O espiritismo não é cristão! (SERMO LIII)

O ESPIRITISMO NÃO É CRISTÃO!

l. O que é ser cristão?

2. Progredir por méritos próprios.

3. Morremos uma só vez ...

4. Jesus Cristo não é Deus?

5. Não é cristianismo!

1. O que é ser cristão?

Em cursos que tenho ministrado, por esse Brasil afora, seja em escolas, comunidades, movimentos eclesiais ou casas de formação, e este encontro não vai ser diferente, no sentido de provocar, sempre começo anunciando que o espiritismo não é cristão. Algumas pessoas, entre vacilantes e simpatizantes, logo estrilam, perguntando: “Mas como? Eu ouvi o Chico Xavier († 2002), falando em Jesus na tevê! Falar em Jesus Cristo não é ser cristão?”

O caso é que os ensinamentos Kardecistas negam o valor redentor do sangue de Cristo, derramado por nós. A redenção, o sacrifício vicário de Cristo na cruz, junto com a ressurreição, são os pontos mais elevados da doutrina cristã. Negá-los é rejeitar o próprio Cristo. A salvação não consiste apenas no perdão dos pecados, mas principalmente na comunicação da vida da graça, ou, no dizer de São Pedro, “na participação da natureza divina” (cf. 1Pd 1, 4). Sobre isso há uma interessante afirmação do Concílio Vaticano II:

Ninguém por si só e com as próprias forças se liberta do pecado e se eleva acima de si próprio. Ninguém se desprende em definitivo de sua fraqueza, solidão ou servidão. Mas todos necessitam de Cristo exemplar, mestre, libertador, salvador, vivificador.

O antigo catecismo, sob o qual muitos de nós iniciamos nossa caminhada na religião, na primeira metade do século XX abria com uma pergunta: o que é ser cristão? A resposta, a despeito do surgimento de novos catecismos e grandes avanços da ciência teológica, ainda é atual: ser cristão é crer e professar a doutrina de Jesus Cristo. Na Primeira carta de São João encontramos um forte argumento sobre a missão de Cristo:

Ele mesmo (Jesus) é a vítima de expiação pelos nossos

pecados; e não só os nossos, mas também os pecados do

mundo inteiro (1Jo 2, 2).

Os tantos equívocos do espiritismo se avultam de forma intolerável quando aquela “ciência” investe contra nosso ser-cristão, afirmado que Jesus não é Deus, mas “filho de Deus”, um simples “espírito de luz”, assim como - segundo aqueles postulados - seremos nós um dia. Do mesmo modo como rejeitam a divindade de Jesus e sua missão salvadora e redentora, igualmente negam a existência dos demônios que, por hora, são “espíritos inferiores”, de trevas ou obsedados, mas que no futuro, após muita evolução atingirão a luz, e serão iguais a Cristo.

Essa afirmação, totalmente equivocada, encontra-se na maioria dos escritos de Kardec, e – por desconhecimento – é negada pelos espíritas de origens católico-cristãs. De acordo com o que afirma Kardec, a salvação não vem pela graça nem pelo sangue de Cristo derramado na cruz, mas pela lei do carma, ou seja, pela reencarnação, pelo esforço de cada um de evoluir e purgar seus erros de vidas passadas. Sobre vidas passadas vamos falar outro dia...

2. Progredir por méritos próprios

Segundo nossos irmãos espíritas, tanto a expiação como o progresso espiritual devem ser méritos pessoais (eles chamam de “aprendizado”), conquistados por esforços próprios e não recebidos “de graça” em virtude de méritos alheios ou vicários. Cada um deve ser seu próprio redentor mediante intermináveis reencarnações. Mais um equívoco! A perspectiva cristã para nossa escatologia será a ressurreição, não a reencarnação. Por isso a Igreja, desde os primeiros séculos, fiel às Escrituras e aos ensinamentos de Cristo, há séculos professa: “Creio na ressurreição da carne...”. Jesus esclarece como será isso:

Sim, está é a vontade do Pai: quem vê o Filho e nele crê, tem

a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6, 40).

A respeito da propriedade da ressurreição, como autêntico dom de Deus, São Paulo, o apostolo dos gentios, adverte os cristãos de todos os tempos:

Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não

ressuscitou. E se ele não ressuscitou, vazia é a nossa pregação

e também vazia a fé que vocês têm (1Cor 15, 13s).

Nossa ressurreição será, pois, a atualização de todas as virtualidades que ainda estão ocultas em nós, como num grão de trigo que ainda não brotou. Os defensores das teorias reencarnacionistas, mesmo aqueles que se dizem cristãos, rejeitam a fé e a esperança na ressurreição.

Em seu afã de provar o improvável, os espíritas não cansam de afirmar que a alma, ao término de uma longa jornada de reencarnações, será um “espírito de luz”, sem corpo e - por conseguinte - sem ressurreição. Ora, sabemos, e a antropologia cristã nos esclarece, que o ser humano, em sua corporeidade, é uma realidade de corpo e alma. O ser sem alma é defunto, e a alma sem corpo é “assombração”.

A crença cardecista não aceita a união substancial entre o corpo e a alma, preconizada pela antropologia cristã. Segundo o ideário espírita, só existe resgate dos pecados cometidos se houver uma purificação (e um sofrer) no cumprimento do carma, limpando as culpas ocorridas em vidas posteriores. É Kardec, em uma de suas obras, quem diz:

O espiritismo nos ensina que a alma é independente do corpo, não passando esse de um temporário invólucro. A espiritualidade é sua essência. O corpo é apenas instrumento da alma para exercício das suas faculdades nas relações com o mundo material. Quando separada desse corpo, a alma goza mais livremente de todas as suas faculdades. A união da alma com o corpo, cumpridas aquelas primeiras necessidades, é totalmente prescindível. O progresso ocorre na vida do espírito.

Mais equívocos... mais incoerências! Através da Sagrada Escritura podemos ver, contrariando as teorias espíritas, que Deus sempre está pronto a receber e perdoar o pecador que se arrepende:

Felizes os misericordiosos, porque obterão misericórdia

(Mt 5,5).

Na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino, ao criticar o dualismo platônico, onde o corpo não servia para nada, sendo apenas uma prisão (soma-sema) para o espírito, lança as bases para aquilo que seria a antropologia cristã, onde o ser humano é corpo e alma inseparáveis, movido pela energia da graça de Deus.

3. Morremos uma só vez...

Jesus, encarnado como homem, nasceu da Virgem Maria e morreu sob a autoridade de Pôncio Pilatos. Isto faz parte de nossa profissão de fé cristã. Assim como Jesus morreu uma só vez (nem os próprios espíritos conseguiram levantar indícios de outra vida de Jesus, nem antes nem depois) também todos os homens morrem uma só vez. O que seria do grão de trigo, se estando maduro não fosse colhido? As palavras inspiradas de São Paulo, colocando um ponto final em toda a discussão, afirmam que se morre só uma só vez:

Os homens morrem uma só vez e depois disso vem o

julgamento (Hb 9, 27).

Depois da morte vem o julgamento e a ressurreição! Temos certeza disto! Este é um artigo da fé que professamos. Assim como Cristo morreu uma única vez, também o mesmo vai suceder conosco. Nós sabemos, temos certeza, que os mortos ressuscitam. Primeiro porque assim dizem as Escrituras (e elas não enganam nem fazem jogo de palavras); depois, porque temos certeza, por nossa fé, que Cristo padeceu, morreu ressuscitou. Ele foi o primeiro a ressuscitar. Sobre essa realidade, o anjo, junto ao sepulcro, foi bem claro ao instruir as mulheres:

Não está aqui. Ressuscitou! Por que vocês procuram entre os

mortos quem está vivo? ( Lc 24, 5s).

Quando o homem, no fim de sua vida, não pode fazer mais nada por si, Deus assume o timão. É hora de passar de uma vida para a outra e aceitar todo o bem e todo o perdão que ele quer gratuitamente conceder. A heresia cardecista nega a mediação libertadora de Jesus Cristo. Ela rejeita o cerne do cristianismo, a obra do Verbo que habitou entre nós para nos salvar. É lamentável que uma doutrina assim tão rica, como a Ressurreição, no entanto, não caiba no raciocínio dos reencarnacionistas.

De acordo com eles, devemos vir de novo a esta vida, reencarnar, principalmente por dois motivos: para expiar nossos pecados e para progredir sem cessar. Os autores espíritas tardios, como Imbassay, por exemplo, inspirados pelo codificador Kardec, na ânsia de expor suas indefensáveis teorias, adentram no limite da heresia:

Se conseguissem convencer-nos de que é isso o que a Bíblia

afirma, nós a negaríamos como falsa; e se nos provassem

que ela (a ressurreição) é autêntica, nós renegaríamos o

próprio Deus, porque não podemos adorar uma entidade

cujos sentimentos de amor, justiça e misericórdia sejam

inferiores aos nossos. E se há um Deus capaz de condenar

uma de suas criaturas a sofrer eternos horrores por uma

falta momentânea, cometida contra quem for, então esse

Deus está muito abaixo das solas dos nossos sapatos.

Nós (os espíritas) nos julgaremos, por isso, muito superiores

a um tal Deus!.

O conteúdo desta pregação, que faz parte de um livro que vou lançar no futuro, como é fácil depreender, situa-se no campo teológico, em ordem de fornecer subsídios aos cristãos, capazes de iluminar o confronto com as doutrinas espiritualistas que tanto pululam em nosso Brasil. Nosso objetivo ao elaborar este trabalho é o de orientar a reflexão e assim evitar certos desvios de fé.

Em face do avanço do espiritualismo em nosso meio, talvez por culpa nossa, teólogos, bispos, padres, agentes de pastoral e catequistas, é que se procura instruir o povo para que este, como diz São Paulo, não se conforme ao espírito deste mundo (cf. Rm 12, 2).

A escatologia católica, do jeito que é ensinada, baseada na interpretação dos Textos Sagrados e no conteúdo doutrinário de toda a teologia cristã, se presta mais à compreensão do destino final do homem, do que todos os postulados espíritas, simplórios é verdade, mas insubsistentes a uma argumentação mais concisa. Quem renega os princípios básicos do cristianismo, como a encarnação, a redenção e sobretudo a ressurreição, não é cristão.

4. Jesus Cristo não é Deus?

Para os espíritas, não! Não se trata de uma interpretação posterior, ou de mera hermenêutica dos críticos do espiritismo. A grande verdade é que Kardec diz, de forma explícita, em “Obras Póstumas”, que Jesus Cristo não é Deus.

O dogma da divindade de Jesus se baseou na igualdade absoluta entre a sua pessoa e Deus, pois que ele próprio é Deus. É este um artigo de fé. Ora, estas palavras que Jesus tantas vezes repetiu: Aquele que me enviou, não só comprovam uma dualidade de pessoas, mas também, como já dissemos, excluem a igualdade absoluta entre elas, porquanto aquele que é enviado, necessariamente está subordinado ao que envia.

Para o espiritismo, reconhecer a divindade de Cristo acarretaria na incorporação de muitos problemas. Jesus ressuscitou, por obra do Pai e do Espírito Santo, justamente porque era Deus. Reconhecê-lo Deus implicaria em admitir a ressurreição. Ora, se há ressurreição, não pode haver reencarnação. Dois tigres não cabem na mesma jaula... Não parece claro? Como os subordinacionistas do século III, condenados pelos Concílios do Oriente, Kardec afirma que Jesus era “subordinado” ao Pai:

A partir das palavras do Evangelho, Jesus consagra o princípio da diferença hierárquica entre o Pai e o Filho... Se há uma diferença hierárquica entre ele, Jesus, como Filho de Deus, não pode ser igual a Deus.

A filosofia espírita refuta também a crença na Santíssima Trindade, pois reconhecê-la seria admitir que Jesus é Deus como o Pai. Do Espírito Santo eles nem querem ouvir falar. Antes de subir aos céus, Jesus promete a vinda do Espírito Santo, o “Paráclito Consolador”.

Pois Kardec tem a coragem de afirmar, pasmem, que o “consolador” não é o Espírito Santo, mas o espiritismo. Sabedor que nos textos escriturísticos há sentenças irrefutáveis em favor da divindade de Jesus, Kardec investe contra a autenticidade dos evangelhos, epístolas e documentos da tradição eclesiástica:

Nada tendo ele (Jesus) escrito, seus únicos historiadores

foram os apóstolos que, tampouco escreveram coisa alguma,

quando Cristo ainda vivia. Nenhum historiador profano, seu

contemporâneo, havendo falado a seu respeito, nenhum

documento mais existe, além dos Evangelhos, sobre a sua

vida e a sua doutrina. Aí somente é que se há de procurar a

chave do problema. Todos os escritos posteriores, sem

exclusão dos de S. Paulo, são apenas, e não podem deixar de

ser, comentários ou apreciações, reflexos de opiniões

pessoais, muitas vezes contraditórias, que, em caso algum,

poderiam ter a autoridade da narrativa dos que receberam

diretamente do Mestre as instruções.

No mesmo corpo doutrinário, o Sr. Rivail Kardec já havendo levantado dúvidas, como vimos, da veracidade dos evangelhos, questiona, de forma escandalosamente tendenciosa, não só os milagres de Cristo, mas também suas palavras, encaminhando sua hermenêutica para a tese final, na qual Jesus Cristo não é Deus:

Não só Jesus não se deu, em nenhuma circunstância, por igual a

Deus, como, neste passo, afirma positivamente o contrário:

considera-se inferior a Deus em bondade. Ora, declarar que Deus

lhe está acima, pelo poder e pelas qualidades morais, é dizer que

ele não é Deus.

Está claro que o codificador, por não haver compreendido nada do mistério da encarnação, é incapaz de discernir a pessoa de Jesus, homem e Deus. Longe do monofisismo, (mono, apenas uma + fysis, natureza) herético de Eutiques († 454), Jesus é verdadeiro Deus (divino) e verdadeiro homem (humano), proclamado pelo Concílio, “Deus de Deus, luz da luz, consubstancial ao Pai”.

Esta mesma heresia subordinacionista custou a Ário († 336 dC.) a exclusão da Igreja. O que Kardec não compreendeu é que, enquanto homem, vivendo na terra, in status viatoris, assumindo a condição de servo, Jesus tornou-se semelhante aos homens (cf. Fl 2, 7). Por isto ele foi

... igual a nós em tudo, exceto no pecado (Hb 4, 15).

Havendo sido igual a nós, enquanto homem, ele padeceu das deficiências naturais do homem: teve fome e sede, sentiu medo, irou-se (com os vendedores do templo), duvidou até... Nessa condição humana, por sua humildade ele se considera abaixo do Pai, obediente a ele.

Ele tinha a condição divina mas não se apegou à sua

igualdade com Deus (Fl 2, 6)

Trata-se das “três humilhações” de Deus, citadas por L. BOROŠ, que Kardec, do alto de sua intelectualidade, jamais entendeu: a primeira, nascendo homem; a segunda, morrendo na cruz; e a terceira, lutando para convencer o homem, na morte, a respeito da necessidade de arrepender-se e optar pelo Reino. A própria Igreja, idealizada por Jesus Cristo e fundada pelo Espírito Santo em Pentecostes, é sinal da salvação operada pelo Filho. Como diz o teólogo Laburu:

O grande milagre da história, capaz por si só, de provar a

divindade de Jesus está no fato em que a doutrina de alguém

que morreu há 2000 anos, justiçado na cruz, a doutrina que

contém em si uma ideologia superior a tudo que pode ser

compreendido pelo entendimento humano, que gosta somente

de admitir o que é compreensível... a doutrina que começou a ser

propagada por pobres pescadores, destituídos da mais leve

tintura de filosofia e retórica, produziu o milagre de dominar 20

séculos de história e ser o centro da humanidade. Esse Jesus

Cristo continua não somente vivendo, mas reinando através de

vinte séculos, em milhões e milhões de corações (In: Jesus

Cristo é Deus?).

De fato, todas as demais instituições desapareceram. Somente a Igreja, fundada por Jesus Cristo, permanece. Reportando-me às Sagradas Escrituras, gostaria de questionar o codificador. E toda aquela aula de cristologia do chamado “Prólogo” de São João?

No começo a Palavra (o lógos, Jesus) já existia: a Palavra

estava voltada para Deus, e a Palavra era Deus (Jo 1,1).

Os belíssimos “hinos cristológicos” de São Paulo, autênticas pérolas da Igreja primitiva, igualmente apontam nessa direção:

Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho no céu, na

terra e debaixo da terra; e toda língua confesse que Jesus

Cristo é o Senhor (Fl 2, 10s).

Igualmente a profissão de fé dos apóstolos, representada pela invocação de Tomé, que credita a Jesus o título de Senhor (Kyrios), só devida a Deus, revela que o grupo apostólico via no Mestre a divindade de Deus:

Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 28).

O próprio Jesus, ao afirmar sua preexistência a Abraão (Jo 8, 58), está colocando em si, através da expressão “eu sou” (ego eimi), a característica de “aquele-que-é” devida a Deus, por sua eternidade, sem começo nem fim. Seria Jesus um impostor ou um blasfemo ao dizer-nos que

...toda a autoridade me foi dada no céu e na terra...?

(cf. Mt 28, 18).

Estaria Jesus, se subordinado ao Pai fosse, tentando nivelar-se a ele, ao recomendar à Igreja que batizasse “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”?(v. 19). Na ânsia de provar suas insustentáveis teorias, Kardec chega a desmentir o “prólogo” do evangelho de São João (Jo 1, 1-18), ao dizer:

Só no IV século, uma parte da Igreja adotou a questão do verbo e filho, uma controvérsia a respeito da divindade de Jesus. Semelhante dogma resultou, pois, de decisão dos homens e não de uma revelação divina.

Ora, quem faz de tudo para tentar provar que Jesus Cristo não é Deus, esse renega totalmente o cristianismo.

Na parte dogmática da carta aos Colossenses, São Paulo nos alerta sobre Jesus Cristo, o único mediador, em cuja cruz foi estabelecida a reconciliação definitiva entre Deus e as criaturas, até então submetidas à servidão do pecado. O trecho enfatiza igualmente, a divindade de Jesus:

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito anterior a

qualquer criatura; porque nele foram criadas todas as coisas,

tanto as celestes como as terrestres, as visíveis como as

invisíveis: tronos, soberanias, principados e autoridades. Tudo

foi criado por meio dele e para ele. Ele existe antes de todas

as coisas, e tudo nele subsiste. Ele é também a Cabeça do

corpo que é a Igreja. Ele é o Princípio, o primeiro daqueles

que ressuscitaram dos mortos, para em tudo ter primazia.

Porque Deus, a Plenitude total quis nele habitar, para, por

meio dele, reconciliar todas as coisas (Cl 1, 15-20).

5. Não é cristianismo!

Qualquer filosofia ou ciência, que negue a ressurreição e a divindade de Cristo, não é cristã. Isto nos parece suficientemente claro e óbvio. Deste modo, ao negar Cristo como Deus-e-homem que viveu, morreu e ressuscitou, e que, fiel ao projeto de Deus, dispôs as coisas em favor da salvação da humanidade, os kardecistas estão se excluindo dessa Igreja cristã. Embora eles usem o nome de Jesus e citem – devidamente pinçadas – algumas de suas palavras, os espíritas, de fato, não são cristãos.

Ressurreição e reencarnação nao é a mesma coisa nem coisas que cabem num mesmo vaso. Ora, o cume referencial do cristianismo é a ressurreição de Cristo. Quem prega a reencarnação nega a ressurreição e coloca em cheque a divindade de Cristo. Quem nega a Cristo nao pode, por mais boa intenção que tenha, ser chamado de Cristão.

E por conta desse não-cristianismo, Kardec e seus seguidores, passados e presentes, investem com virulência contra a Igreja de Cristo. Ao comentar as palavras do evangelho, sobre a possibilidade dos falsos profetas enganarem até aos eleitos (cf. Mt 24, 24; 2Cor 11. 14), Allan Kardec afirma que a Igreja (não mais o evangelho ou a epístola paulina) está dizendo que o demônio é tão poderoso quanto Deus. S]ao Pauylo rebeta essas bobagens:

Já que vocês aceitaram Jesus Cristo como Senhor, vivam

como cristãos: enraizados nele, vocês se edificam sobre ele e

se apoiam na fé que lhes foi ensinada, transbordando em

ações de graças. Cuidado para que ninguém escravize vocês

através de filosofias enganosas e vãs, de acordo com tradições

humanas, que se baseiam nos elementos do mundo, e não em

Cristo (Cl 2, 6ss).

O espiritismo não é cristão porque nega a encarnação de Jesus, pelo poder do Espírito Santo. Igualmente nega a existência do Espírito Santo. Tanto que em todos os escritos de Kardec, quando se trata de transcrever algum trecho do evangelho, ele sempre grafa somente Espírito, sem a complementação Santo. Para eles, o Espírito, ou “Espírito da Verdade” é Deus em uma única pessoa. Os espíritas de base católica, negam que Kardec tivesse dito tamanho absurdo, e professam fé na divindade de Jesus. Eles rejeitam a idéia da ressurreição em prol da reencarnação. Ora, se Cristo não ressuscitou, nos ainda estamos presos nos nossos pecados...

Quando os espiritualistas, por inspiração cardecista negam a misericórdia, o perdão dos pecados e o efeito das orações propiciatórias, estão negando a própria essência de Deus, bem como as palavras de Jesus, que afirmou que tudo o que se pedisse em nome dele, ao Pai, seria atendido (cf. Jo 15, 16). Se Jesus não ressuscitou, se sua morte não resultou méritos para nós, então, o evangelho não é uma “boa notícia”. Grandes equívocos... maiores incoerências... Ainda haveria muito mais coisas a dizer. Mas o que foi dito aqui já é suficiente...

O autor é Teólogo Leigo, Conferencista internacional, Biblista e Doutor em Teologia Moral. Escritor, com mais de 100 obras publicadas no Brasil e exterior.

Excerto de uma conferência proferida em um congresso de jovens católicos, no nordeste (Recife) em 2002.