ESPÍRITO DE ALDEIA

Aldeia é um pequeno conjunto de habitações, longe dos grandes centros, onde, geralmente, todos os habitantes se conhecem e partilham as informações do dia-a-dia. Por um lado, esta proximidade de vida pode ser muito proveitosa, pois todos sabem o que acontece com todos. As alegrias e as dificuldades se tornam comuns, uns apoiando aos outros. Mas, por outro lado, esta vida de aldeia pode-se tornar muito desagradável, quando aparecem fofoqueiros e fofoqueiras, que se intrometem indevidamente na vida de todo mundo. Um ambiente de fofocas sempre está acompanhado de uma curiosidade mórbida, bisbilhotices, interpretações inadequadas, preconceitos e discriminações. Na novela “Desejo Proibido” da TV Globo, que terminou em 02 de maio/08, a Dona Guará encarna a fofoqueira clássica. Assim, uma vida de aldeia pode ser muito pacata quando os cidadãos se entendem, se ajudam mutuamente, e o bem comum permanece o interesse maior. E isto é o desejável, quando as pessoas vivem próximas e partilham as suas vidas, todos se tornam amigos. Neste sentido, mesmo em centros urbanos maiores é desejável que as pessoas conservem o espírito da vida que se compartilha nas aldeias. Mas, muito desagradável se torna a vida urbana quando o “espírito de aldeia” é conservado inadequadamente no ambiente de uma cidade maior. Pois, o espírito de aldeia, além de se caracterizar pela proximidade benfazeja das pessoas entre si, todo mundo se conhecendo, todos se interessando pelo bem de todos, também carrega uma potencialidade nada desejável. O mundo do aldeão é pequeno, as suas preocupações são pequenas, os seus conhecimentos são reduzidos. Por isto, facilmente pode emitir opiniões deficientes, ou transformar acontecimentos insignificantes em fatos de muita importância. Mas, como nas aldeias todo mundo conversa com todo mundo, as invencionisses e fofocas dos e das “Guarás” ali se desfazem rapidamente. Agora, imagine-se o “espírito de aldeia” transferido para o ambiente de trabalho, e para a convivência de poucos amigos, ou de prédios nos centros urbanos maiores. Às vezes se ouvem comentários de pessoas, que relatam que nesta e naquela cidade, neste ou naquele lugar do mundo todos vivem a sua vida, ninguém se importa com a vida do outro; um respeita a privacidade do outro, etc. Mas encontramos também ambientes urbanos em que ainda perdura fortemente o espírito de aldeia. Claro, se nestes ambientes é valorizado o aspecto positivo duma vida de aldeia, ótimo! A preocupação pelo bem comum, o conhecimento mútuo é também fundamental nos centros urbanos maiores. Mas, não se espera que as pessoas nas cidades maiores continuem pensando pequeno, bisbilhotando e fofocando sobre a vida dos seus companheiros de trabalho, de seus vizinhos de moradia, de seus irmãos de igreja, ou de seus companheiros de partido ou associação.

Tomando as considerações acima, um tanto genéricas, podemos nos perguntar a respeito das características da mentalidade de muitas pessoas que vivem no Recife. Constata-se que o Recife, sob diversos aspectos, conserva características de uma grande aldeia. E muitos cidadãos continuam se pautando por um forte espírito de aldeia. Naqueles em que este “espírito de aldeia” conserva sua pureza de uma vida simples, de amizade, de conhecimento mútuo, de preocupação pelo bem comum, isto deve ser avaliado como valor humano altamente desejável; mas constata-se também muitas vezes no Recife o lado negativo do “espírito de aldeia”. Não são poucas as/os “Guarás” que nos cercam. Em certos contextos as fofocas correm soltas. Tais ambientes, naturalmente, prejudicam relacionamentos e impedem que se pense grande, que se desenvolvam projetos grandes, que resolvam os grandes problemas de nossa cidade. Neste sentido o “espírito de aldeia” é negativo na cabeça dos cidadãos de centros urbanos maiores. Assim, ter ou não ter “espírito de aldeia”, esta é a questão!