O começo de tudo

A mulher livre está nascendo e dá seus primeiros passos encarando o universo como seu,pensando-o,modificando-o e desvendando-o para reconhecer-se nele e tentar imprimir-lhe a sua marca,mas para isso é preciso sentir orgulho pelo obstáculo vencido,mesmo que ínfimo,diante de tantos outros que precisa ultrapassar com coragem e bravura para confiar em si mesma. Foi o isolamento de Emily Bronte,que lhe permitiu escrever um livro forte e alucinado,em face da natureza,da morte e do destino,não esperava socorro senão de si mesma."Para encarar o universo como seu,para se estimar culpada de seus erros e vangloriar-se de seus progressos,é preciso pertencer à casta dos privilegiados,"- Simone de Beauvoir.

Hoje,sem dúvida,a mulher tem livre movimento na sociedade,acesso à cultura, ao mercado de trabalho. Mas é preciso que inspire respeito pela sua aparência e pela sua maneira de vestir-se.Receberam enfim,permissão para explorar esse mundo,fazem o inventário dele, mas na maioria das vezes sem procurar descobrir-lhe o verdadeiro sentido.Precisamos ver com clareza para enxergar o que está depois dessa claridade.

Nos dias atuais,as mulheres tem menos dificuldade em se afirmar,mas não superaram completamente a especificação milenar que as confina em sua feminilidade.A lucidez,por exemplo, é uma conquista de que se orgulham,mas com que se satisfazem depressa demais.

A mulher tradicional é uma consciência mistificada e como tal,

um instrumento de mistificação;tenta dissimular a sua dependência,o que significa nela consentir.Denunciar ou admitir essa dependência já é ou seria uma libertação.Não se iludir é o começo de tudo.

Diulinda garcia

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