O "LODO" DA FÓRMULA 01

Estava eu assistindo um grande prêmio da Fórmula 01, quando ouvi a notícia bombástica comentada por Reginaldo Leme, de que um determinado grande prêmio havia sido fraudado por uma das escuderias - a Renault. O mais lamentável é que um dos envolvidos na farsa era o novato piloto da Fórmula 01, Nelsinho Piquet, que, numa manobra planejada e articulada no box, pelo então Chefe de Equipe, Flávio Briatore, bateu o carro de propósito. Curioso, como tudo veio à tona quase um ano depois, eis que o "desastroso" incidente ocorreu em Cingapura, no ano passado. Aí vem as indagações que o caso requer, pois as pessoas de bem que assistem um GP são apaixonados pela riqueza da competição e pelo lado heróico dos pilotos, quando tudo fazem para levar suas máquinas ao limite, arriscando a própria vida em nome do esporte. Essas mazelas de bastidores, envolvendo o lado anti-ética dos homens que dirigem as escuderias não contemplam as aspirações daqueles que gostam da Fórmula 01.

Até hoje eu estava de olho nos noticiários e esperando o julgamento, que está marcado para o dia 21 de setembro próximo, pois como há uma pendenga pessoal entre os Piquets e os dirigentes da Reunalt, nada havia de concreto para estabelecer o grau de baixaria que uma equipe se submete para chegar ao pódio. Entretanto, as notícias de hoje calaram minha esperança de que nada daquilo tinha sido forjado, pois no fundo eu esperava um pouco de ombridade e de ética da família Piquet, não esperando, jamais, que um deles fosse capaz de um ato tão vil. O interessante é que tanto o Piquet pai, como o Piquet filho, falam do episódio como se a culpa fosse exclusiva do mandante maior da escuderia, parecendo que se eximem de qualquer responsabilidade. Isso chega a ser patético! Ora, quem estava dirigindo o carro era o Nelsinho Piquet, não podendo, assim, transferir responsabilidade para a equipe, pois ele poderia não cumprir a ordem e no outro dia, quando demitido, dizer à imprensa o motivo de sua demissão. Mas não, preferiu cumprir a ordem para poder continuar na escuderia. Entretanto, o tiro saiu pela culatra, pois quem age de tal forma não tem compromisso com ninguém, principalmente, num caso dessa natureza quando a culpa é recíproca. Assim, não demorou muito para que Nelsinho Piquet fosse "degolado" vivo pelo Chefe da Renault.

Saiu nesta data a notícia de que Flávio Briatore e o engenheiro Pat Symonds, estão demitidos em face do episódio, sendo que a Renault assume o erro e diz que não irá contestar as acusações. A bomba explodiu e nos seus estilhaços deixou uma marca no histórico da Fórmula 01, demonstrando que nem sempre são os pilotos que vencem, mas as artimanhas e as fraudes armadas pelos mentores das escuderias. Destarte, o episódio serve para demonstrar que o nosso brasileiro que ainda representa o País nesse esporte - bem ou mal - tem sido um herói nesse campo minado das chantagens e dos estratagemas poucos convencionais para se vencer uma corrida. Não raras vezes, vimos o Rubinho Barrichello ter de desacelerar seu carro, para que um piloto mais pontuado lhe sugue os pontos. Bem ou mal o veterano Rubinho continua intacto no seu papel de piloto e suas manobras - a mando da equipe - em nenhum momento causou tanta perplexidade como essa atribuída a Nelsinho Piquet, eis que sua manobra, embora bem planejada, poderia desencadear uma tragédia, já que ninguém sabe qual é o resultado de uma batida nessas condições, ainda mais num circuíto travado como o de Cingapura.

Não pense os Piquets que nós brasileiros estamos "tampando o sol com peneira" como faz a mídia Nacional, querendo amenizar a responsabilidade do piloto sobre esse episódio. A equipe mandou e o Nelsinho obedeceu. Fazendo uma comparação poderíamos cotejar esse fato com um soldado que diz ter matado alguém a mando do seu chefe imediato. Nesse caso, ambos responderiam por crime doloso e nenhum deles poderia alegar que não cometeram crime algum. Não existe excludente de responsabilidade em face à ordens superiores. Existe, sim, a excludente do estrito cumprimento do dever legal. Assim, a exclusão da responsabilidade de Nelsinho Piquet só poderia acontecer caso ele tivesse batido seu carro cumprindo um dever de oficio. Como o regulamento da Fórmula 01 não permite tal estratagema, a manobra foi irregular e deve ser punida tanto na esfera desportiva como na esfera penal. Caso o fato tivesse ocorrido no Brasil, certamente que a conduta poderia ser enquadrada na figura do artigo 171 do Código de Processo Penal - o estelionato. O núcleo dessa infração consiste na seguinte conduta: "Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer ou meio fraudulento". Ora, a manobra visava dar uma melhor colocação para o outro piloto da Escuderia, logo, houve a vantagem ilícita, através do ardil compreendido pela batida que visava ocasionar a entrada do safety car na pista, para que o companheiro ficasse bem perto do seu adversário que tinha boa vantagem na frente.

Importante frisar, que a fraude só veio à tona porque Nelsinho Piquet foi demitido da Renault, pois, caso contrário, nada disso tinha sido levado ao conhecimento dos torcedores da Fórmula 01. Como diria o Bóris Casói: - Isso é uma vergonha!.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 16/09/2009
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