PROFETAS

PROFETAS

Na mais simples sinonímia a palavra profeta tem como significado precípuo o individuo que prediz o futuro. Uma palavra derivada do grego prophétes e do latim propheta, pode ser chamado de adivinho. Profeta também era o título que os muçulmanos davam a Maomé. O feminino da palavra profeta é profetisa. No sertão do estado da Bahia surgiu um profeta conhecido por Antonio Conselheiro. Dizem que ele nunca cortou os cabelos e nem tirou a barba. Erguendo sempre um cajado, aconselhava seus seguidores e consolava os sofredores e ainda tem quem fale nos sem-juízo. Fez previsões como muitos fizeram. Ele afirmava que o mundo não passaria do ano de 1900 e suas promessas eram de arrepiar e fazer medo.

A velha expressão de que o sertão vai virar mar, e o mar virar sertão partiu dele. Antonio Conselheiro nasceu em Quixeramobim no estado do Ceará em 1830 e morreu na Bahia, em Canudos no dia 22/09/1897, com 67 anos de idade. Filho do comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de Jesus, Antônio Vicente Mendes Maciel ficou órfão da mãe aos seis anos. Estudou aritmética; português; geografia; francês e latim. Entre suas leituras preferidas estavam às aventuras do imperador Carlos Magno e dos 12 pares de França, adaptações de lendas populares da idade média, arraigadas no folclore nordestino.

Aos 27 anos, perdeu o pai e começou a cuidar da loja da família, com a qual sustentava as quatro irmãs. Ficou dois anos à frente do negócio e, depois, passou a dar aulas numa escola da fazenda. Graças aos seus estudos e esforço pessoal, tornou-se escrivão de cartório, solicitador (encarregado de encaminhar petições ao poder Judiciário) e rábula (advogado sem diploma). Estaria encaminhado profissionalmente, caso um problema pessoal não viesse mudar radicalmente sua vida. Depois de casado, Antônio Maciel foi traído pela mulher que fugiu com outro homem. Transtornado pela humilhação, começou a perambular sem destino certo pelo interior do Ceará e de outros Estados do Nordeste, talvez à procura dos fugitivos. Para sobreviver, trabalhou como pedreiro e construtor, ofício aprendido com o pai.

Restaurava e construía capelas, igrejas e cemitérios. Do Oiapoque ao Chuí apareceram profetas como ele, mas o governo não interferia na vida deles, nem das previsões que eles faziam, mas só se ouviam falatórios. Quando o povo resolvia segui-los as coisas mudavam e o tempo esquentava. O trabalho e as pregações do padre Ibiapina - que peregrinava pelo sertão fazendo obra de caridade - influenciaram Antônio Maciel. Ele passou a ler os Evangelhos e a divulgá-los entre o povo humilde, ouvindo também os problemas das pessoas e procurando consolá-las com mensagens religiosas. Devido aos conselhos, tornou-se conhecido como Antônio Conselheiro e arrebanhou um número crescente de seguidores fiéis que o acompanhavam pelas suas andanças.

A opinião pública, através dos jornais, exigia do governo atitudes e a repressão era inevitável. À medida que a simpatia dos pobres por ele aumentava, surgiam também os inimigos, que se sentiam prejudicados. Por um lado, os padres, que viam seu prestígio diminuir diante das pregações de um leigo. Por outro, os latifundiários, que viam muitos empregados de suas fazendas abandonarem tudo para seguir o beato. Para uns, Antonio Conselheiro representava “conselhos” e “consolo” para outros a desordem. O beato na verdade representava os anseios, a mentalidade e as necessidades de uma camada da sociedade. Assim, o seu movimento adquiriu um forte conteúdo de classe e, portanto, de contestação da ordem social vigente.

A humanidade, o povo de Canudos no interior baiano era de negros e de pobres. Que além de desempregados se associavam a cangaceiros ex-escravos, os fugidos da seca, policiais arrependidos e prostitutas. Naquela época os beatos eram considerados crentes maníacos, e trabalhadores sem terra. Para os famosos coronéis do sertão o movimento gerava constrangimento e era insuportável para eles. Os considerados (sem-terras) eram explorados demais pelos coronéis, visto que o salário de fome atormentava-os fazendo com que os mesmos se juntassem a Conselheiro. As mulheres e a vizinhança dos coronéis tinham verdadeira fobia aos sem lei e sem ordem.

Os padres não aceitavam aquele movimento, pois estavam perdendo o seu rebanho. Conselheiro fazia tudo: rezava missa, batizava, lia e explicava a Bíblia e a preocupação dos padres aumentou. Em 1874, o Conselheiro e seus seguidores se fixaram perto da vila de Itapicuru de Cima, no sertão da Bahia, onde fundaram o arraial do Bom Jesus. Dois anos depois, acusado de ter assassinado a esposa, Antônio Conselheiro foi preso e mandado para o Ceará, onde o julgamento comprovou sua inocência. Conselheiro recebeu nome de comunista e inimigo da propriedade e dizia sempre: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar e alcançar o Reino dos Céus”. Monarquista inimigo da república ele falava mal o regime e dizia em alto e bom tom: é uma ré pública que em outras palavras significava prostituta.

Seu fervor religioso aumentou durante a temporada na prisão. Da mesma maneira, aumentou seu prestígio entre os pobres, que passaram a vê-lo como um mártir. Mais gente se reuniu a sua volta e o acompanhou sertão afora, por andanças que duraram 17 anos. Em 1893, ele se estabeleceu definitivamente numa fazenda abandonada às margens do rio Vaza-Barris, numa afastada região do norte da Bahia, conhecida como Canudos. Esta citação foi para ilustrar a matéria em epígrafe. O governo não suportou mais as reclamações e mandou três expedições contra Canudos, mas foram enxotados por Conselheiro. A quarta expedição foi bem mais forte, pois até canhões faziam parte da expedição.

Os sertanejos lutavam e fugia ao mesmo tempo, no acampamento do exército apenas uma vaca morta, mas como não exalava mau cheiro os soldados meteram a baioneta e descobriram que era um posto de espionagem dos canudenses. Canudos foi cercado pelo Exército, nem água eles podiam beber. Começou o bombardeio e as pequenas casas pegaram fogo, ou arderam como diziam na época. Depois de muita luta e mortes uma bandeira branca foi alçada. Era a rendição e eles pediam trégua para as crianças e mulheres, os defensores que restaram eram apenas idosos e crianças, pois a exterminação foi brutal. Conselheiro depois de morto foi enterrado e desenterrado para uma foto histórica da vitória.

Muitos criticaram o Exército nacional, pois gente brava e desgraçada foi massacrada impiedosamente e indagavam se república era aquilo? Joel Rufino dos Santos em seu livro (Brasil Império e República) conta com maiores detalhes as nuanças aqui citadas e poderás encontrar fatos importantes na UOL. Apesar das diferenças regionais acentuadas, há muitas semelhanças, caráter religioso, grupos sociais envolvidos, furor repressivo do Estado. A denominada modernização do País criou uma crise social e econômica para amplos setores da sociedade.

A população não participava dos processos e das decisões políticas, e recebiam com surpresa e indignação as medidas do governo central (casamento civil, secularização dos cemitérios). Como a religião era um elemento essencial da cultura camponesa, esses descontentamentos se manifestaram como movimentos religiosos (o messianismo).

ANTONIO PAIVA RODRIGUES-MEMBRO DA ACI- ALOMERCE E AOUVIRCE

Paivinhajornalista
Enviado por Paivinhajornalista em 23/09/2009
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