EU QUERO ENTENDER...

Quando penso que as coisas, em nosso Tocantins, podem tomar rumos salutares, sobretudo no tocante à política, eis que novas marolas surgem prenunciando verdadeiros tsunamis éticos. Que não há movimento humano sem intencionalidades, que as reais intenções podem estar encapotadas e que as aparências possuem forças persuasivas, quase inelutáveis, são, sim, verdades incontestáveis.

Apear um governador e seu vice do poder sob acusações graves é feio, é belo. Se o que fizeram emporcalha a própria dignidade humana, posto agirem de má fé como se o transformar de “processos naturais” (fazer caridade, por exemplo) em instrumentos politicalheiros tivesse apenas a ver com questões culturais, de fato, enfeia, polui o que chamo de consciência política libertadora. Se a mais alta corte eleitoral do país, por unanimidade, após cuidadoso estudo, conclui que houve atos criminosos, determinando a cassação, é profundamente louvável, belo e digno de aplausos. Afinal, o Brasil é um Estado de direito.

Ao se determinar que a Assembléia Legislativa escolha os substitutos dos cassados, instalou-se uma espécie de “reino” encantado no qual lances, os mais estrambóticos, são jogados a fim de que certos interesses sejam resguardados. Não há santo, tampouco se trata de membros do convento das irmãs carmelitas dos pés descalços. Quantos, afinal, não foram eleitos no mesmo esquema declarado corrupto ou semelhante a ele? Quantos, na teoria e na prática, entendem Política como a arte das transações inteligentes e honestas voltadas única e exclusivamente para o “estar bem” de todos nós?

Príncipe no trono, assessores escolhidos, verdades reveladas. Quase nada de substancial muda. Nas entrelinhas, vislumbramos projetos pessoais, de grupos e estratégias para sucesso da empreitada. Há de tudo no secretariado: prefeito cassado, senador respondendo a processo no STF e fartamente denunciado pela mídia nacional, políticos que há muito tempo rondam o poder, alguns absolutamente inexpressivos, outros filho, mãe, irmão, enfim, parentes de deputado. Será se os cidadãos tocantinenses somos tão idiotas, tão alienados, tão cegos? Uma pulguinha me cutuca: em meio a tantos deslizes do governo anterior, onde estava a Assembleia Legislativa? Afinal, uma das grandes responsabilidades de um Deputado não é fiscalizar o Executivo?

Nosso Tocantins precisa de novos e verdadeiros tempos Libertadores. Novas cabeças, novas ideias, precisamos de “curraleiros” desbravadores, éticos, precisamos de inteligência crítica, de homens corajosos, que não temam mentirarias, que rasguem Pedras nas alvoradas, homens que façam Sois brilhar nas mais densas trevas da estupidez. Precisamos de homens esperançosos, pois, como nos ensinou mestre Paulo Freire: “Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de tanto descaso pela coisa pública, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cívico que leva ao cruzamento dos braços. “Não há o que fazer” é o discurso acomodado que não podemos aceitar. A esperança é necessidade ontológica, a desesperança, esperança que, perdendo o endereço, se torna distorção da necessidade ontológica. Não sou esperançoso por pura teimosia mas por imperativo existencial e histórico. Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita de água fria”.