FACA NA BOTA

Não sei dizer ao certo, mas justamente na hora em que deveria estar dormindo é que a inspiração bate. Talvez porque a mente esteja descansada é que surgem os insights. E para constar meus devaneios, gostaria de falar sobre Mulher Faca na bota! Aqui no Sul, a quem possa interessar, usa-se o termo “faca na bota” quando uma mulher é muito brava e corajosa. Daquelas que enfrenta as situações sem se preocupar com melindres femininos.

E a uma hora dessas o que é que uma mente fértil deve estar produzindo? Pensamentos, filosofias e por aí vai. O que me leva a refletir hoje é sobre uma recente polêmica aqui dos pampas, mais especificamente da cidade de Viamão, onde uma Vice-Diretora de Escola (tinha que ser voltada para a educação!), após organizar um mutirão que envolveu toda a comunidade escolar e recursos financeiros, decidiu pintar a escola para mudar o aspecto do local que era facilmente comparado ao Carandiru (complexo do sistema penitenciário). Oras, uma escola é local de aprendizado, onde tudo o que não se quer é justamente abarrotar os presídios brasileiros, portanto o papel dos Educadores é de educar. O problema é que um aluno metido a engraçadinho decidiu macular as paredes novinhas com pichações. E o que fez a vice-diretora? Aquilo que os pais do garoto deveriam ter feito há muito tempo: aplicou-lhe um corretivo, determinando que o aluno refizesse a pintura que estragou. Eis que surge a controvérsia: a penalidade foi adequada?

Diversas opiniões surgiram divididas, mas desde o princípio, mantive minha convicção acerca do ocorrido e, aproveito o espaço para manifestar meu apoio à atitude dessa Educadora e meu repúdio ao vandalismo do aluno. Os pais alegam que o filho se sentiu humilhado e que o coitadinho não quer mais voltar à escola. Pergunto: será que quem vai à escola para fazer pichações possui outro objetivo que não o de depredar o ambiente escolar? Será que, por algum momento, esses pais se colocaram no lugar dos outros pais, alunos e professores que abriram mão do descanso aos finais de semana para colaborarem com o progresso da escola e que, após o sacrifício, obtêm como resposta ao seu gesto solidário, a pichação? Tudo o que sei é que na minha época de estudante, não havia conselhos tutelares, nem tanto movimento de defesa e proteção à infância e juventude e, no entanto, apesar dos castigos por nossos erros, nem eu nem meus amigos e colegas nos tornamos marginais; ao contrário: somos cidadãos de bem, conscientes e trabalhadores. Em contrapartida, apesar de tantas manifestações de apoio às crianças e adolescentes, nunca se ouviu tantas barbáries cometidas pelo público desta faixa etária.

A professora agiu em defesa do patrimônio público e em defesa da coletividade que somou esforços por um objetivo em comum, com amparo em Lei. E o aluno? O aluno agiu de má fé, cometeu um ato de vandalismo, burlou a Lei e ainda é a vítima? Ainda bem que o Coordenador de Educação teve a hombridade de não considerar a atitude da professora como uma irregularidade. Ela estava cumprindo seu papel de Educadora e de Cidadã, não cruzou os braços diante da atitude e, “Faca na Bota”, decidiu agir. Se for candidata a algum cargo político, já ganhou meu voto!

Patrícia Rech
Enviado por Patrícia Rech em 25/09/2009
Código do texto: T1831968
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