Prioridades do Brasil*

Wilson Correia**

O Blog do Planalto, criado recentemente para “compartilhar informações sobre o cotidiano da Presidência da República”, está pedindo a opinião de quem o visita nos seguintes termos: “Os recursos do pré-sal devem ser investidos prioritariamente em: Combate à pobreza; Ciência e Tecnologia; Educação; Cultura; Meio Ambiente”?

O clic em uma dessas alternativas indica o voto do cidadão naquilo que julga a prioridade merecedora da riqueza prometida pelo petróleo nacional, esse que foi descoberto há pouco e que está sendo visto como o propulsor da nossa segunda “independência”.

Dada tamanha importância, tomara que não apenas o governo queira nos ouvir. O desejo é o de que o Estado brasileiro nos ouça. E nos leve a sério, o que vai bem além de uma simples enquete.

Enquanto esse desejo paira entre nós, os dados da enquete do governo federal, meramente opinativa, é verdade, já conta com quase 5 mil acessos, percentualmente distribuídos da seguinte maneira: Educação já recebeu 53% dos votos; Combate à pobreza, 29%; Ciência e Tecnologia, 12%; Meio Ambiente, 4%; Cultura, 2%.

Impressionante como a educação desponta como a prioridade das prioridades. Essa percepção aí expressa pode estar sinalizando que, no imaginário daqueles que navegam na internet e acessam o Blog do Planalto, o conhecimento tem mesmo função emancipatória. Está bem! “O humano é aquilo que a educação faz dele”, já disse Kant.

No entanto, significativo é o aparecimento do combate à pobreza como a segunda prioridade. De fato, sozinha a educação parece não poder fazer aquilo de que os brasileiros precisam rumo à emancipação e à cidadania com qualidade de vida. A política e a economia precisam fazer a parte que lhes cabe.

Se um sistema de distribuição equinânime de riquezas não for consolidado entre nós, talvez os esforços para produzir bens materiais não alcancem plenamente os objetivos esperados. E isso só é possível por meio de decisões político-econômicas.

Educação e justiça: esses parecem ser, então, os dois grandes valores em destaque nas manifestações dos visitantes do blog em referência. Ciência e Tecnologia aparece bem votada também, talvez evidenciando o entendimento de que o acesso aos avanços tecnológicos não pode ser esquecido por quem governa e por quem administra nosso país. Por fim, aparecem o meio ambiente e a cultura como as menos votadas como prioridades para os investimentos vindos da riqueza do pré-sal.

Ainda que meramente indicativos, esses dados mostram que os brasileiros estão sintonizados com aquilo que realmente nos interessa. Indicam que o importante mesmo é o projeto de nação que podemos desenvolver, e não os projetos de poder que os diversos grupos políticos alimentam Brasil afora.

É nesse contexto que a educação parece estar em alta como anseio e direito. E que o Estado trate mesmo de nos ouvir e de transformar o que ouve em políticas públicas que respeitem o bom senso expresso pelos cidadãos brasileiros. Afinal de contas, o guarda-chuva está nas mãos do Estado por decisão de cada brasileiro que legitima nosso modelo de sociedade, mas a água da chuva pertence a todos nós.

Que sejamos suficientemente educados para que possamos compreender e respeitar a profundidade desse entendimento: práticas que o realizem são o pilar de nossa cidadania.

__________

* Aritigo publicado no Dirário da Manhã, dia 14/09/2009, p. 19.

** Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.