Por causa de Barrabás...
A relação professor-aluno sempre foi alvo de tensões, aflições mas é uma relação humana riquissíma. O professor que consegue transformar o conhecimento num espetáculo palatável, agradável e capaz de mobilizar atenção, emoções e comprometimento. É mesmo um mágico, um guru, uma grande alma a ser seguida em suas palavras, em seus gestos, em sua aurta. E, sobretudo, em sua simplicidade.
Através da relação professor-aluno há um descortinar de valores profundamente importantes e que marcarão a vida de muitas pessoas, que poderam assumir as rédeas de seu destino, e tornarem senhoras e senhores de sua própria estória... Transformando a estória em história.
O professor é uma verdadeira alavanca da mobilidade social, capaz de contrariar a perversa ordem opresiva do capitalismo e de fazer da liberdade um dom, um dote apto a projetar mentes, culturas, hábitos e manifestações das mais simples e populares até as mais ímpares e geniais.
Outro fator interessante que quanto maior for a dificuldade dos alunos, quanto maior sua necessidade e urgência, mais estão abertos e ávidos pela aprendizagem, pela dinâmica do conhecimento, devorando informações, provendo anotações e nervosamente escavando seu lugar no mundo com unhas e dentes...
Pessoas visivelmente cansadas em seus trajes simples e diários, olhos profundos e exaustos e ,totalmente empenhados em perseguir o conhecimento, em captá-lo, em sugá-lo até a última gota.
Pois a sobrevivência da esperança do aluno está exatamente naquele momento , no momento da aula. Aonde é partícipe, aonde suas dúvidas importam e alteram o ritmo e a direção das coisas. E, fazem parte de uma realidade que nem sempre lhe trata como deve.
A relação docente- discente sem dúvida, é uma relação de poder, mas é igualmente uma relação de crescimento, entrosamente e evolução. E, não raro surgem admirações recíprocas.... Não raro somos tatuados para sempre pelo afeto contagioso que os alunos podem nos dar.
Outra coisa importante é o professor saber usar a didática, dominar a técnica exata de chamar a atenção para o conhecimento e para a informação. O momento da aula é momento metafísico aonde o esforço é premiado com a aprendizagem. Onde a potencialidade é disparada em direção do futuro e, imprime definitivamente a marca daqueles que conseguiram.
O momento da aula é vetor intenso repleto de olhos e expressões faciais. A aula deve ter vida, voz forte e clara. Deve ter a legenda esquemática e sintética. Capaz de fazer lembrar o aprendizado com indícios, com reticências. Mas com a absoluta firmeza da essencialidade da educação e da aprendizagem.
Aliás, a aula deve buscar a reflexão crítica e não apenas o pensar teórico-conceitual esculpido em leis, tratados, fórmulas ou dados científicos consultáveis a qualquer momento.
Deve fazer o aluno assimilar a lógica corrente, ler as entrelinhas, saber entender os enigmas dos símbolos, das metáforas, dos paradigmas a se renovarem diante dos olhos e da imperiosa evolução tecnológica, social, cultural e humana.
Deve fazer o aluno não temer a esfínge e desafiá-la tal como Édipo. Desafiar a realidade para sobreviver com dignidade sempre!
Habilitar esse aluno, resgatando não só a sua humanidade, mas sua criatividade, sua intelectividade, resgatando a eterna necessidade de “aprender a aprender”.
E, domando em si, as angústias e as alienações que circundam , que tanto seduzem mas não levam à nada. A não ser a errante manipulação dos poderosos, e a perversa ordem social e política alheia às reais necessidades do povo.
Lamentando por incidente ocorrido na vida urbana e atribulada em sala de aula, disse em tom irônico e desaminado: - Eu atirei pedra na cruz... E, aí, outra professora contra-argumentou: - Eu coloquei o último cravo.
Aí, então burlescamente uma aluna tão prosaica quanto nossas lamuriações, falou em tom fatídico: - E, eu gritei , Barrabás!!!
Então, tudo foi por causa de Barrabás!!! Talvez a sorte jogada na incerteza dos passos diante do educador se torne a matéria- prima fundamental, aonde catando diariamente os motivos para aprender, e apreender, recolhemos os melhores momentos de nossas vidas.
Que são os momentos da vida de um aprendiz... Que são os momentos da vida de um mestre, que torna a aprender para fazer com que todos nesse ritmo contagiante ( sem ser o rcok ou jazz) dacem a música inesquícel... A nossa trilha sonora a nos acompanhar pelos caminhos escolhidos ou aleatórios, mas sempre norteados pela decisão de não desistir jamais.
Continuemos. E, a cada aula renovemos a esperança e a confiabilidade na humanidade e na real possibilidade de construírmos uma sociedade mais justa e solidária.
Gisele Leite
Denise Heuseler
P.S. Agradeço a demonstração de carinho e reconhecimento por meu trabalho de todos meus alunos da UNISUAM.