado alguém de dentro dos templos, dos palácios ou das sinagogas. Os profetas saíram sempre do meio do povo.
A grande questão é que muitos não sabem identificar um profeta nem valorizar o seu trabalho. As pessoas acham que só o padre ou o pastor é profeta. O padre, por sua vez, afirma que só o bispo é profeta, e a coisa tranca por aí. Alguns atribuem aos leigos, em função da tríplice missão batismal, o múnus profético, mas os deixam restritos a funções inexpressivas, secundárias, como meros sacristãos-crescidos.
Eu, pessoalmente, não posso me queixar, pois sou chamado a fazer homilias, pregar retiros para bispos, padres e leigos, e falar em novenas e romarias, ministrando cursos de teologia e temas correlatos, por todos os quadrantes do Brasil. Mesmo assim, há um certo ciúme.
Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés. Retirou um pouco do espírito que Moisés possuía e o deu aos setenta anciãos. Assim que repousou sobre eles o espírito, puseram-se a profetizar, mas não continuaram. Dois homens, porém, tinham ficado no acampamento (...). O espírito pousou igualmente sobre eles (...) e eles profetizavam no acampamento. Um jovem correu a avisar Moisés que eles estavam profetizando. Josué (...) disse: “ Moisés, meu Senhor, manda que eles se calem!” Moisés respondeu: “Tens ciúme por mim?” Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito” (Nm 11,25-29).
No tempo de Jesus o ciúme também rondou os apóstolos, que vieram dizer a Jesus que haviam proibido um homem que não fazia parte do grupo de expulsar demônios em nome do Mestre. A resposta é notável e pedagógica:
Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome, e
depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós está a
nosso favor (Mc 9,39)
Esse ciúme, medo de perder prestígio ou alguma posição é que enseja um certo boicote a quem poderia colaborar mais. Vejo, contristado, que outros leigos instruídos são excluídos de trabalhos mais profundos, como pregação em novenas, romarias, etc., em favor de outros, de oratória sofrível e formação doutrinária deficiente, apenas porque pertencem à hierarquia.
O fato é que Deus sempre precisou dos seres humanos. Se forem profetas, missionários ou mestres, melhor ainda. Se é verdade que ele se basta a si próprio, também é verdadeira a convicção que ele sempre preferiu contar com a ajuda de cada um de nós. Compreender a missão é entender o mistério da teologia da criação. Deus criou o mundo e o deixou inacabado. Não por desleixo nem esquecimento, mas para que os homens fossem os ajudantes da criação. Ele cria, mas somos nós que ficamos encarregados de zelar, pelas coisas materiais, pela natureza do planeta e também pela harmonia entre as pessoas.
Ao colocar o homem como “zelador” do planeta e dos demais seres, ele nos chama e envia para essa missão, plena de responsabilidade, doação e complexidade. Hoje fazem muitas “reuniões” por aí, onde fica “tudo combinado e nada resolvido”. é como diz um conhecido teólogo brasileiro: “Afiam muito as facas mas até agora não cortaram nada”. A resposta que Deus dá ao profeta quanto à essência do envio, também se aplica a cada um de nós:
Ouvi, então, a voz do Senhor que dizia: “Quem é que vou
enviar? Quem irá de nossa parte?” Eu respondi: “Aqui estou.
Envia-me!” Ele me disse: “Vá, e diga a esse povo: Escutem...”
(Is 6,8s).
A partir da constatação que Deus precisa de nós, me ocorrem quatro perguntas que são capazes de balizar nosso raciocínio:
1. A quem Deus quer usar?
a) A quem, como o profeta Isaías, teve uma experiência profunda e transformadora do poder de Deus, tornando-se limpo de todo o pecado;
b) Aos dispostos a escutar a sua voz; a quem não tem má-vontade;
c) A quem quer ser usado; a quem se mostra disponível ao chamado;
d) A quem se submete à sua vontade; a quem faz do jeito que o Senhor quer; mas afinal, o que ele quer de nós?
• Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm 2,4);
• A vontade de Deus é que vivam consagrados a ele, que se afastem da libertinagem, que cada um saiba usar o próprio corpo na santidade e no respeito, sem deixar-se arrastar por paixões libidinosas, como os pagãos que não conhecem a Deus (1Ts 4,3ss);
• Não se embriaguem com vinho, que leva para a libertinagem, mas busquem a plenitude do Espírito (Ef 5,18);
• Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria. Isso é o que atrai a ira de Deus sobre os rebeldes. Outrora, também vocês eram assim, quando viviam entre eles. Agora, porém, abandonem tudo isso: ira, raiva, maldade, maledicência e palavras obscenas, que saem da boca de vocês. Não mintam uns aos outros. De fato, vocês foram despojados do homem velho e de suas ações, e se revestiram do homem novo que, através do conhecimento, vai se renovando à imagem do seu Criador (Cl 3,1-10);
• Como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. Cada um perdoe o outro, do mesmo modo que o Senhor perdoou vocês. E acima de tudo, vistam-se com o amor, que é o laço da perfeição. Que a paz de Cristo reine no coração de vocês. Para essa paz vocês foram chamados, como membros de um mesmo corpo. Sejam também agradecidos (Cl 3, 12-15).
e) É preciso saber que Deus usa a quem ele quer:
• O nosso Deus está no céu, e faz tudo o que deseja (Sl 115,3).
Nesse aspecto é salutar não ter inveja das escolhas de Deus, do tipo: Por que Deus usa a este? eu sou mais santo, por que ele não chamou a mim? Tenhamos sempre em mente que os caminhos de Deus são diferentes dos nossos caminhos: ele não vê como o homem vê.
2. Quais os objetivos de Deus em querer me usar?
a) Porque todas as vezes que Deus usa alguém, o primeiro favorecido é aquele que é usado, pois se torna alguém “coberto de bênçãos”, senão, vejamos alguns, entre tantos:
• Noé
• Abraão
• José, filho de Jacó
• Daniel
b) Deus quer te usar porque ele quer te abençoar! Quer te usar para você se converter em um instrumento para a transformação dos homens;
c) Deus tem coisas que ele quer entregar só a você, como, por exemplo, procurar as coisas do Alto:
• Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos, e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo se manifestar, ele que é a nossa vida, então vocês também se manifestarão com ele na glória (Cl 3,1-4).
3. Onde Deus quer que eu atue?
a) Através de prioridades geográficas, conforme Jesus determinou:
• Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra (At 1,8).
b) Onde estariam essas prioridades?
 Jerusalém
Tua casa, tua família, teu bairro;
 Judéia
Teu ambiente de trabalho, tua igreja;
 Samaria
Locais mais próximos, cidades, estados;
 Confins da terra
Lugares mais remotos e distantes.
Hoje existem missionários e profetas, leigos como nós, que atravessam o país e vão até outras nações para pregar a “vida nova” em Cristo. Outros utilizam os meios-de-comunicação para esse propósito.
4. O que eu tenho que fazer para me tornar um instrumento de Deus?
a) Converter-me;
b) Mudar de sentimentos;
c) Instruir-me a respeito da doutrina cristã;
d) Organizar minhas prioridades;
e) Dar um vigoroso testemunho de vida cristã.
Eu falei em “quatro perguntas”, mas me ocorreu outra: talvez a mais importante!
5. Quando devo atuar?
A resposta parece ser uma só: AGORA!
A demanda da necessidade é que faz a gente se aprimorar. Nem tudo que se enfrenta, pode ser modificado, mas nada pode ser modificado, até que seja enfrentado. é no agora que precisamos colocar nossa coragem e nossa determinação. Não se vence nenhum desafio sem persistência, fé e desejo de vitória. Nas Escrituras temos várias admoestações que apontam para a insistência no trabalho missionário e profético:
• Proclame a Palavra, insista no tempo oportuno e inoportuno, advertindo, reprovando e aconselhando com toda paciência e doutrina (2Tm 4,2).
Nas palavras do Coélet há uma advertência no sentido de discernirmos que há um tempo para cada coisa (cf. Ecl 3, 1-8). Deus conhece todos os momentos, por isso, ele que precisa de nosso trabalho, nos envia em missão. Jesus, mais tarde, nos alerta que a colheita para o Reino é iminente e não pode ser adiada.
Vocês não dizem que faltam quatro meses para a colheita? Pois eu digo a vocês: ergam os olhos e olhem os campos: já estão dourados para a colheita (Jo 4,34s).
Por que agora? Porque os campos estão prontos, o fruto maduro na terra não pode esperara mais. Não são aceitas mais desculpas, do tipo “eu preciso me preparar”, ou “vou estudar Bíblia ou a Sagrada Teologia”. Não! Não dá mais para adiar a atitude do cristão! A hora é agora!
Saindo da simbologia plantio/colheita, vemos no aspecto concreto que este é como disse São Paulo, “um tempo de conversão e um dia de salvação” (2Cor 6,2). É preciso que os cristãos sejam agentes de anúncio e testemunho do evangelho, pois há muitos irmãos nossos, em todos os ambientes, necessitando dos consolos da Palavra de Deus.
Comportem-se dessa maneira, principalmente porque vocês conhecem o tempo, e já é hora de vocês acordarem: a nossa salvação está agora mais próxima do que quando começamos a acreditar (Rm 13,11).
É a necessidade que faz a gente se preparar. Prestem atenção a estas palavras de profecia: “estou dizendo estas coisas para vocês que me ouvem (e me lêem). Deus quer fazer uma coisa notável aqui!”. Ele precisa de vocês! Não tenham medo! Não sintam vergonha! Não se deixem acovardar! Deus precisa de todos nós!
Jesus orou ao Pai pela unidade da sua Igreja (cf. Jo 17) e pela perseverança de todos os seus discípulos. Desde a Antiguidade o salmista reconhece como é salutar a unidade centrada em torno dos mesmos ideais espirituais.
Vejam como é bom, como é agradável os irmãos viverem unidos. É como óleo fino sobre a cabeça, descendo pela barba, a barba de Aarão; descendo sobre a gola de suas vestes. É como o orvalho do Hermon, descendo sobre os montes de Sião. Porque aí Javé manda a bênção e a vida para sempre (Sl 133, 1ss).
Na verdade, eu poderia ter falado ou escrito outras coisas, ou para outras pessoas, mas creio – tenho certeza – que Deus quis que eu falasse/ escrevesse este texto que fala da necessidade de nos tornarmos disponíveis à realização do projeto de Deus. Esta alocução/escrito converte-se em palavras proféticas. Foi escrito para você como bênção e missão.
Deus precisa de ti muito mais que possas imaginar
Deus teu um projeto, justo e amoroso, para mim, para você, para todos nós. Ele quer que o homem seja marido, pai, amigo, irmão; à mulher é solicitado um papel de luz e equilíbrio do lar; aos idosos, a uma missão de enriquecer a família e a sociedade com a experiência, conselhos e bons exemplos. Tudo inflete no sentido de tornar os jovens o futuro das famílias e da nação.
Na XXIII Jornada Mundial da Juventude, ocorrida em Sidney, na Austrália, em 2008, o Papa Bento XVI assim se pronunciou:
É este o amor, o amor de Cristo ao qual o mundo aspira. Deste modo, sois chamados a “ser suas testemunhas”. Alguns de vós tendes amigos com escassa motivação real nas suas vidas, talvez envolvidos numa busca fútil de experiências infinitamente novas. Levai-os também convosco para a Jornada Mundial da Juventude! Com efeito, observei que, contra a onda de secularismo, numerosos jovens estão a redescobrir a busca satisfatória da beleza, da bondade e da verdade autênticas. Através do vosso testemunho, vós podeis ajudá-los na sua procura do Espírito de Deus. Sede corajosos neste testemunho! Esforçai-vos em vista de propagar a luz orientadora de Cristo, que dá motivação a toda a vida, tornando possível para todos a alegria e a felicidade duradouras.
Lamentavelmente, as estatísticas mundiais informam que de cada quatro jovens do mundo, um está corrompido pelas drogas ou pelas bebidas de álcool, numa das maiores perversões morais de todos os tempos. Que sucesso terá uma sociedade se aqueles que podem ser seu futuro estão de tal forma desvirtuados?
Para coibir os desmandos de sua sociedade, o profeta prega bênçãos, vitória, necessidade de mudança, a eficácia dosa valores morais e compromisso com o Reino dos céus.
Das tantas perguntas que fiz aqui, ainda pode surgir mais uma, quem sabe a derradeira: A quem iremos? Quem será o destinatário de nosso trabalho missionário?
• Pessoas afastadas do evangelho;
• Quem não vai mais à igreja (as ovelhas desgarradas da casa
de Israel);
• Aqueles que perderam a fé e a esperança;
• As famílias em dificuldade.
Deus precisa de ti muito mais que possas imaginar
Mas cuidado! O trabalho é árduo e a missão cheia de obstáculos. Alguns sentirão inveja e ciúmes de você. Coisinha chata é ciúme e boicote dentro da comunidade! Outras pessoas, sistemas ou estruturas podem estar querendo usar você para o mal. Cuidado, pois!
Sempre que a gente começa a denunciar certas posições contrárias ao evangelho, os adversários inventam histórias, atacando a Igreja, a pessoa de Cristo (a quem, como os espíritas, é negada a divindade) e aos ministros, pastores, profetas e agentes de pastoral. é bom que todos saibam que o nosso Deus está vivo!
É um homem que “cobra” de nós uma atitude. Mesmo diante dos obstáculos do Maligno, o cristão é chamado a ser luz. “Que a luz de vocês brilhe...” (Mt 5,16). A pertença a Cristo a partir do batismo nos torna membros de sua Igreja:
Vocês pertencem ao edifício que tem como alicerce os apóstolos e profetas; e o próprio Jesus Cristo é a pedra principal desta construção. É sobre Jesus Cristo que toda construção se ergue bem ajustada, para formar um templo santo do Senhor (Ef 2,20s).
Ao apóstolo e profeta é pedido esforço de anunciar o Reino e dar testemunho da verdade que brota do Deus Uno e Trino.
A mim, o menor de todos os cristãos, foi dada a graça de anunciar aos pagãos a incalculável riqueza de Cristo, e de esclarecer a todos como se realiza o mistério que esteve sempre escondido em Deus, o criador do universo (Ef 3,8s).
Deus precisa de ti muito mais que possas imaginar
É preciso, mais do que nunca, parar de ficar enclausurados dentro de quatro paredes, em cultos que mais servem para alisar egos de sei-lá-quem. Enquanto estamos dentro dos cultos e das atividades litúrgicas, embalados por cantos e rezas, lá fora cerca de 100 milhões de pessoas estão se perdendo, renunciando á graça do seu batismo, indo para o inferno. Pessoas que, dentro do aplano deus, precisam de nós, carecem de serem libertas.
É bom que a gente saiba que o evangelho não tem “agente secreto”. Ele precisa ser anunciado de forma escancarada, sem vergonha. Não cabe a nós uma atitude envergonhada, encolhida, anônima. Como vamos mudar se somos apáticos? Deus precisa de nós como instrumento de mudança e renovação na família, na Igreja, na sociedade.
Deus precisa da Igreja! Ele quer que ela seja um meio de santificação, de renovação (a partir do seu interior) e de retomada da verdadeira espiritualidade. É certo que Deus quer usar a Igreja. Estamos prontos? Somos unidos? Nossa vida é um testemunho vivo da boa notícia da salvação? Estamos aptos para ser os agentes das transformações necessárias. Ou somos “agentes secretos”, anônimos, escondidos? Somos sinais do Reino de Deus, ou pobres sinais da mediocridade e da indiferença? Quando Deus perguntar: A quem enviarei? Que se escute nossa voz, forte e decidida:
Envia a mim, Senhor!
A questão inicial aparece com um a quem, para exprimir uma idéia indefinida. Ao perguntar a quem enviarei ocorre uma indagação impessoal, sem um agente definido. Quando respondemos “envia a mim” estamos personalizando nossa opção pelo plano de Deus, afinal Ele precisa de nós, de mim, de ti, de todos nós. A quem enviarei é genérico; envia a mim é especifico.
Em um mundo cruel e egoísta, a vida vem cedo sendo, anos afora, terrivelmente coisificada. O ser humano é número, cifra, dado estatístico, coisa. O cinema e a televisão tem estabelecido uma banalização da vida. Nos filmes de Rambo, Bradock ou Shwarzenegger, o herói mata centenas de inimigos e a platéia vibra de emoção. Para nós, hoje, a vida humana vale pouco. As notícias dos jornais são frias: foi achado um corpo na rua tal. Na verdade, esse corpo, teve alma, uma história, família, sentimentos, projetos, mas com a morte se converte apenas em uma idéia disforme e fria.
A distorção dessa banalização, que é um pecado grave contras as criaturas de Deus, aparece na própria legislação do país. Matar um mico-leão-dourado é crime inafiançável. Se alguém matar uma pessoa, dependendo da defesa, não vai preso, ou é liberado logo em seguida. Esta é uma situação de pecado que caracteriza nossa sociedade, da corrupção, dos desrespeito e da impunidade.
A mídia faz um auê, denunciando “estão matando baleias!”, enquanto o Congresso Nacional quer liberar o aborto, um crime contra o ser humano indefeso e inocente. E a gente fica quieto, nao diz nada...
O nosso ser-profeta nos impele a uma atitude radical. Profeta, independente do estado de vida de cada um, é uma pessoa decidida que anuncia (o Reino), denuncia (os obstáculos ao plano de Deus) e anima a comunidade (para retirá-la do marasmo usual). Existe outra musiquinha (encontra-se no livro de cantos da RCC) que se canta em encontros de jovens que também se adapta bem ao tema de hoje:
O Senhor necessitou de braços
para ajudar a ceifar a messe
e eu ouvi seu chamado de amor
e então respondi: aqui estou, aqui estou!
Quem sabe depois de escutar esta pregação ou lê-la mais tarde como texto, sob a inspiração do Espírito Santo, a gente tenha a coragem de bradar bem alto:
ESTOU AQUI, SENHOR, ENVIA-ME!
Resumo da pregação levada a efeito em retiro espiritual realizado na cidade Londrina, PR, em setembro de 2008. O autor é Doutor em Teologia Moral e biblista, com especialização em exegese.