Um jogo de “nerds”?
A sigla “RPG”, quando não se refere a um tratamento fisioterápico, costuma ser associada a pessoas com pouco convívio social, poucos amigos, que costumam perder horas e horas diante de computadores e que não fazem mais nada na vida além de se preocupar com seus jogos. Entretanto, o RPG não é como muitos pensam.
O RPG, ou role playing game (em português, jogo de interpretação de papéis), foi criado no ano de 1974 por Gary Gygax e Dave Arneson, um escritor e um designer de jogos. O jogo surgiu como uma melhoria dos antigos jogos de guerra e estratégia de tabuleiro, e foi fortemente baseado na obra de John Ronald Reuel Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis. A proposta do jogo é explicada em seu próprio nome: interpretar papéis. O primeiro RPG, o Dungeons and Dragons (conhecido como D&D), possui temática medieval, e tem por objetivo ambientar os jogadores num cenário com diversos monstros das mais variadas mitologias, como a Celta, a Nórdica e a Grega.
Além do entretenimento, o jogo tem outras funções mais “didáticas”. Primeiramente, para que haja um jogo, é necessário que um dos jogadores se disponha a criar o cenário e a história, ficando esse jogador responsável por narrar o jogo. Todos os personagens não controlados por jogadores serão de responsabilidade deste indivíduo, denominado “Mestre” ou “Narrador”. O jogo incentiva os jogadores a escreverem, criarem histórias, interagirem com pessoas, ou seja, estimula a criatividade. Há também a possibilidade de inserção de elementos históricos ou geográficos, o que deixa a história ainda mais rica. Por fim, como o jogo lida com relações interpessoais, que não podem ser determinadas com antecedência, estimula o raciocínio rápido diante do inesperado.
Contudo, o jogo é alvo de preconceitos, visto que uma parcela considerável da sociedade jovem prefere utilizar um sábado a noite para sair e festar, do que se reunir para passar uma noite inteira jogando dados e interpretando guerreiros medievais. Há também a confusão com os RPGs de computador, no qual o jogador interage com outros jogadores através da internet, o que faz com que muitas crianças e adolescentes percam várias noites de sono vidrados no computador. Evidentemente, como qualquer atividade realizada em excesso, os jogos de RPG devem ser controlados, mas um jovem que passa horas sentado diante de um computador não é diferente do garoto que mata aula para jogar futebol, ou da adolescente compulsiva por compras. São apenas atividades distintas, embora tais costumes não sejam vistos com preconceito ou repulsa. Compete à família educar as crianças e os jovens para que saibam distribuir seu tempo entre os estudos, esportes, leitura, e outras atividades recreativas, como o RPG.
De qualquer forma, o jogo tem mais prós do que contras. Incentivo à leitura, melhoria na comunicação oral e escrita e rapidez de raciocínio são apenas alguns dos benefícios trazidos por esse jogo que há mais de três décadas transforma meninos em heróis.
Felipe de Meira Bulek