A SIMPLECIDADE
A SIMPLICIDADE
Quem me dera ser simples como as avezinhas que enfeitam nossos horizontes com sua plumagem multicolorida. Com todo esse luxo de encher os olhos dos humanos, guardam no seu comportamento a singeleza dos inocentes. Mesmo não plantando, colhem aqui e ali seu alimento diário, sem se preocuparem com o dia de amanhã. Vivem o momento atual com toda a intensidade que lhes é possível. O seu trabalho? Quem diz que os pássaros não trabalham! Não constroem mansões; não têm avareza; não têm cobiça; não têm inveja nem ciúme. São apenas os simples, sábios e aplicados artesãos da conservação da sua espécie e, como tal, edificam os singelos ninhos com o requinte da mais perfeita engenharia de que o Criador os dotou. Não constroem mansões nem acumulam riquezas porque sabem instintivamente que de nada lhes adianta. Da mesma forma como eles, em vida, tiveram assegurada sua sobrevivência com o trabalho diário da procura do seu alimento, seus sucessores também o encontrarão... se o homem deixar que vivam.
Os seres humanos, que foram dotados pelo mesmo Deus, de capacidade pensante e de espírito eterno e do dom da fala e de outros atributos criadores de futuros auspiciosos, com que a ciência lhes propõe sejam cada vez mais alucinantes em progresso tecnológico e absurdos numéricos de capital e de moeda circulante e revistam tudo isso com seu senso moral, vestem-se do orgulho da posição que ocupam neste cenário opulento, com direito a dar seu maldoso desprezo Àquele que lhes proporciona tais riquezas.
Enquanto o passarinho colhe as migalhas desprezadas pelo homem e compraz-se em levá-las para sua prole, este, com a arrogância que o dinheiro lhe confere, acumulando capitais sobre capitais nos celeiros de sua existência efêmera, não lhe importa passar por sobre a dignidade alheia, mesmo que o outro seja o braço que construiu toda sua riqueza.
Os pássaros despreocupam-se com os bens terrenos, sempre felizes e sorridentes, em leda revoada. Mesmo assim, os têm todos e todos eles, sem distinção, os usufruem. Se o homem vivesse e não quisesse todas as riquezas possíveis para si somente, para deixar aos outros também o direito de viver, teria menos dores de cabeça; menos insônias e mais sorrisos para oferecer com a simplicidade que, infelizmente, os humanos esqueceram no baú do progresso.
E o pior de tudo é que, nessa faina e no afã de arrebanhar sempre mais dos méis da riqueza, até a própria natureza que lhe proporciona esses valores monetários, ele destrói para inventar um mundo poluído no qual, nenhum ser vivo, incluindo ele próprio, poderá sobreviver. Ele não pensa no futuro da sua espécie!
Enquanto isso os passarinhos, ornados do luxo da sua simplicidade, como, aliás, todos os outros animais inferiores e os próprios povos indígenas, tidos e tratados como selvagens, preservam essa mesma natureza, pois sabem que precisam dela para sua sobrevivência e da de sua espécie.