O FOTÓGRAFO QUE GORJEIA A BORRA NO ESTILO DE MANOEL DE BARROS.
W.J. SOUSA¹; M.F.R.MEDINA²;
¹ Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Tocantins, Licenciado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Luterana do Brasil e acadêmico do curso de Letras com habilitação em Língua Inglesa da Universidade Federal do Tocantins E-mail: woltoney@hotmail.com
2 Doutora em Filologia hispânica, professora do Curso de Letras do CEULP/ULBRA.
IX JORNADA CIENTÍFICA DO CEULP/ULBRA
RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo principal apresentar uma análise sobre a presença de alguns elementos estilísticos presentes na obra Ensaios fotográficos (2007), de Manoel de Barros. Entre os assuntos abordados, sob o ponto de vista estilístico, estão incluídos, neste estudo, alguns conceitos, os quais envolvem a discussão pautada nas definições de estilo, expressão, expressividade e/ou emotividade. Além da análise sob os aspectos das funções e de figuras de linguagem a partir dos três poemas: “O Fotógrafo”, “Gorjeios” e “A Borra”. Essa abordagem apresenta um sentido lógico e coerente de modo a sugerir uma extração de conteúdos estilísticos com base nas teorias selecionadas por autores consagrados no estudo do funcionamento e da estrutura da língua e literatura, entre eles cita-se: Câmara (1978 e 1999), Moisés (2000) e Monteiro (1991), Goldstein (2000).
Palavras-chave: estilística; estilo; Manoel de Barros; expressividade.
INTRODUÇÃO: O autor Manoel de Barros é conhecido nacional e internacionalmente pela sua vastidão de obras com um estilo diferenciado, fato que o torna peculiar a outros escritores brasileiros. Nascido no estado de Mato Grosso Manoel foi criado em meio ao contato direto com a realidade local, da fazenda, do quintal, da natureza e todos os componentes que a acompanha. Conforme Nogueira Jr. (2009), Barros “cresceu brincando no terreiro em frente a casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre”. E na fala poética do próprio Manoel de Barros (apud NOGUEIRA JR., 2009): "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno." Esse contato propiciou o desenvolvimento da imaginação criadora do poeta, que teve o interesse especial de escrever sobre os fatores corriqueiros ou naturais, mas imperceptíveis ao olhar descuidado. A importância das suas obras está centrada na ênfase dada aos “despropósitos”, ao “vazio”, ao “desimportante”, ao “desprezível”, fatores esses que se elevam na linguagem original do poeta. De uma forma carregada de sensibilidade, Manoel de Barros escreve igual O Menino que Carregava Água na Peneira (1999), fixada à luz da fotografia poética impressa em Ensaios fotográficos (2007). Conforme Câmara Jr. (1999, p. 140) “a eficiência de uma comunicação lingüística depende, em última análise, da escolha adequada das palavras, e a arte de bem falar e escrever é chamada, com razão, a arte, da palavra”. Na arte poética a escolha das palavras se concretiza de maneira ainda mais evidente. Cada escritor constrói seu estilo baseado nas escolhas vocabulares que lhe são peculiares. Embora haja uma grande dificuldade de se definir, ao certo, o conceito de estilo, segundo Monteiro (1991, p. 12), “em última instância, seria uma forma peculiar de encarar a linguagem com uma finalidade expressiva”. Para Martinet (1976, p. 91 apud MONTEIRO, 1991, p. 12), “o estilo está em função de dois processos: ou como um conjunto de escolhas ou como um afastamento em relação à norma”. É interessante notar que o conceito de estilo para Murry (1949, p. 65 apud MONTEIRO, 1991, p. 11) é a “qualidade de linguagem peculiar ao escritor, que comunica emoções ou pensamentos”. Em resumo, pode-se afirmar, então, que o estilo define-se a partir da junção dessas várias concepções. E, por fim, as escolhas de determinados vocábulos ou determinadas linguagens formam as expressões, delineiam o poema ou a escrita literária, como manifesto da emoção, resultando, assim, em uma expressividade transmitida, de modo peculiar, por pelo autor da obra de arte escrita. A partir dessa miscelânea de idéias sugere-se um conceito de estilo. Este trabalho tem o objetivo de apresentar alguns dos vários elementos estilísticos na obra Ensaios fotográficos (2007). Nessa obra, Manoel de Barros cria as suas expressões, lança-as nos poemas e dá a eles um grande grau de expressividade naquilo que há de mais simples, muitas vezes, imperceptível pelos olhares dos seres comuns, ou, dos não poetas. No poema “O Fotógrafo”, o poeta transforma tudo aquilo que é intocável, invisível, inimaginável aos olhos humanos em fotografias. No poema “Gorjeios” existe a relação entre o começo e o fim, no qual o poeta procura identificar a primeira nota, isto é, os gorjeios, para o desenvolvimento de uma música, o canto. O poema “A Borra”, sugere reflexão o jogo dualista entre os valores simples e arrojados ou complexos presentes nos fatos corriqueiros da vida humana.
MATERIAL E MÉTODOS: Este estudo de cunho bibliográfico delimitou-se em analisar os poemas “O Fotógrafo”, “Gorjeios” e “A Borra” da obra Ensaios fotográficos (2007). Foram observadas as funções da linguagem e as figuras de linguagem, assim como os aspectos que envolvem a estilística fônica na construção dos poemas de Manoel de Barros. Como arcabouço teórico para embasar este estudo foi utilizada a teoria de autores tais como: Câmara (1978 e 1999), Moisés (2000) e Monteiro (1991), Goldstein (2000) e outros. No primeiro momento fez-se a leitura das teorias estilísticas como meio de conhecer as definições acerca de estilo. Em seguida, realizou-se a leitura completa da obra Ensaios fotográficos (2007), para especificar os poemas a serem analisados, bem como para limitar ou fazer um recorte do estudo. Assim, após essa sequência de ações, foi realizada a análise estilística dos poemas escolhidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em “O Fotográfo” a foto a que o autor se refere não são as imagens que se vê no plano concreto, e sim, àquelas apenas visualizadas no plano da imagem aglutinada à ação, quer dizer, no plano da imaginação. É o que se permite verificar no seguinte trecho do poema: “fotografei o perfume” (BARROS, 2007, p. 11). A expressividade que percorre toda a composição do poema é de certo muito sugestiva, tornando a escrita subjetiva e carregada de uma linguagem metafórica tal como se percebe na leitura dos versos: “Difícil fotografar o silêncio/[...] Madrugada a minha aldeia estava morta [...]/Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado [...]/Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra...” (BARROS, 2007, p. 11). Manoel de Barros, com o seu criar poético, faz constatar a verdadeira definição de Poesia, ou seja, ao trabalhar os fatos desimportantes que permeiam a vida, o autor deixa fluir a ação imaginária da qual é composta a manifestação poética. A poesia, que, conforme Hegel (apud MOISÉS, 2000, p. 111), “representa o espírito para o espírito, sem dar às suas expressões uma forma visível e corpórea”. A partir desse caráter próprio da poesia, analogamente, chega-se a mais uma aproximação do conceito de expressividade dado pelos estudos estilísticos. E ainda “tal caráter consiste justamente no fato de a manifestação e a exteriorização de todo conteúdo poético se encontrarem reduzidos ao mínimo, senão a zero”. Ao escrever, Barros apropria-se do mínimo e, até mesmo, do nada, para exteriorizar, exatamente, o conteúdo poético do qual Hegel trata. O uso de algumas expressões metafóricas faz-se presente nesses e em outros versos do poema “O Fotógrafo”. A linguagem carregada de emotividade suscita e torna quase que real a fotografia do silêncio, a morte de uma aldeia, o silêncio que carrega um bêbado, a lesma pregada na existência, como se tudo isso fosse, de fato, possível acontecer. Por outro lado, todas essas expressões eclodem e se transformam em reais por meio da conotação que, segundo Lefebve (apud MONTEIRO, 1991, p. 19), é “o sentido que existe virtualmente como resultado da experiência com o objeto representado ou das associações que nascem do uso da palavra”. De modo geral, o poema “O Fotógrafo” é, por si, metalingüístico, uma vez que no final da sua leitura, percebe-se o autor falando da poesia, do poeta e do poema, utilizando-se da própria poiesis: “[...] por fim eu enxerguei a Nuvem de calça./Representou para mim que ela andava na aldeia de/ braços com Maiakovski – seu criador./ Fotografei a Nuvem de calça e o poeta./Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa/ mais justa para cobrir a sua noiva./A foto saiu legal” (BARROS, 2007, p.12). Esse fragmento de “O Fotógrafo” evoca, assim, o efeito estilístico, não só por meio do uso da função de linguagem metalingüística, mas, também, por meio das funções emotiva e poética que percorrem e atravessam todo o poema, atribuindo a ele um tom de subjetividade marcado na poeticidade e no estilo da escrita peculiar do poeta Manoel de Barros. “O Fotógrafo” torna-se não apenas um captador de imagens; ele se torna um transformador de todo o ambiente fotografado e é capaz de modificar a foto ruim. Nesse contexto, o artista fotográfico “fotogeniza” a imagem desagradável e a torna agradável, de boa aparência. A aparente falta de sentido atribuída à captação da fotografia pelo eu-lírico indica a representação não somente dos objetos, do intocável, do incorpóreo, mas suscita, especialmente, a personificação real de toda expressão sentimental e emotiva que eclode juntamente com a seleção das palavras empregadas pelo poeta, no texto. Seguindo esse mesmo raciocínio, pode-se dizer que a explosão da emotividade sugerida no poema equivale à própria natureza do poético, definida por Moisés (2000, p. 110) como “a manifestação sensível do Espírito, o belo artístico correspondente à situação em que, conforme Hegel (apud MOISÉS, 2000, p. 110), “o ideal manifesta a sua verdadeira natureza ao fazer que a existência exterior se interaja no espiritual, de tal modo que a fenomenalidade exterior, conformada ao espírito, se torne a sua revelação”. Desviando um pouco mais essa análise para os recursos puramente estilísticos, encontra-se neste poema a presença de algumas figuras de linguagem que, segundo Gonçalves (2009) “são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso lingüístico para expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso”. A elipse, que é a omissão de um termo não citado anteriormente no contexto, mas detectado pela desinência verbal, é visto no segundo verso de “O Fotógrafo”: “[...] Entretanto tentei[...]”. Assim, o verbo em destaque apresenta o pronome EU elíptico. (BARROS, 2007, p. 11), exemplos semelhantes se repetem no nono, no décimo primeiro, no décimo terceiro e em outros versos que compõem o poema. O autor faz o uso da reiteração como meio de reforçar uma mesma idéia citada anteriormente. Nos fragmentos em destaque, a repetição utilizada por Manoel para fins estilísticos: “[...] Ia o silêncio carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado (BARROS, 2007, p. 11). É importante observar nesse mesmo trecho outro recurso estilístico de grande carga expressiva, mas quase imperceptível aos olhos do leitor, localizado no vocábulo carregador. Sob outra ótica, essa palavra pode ser interpretada neste contexto da seguinte forma: O silêncio é um CARREGAdor, isso porque, o zeugma, O silêncio, carrega o bêbado. Analogamente, o bêbado é por si um carregaDOR. No outro poema em análise os “Gorjeios” representam, estilisticamente, as primeiras notas que na sequência irá gerar o canto ou a música. Assim, a carga expressiva da palavra gorjeio – o começo – torna-se mais importante do que a palavra canto – o fim –, pois é a partir das notas musicais que surge o canto. Para o eu-lírico, o gorjeio é mais bonito do que o canto, porque na sucessão natural dos acontecimentos, ele vem em primeiro lugar, logo, o canto nasce do gorjeio. Conforme Câmara Jr. (1978, p. 19), “a personalidade linguística caracteriza-se pelos traços não coletivos do seu sistema e pela manifestação psíquica que funciona em sua linguagem. Por outro lado, os traços não coletivos do sistema são fáceis ou, antes, indubitavelmente transpostos para o plano da emoção e da vontade expressiva”. Semelhante recurso lembra a expressividade no uso do vocábulo gorjeio utilizada por Gonçalves Dias, no poema “Canção do Exílio”: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. (DIAS, 2009). E ainda, “a liberdade que a língua faculta num ou noutro ponto permite-nos ser originais continuando, pelo menos, inteligíveis; e essa oportunidade o nosso espírito aproveita para o fim das suas exigências expressivas” (CÂMARA JR. 1978, p. 19). Observando dessa maneira, tanto Manoel de Barros quanto Gonçalves Dias, usam a liberdade facultada pela língua para configurar outro valor de sentido expressivo às palavras gorjeio e canto, manifestando, assim, a exteriorização psíquica no estilo adotado por cada um dos autores. O início do poema de imediato evidencia o uso da figura de linguagem denominada símile, que tem a função de comparar ou aproximar uma idéia com outra, por meio de uma conjunção: “Gorjeio é mais bonito do que canto [...] Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado” (BARROS, 2007, p. 13). Na sequência do poema, encontra-se a função poética da linguagem, quando o poeta diz: “[...] porque nele (no termo anafórico gorjeio) se inclui a sedução” (BARROS, 2007, p. 13). Na sedução está o próprio encantamento poético que se torna ainda mais vibrante quando se diz no terceiro verso do poema: “É quando a pássara está enamorada que ela Gorjeia” (BARROS, 2007, p. 13). O uso da enálage, figura cujas formas e função não existem na gramática, a qual é criada a partir de uma construção inesperada, atribui um efeito de grandiosidade expressiva, gerando a poeticidade no texto. A anáfora, segundo Goldstein (2000, p.52), é a figura de linguagem caracterizada pela repetição dos mesmos termos no início ou no final dos versos e explorada pelo autor nos seguintes versos: “É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas. É por isso que as árvores deliram. Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram” (BARROS, 2007, p. 13). Vale ressaltar também que as construções as árvores deliram e as árvores ficam loucas não se constituem apenas como uma anáfora, mas reiteram metaforicamente o estado de sentimento de sedução provocado pelo gorjeio das pássaras, assim, enaltecidas por Barros. Além dessa tonalidade afetiva adotada na linguagem expressiva de Manoel de Barros, é detectada ainda em “Gorjeios” a presença dos efeitos de aliteração do fonema /s/, e assonância produzida pelo fonema /a/, que promovem a musicalidade do poema: “É por isso que As Árvores delirAm. Sob o efeito dA seduçÃo dA pÁssArA As Árvores delirAm. E se orgulhAm de terem sido escolhidAs pArA o concerto. As flores dessAs Árvores nAscerÃo mais perfumAdAs” (BARROS, 2007, p. 13). O último poema analisado, “A Borra”, o efeito dualista preenche todo o seu espaço poético. Quase que sob um efeito peripético, aquilo que se considera desprezível e ruim se torna bom e o que é considerado bom se torna ruim: “Prefiro as palavras obscuras que moram nos fundos de uma cozinha – tipo borra, latas, cisco/ Do que as palavras que moram nos sodalícios – Tipo excelência, conspícuo, majestade” (BARROS, 2007, p. 61). Tal sentido pode ser facilmente identificado a partir do uso da antítese que, de acordo com Goldstein (2000, p.76), é “a figura que aproxima termos de sentido oposto”, no qual o poeta compara duas idéias opostas. No 3º verso, o uso da marca comparativa Prefiro as [...] do que [...], determina a escolha/preferência do eu lírico por algo em detrimento de outro. As relações de oposição prevalecem neste poema de Manoel, gerando todo o sentido do texto. As palavras obscuras que moram nos fundos de uma cozinha, remetendo-se às expressões pobres, as quais, geralmente, predominam nas classes sociais economicamente desfavorecidas. Contrapõem-se com as palavras que moram nos sodalícios, fazendo alusão às construções vocabulares ricas, presentes no convívio da sociedade elitizada ou favorecida economicamente. Esse jogo de expressividade é usado por Manuel de Barros como um meio de evidenciar as relações de poder e diferenças sociais existentes. Em todo o percurso poético o autor explora sutilmente a subjetividade para suscitar a ironia que marca o poema. Nesse sentido, a peripécia ocorre de fato, pois a valoração atribuída, ou melhor, representada no poema, por meio das palavras dos sodalícios tais como: excelência, conspícuo, majestade, príncipe, almirante e senador, na realidade, perdem o seu valor; dando espaço às palavras aparentemente desprezíveis tais como borra, latas, cisco, bêbedos, bocós, andrajos. Dentro desse arranjo estilístico, o autor brinca e satiriza com as palavras, bem como com os ambientes nos quais elas costumam estar inseridas. Assim, no jogo do contrário, o sentido também se expressa de modo convexo: as palavras obscuras da cozinha, ausentes de valor, são expressivamente valorizadas no poema; e as palavras respeitáveis dos sodalícios, imponentes pelo seu valor – na verdade desvalorizadas ou, valoradas falsamente – são reduzidas ao nada, são desprezíveis da mesma forma que os “alter-egos são todos borra, ciscos, pobres-diabos” (BARROS, 2007, p. 61). A essa inversão brusca, na linguagem literária, se dá o nome de peripécia. A ironia, “figura pela qual se sugere o contrário do que se quer dizer”, fica expressamente marcada nos versos: “[...] Um dia alguém me sugeriu que adotasse um/Alter-ego respeitável – tipo um príncipe, um/Almirante, um senador” (BARROS, 2007, p. 61). Como sugestão de um fim para a análise desse poema de Manuel de Barros, observa-se o uso das consoantes oclusivas bilabiais /p/ e /b/ e dentais/alveolar/pós-alveolar /t/ e /d/, estabelecendo no texto um som explosivo que delineia parte da sonoridade e da musicalidade presente no poema: “[...] TamBém os meus alTer-egos são ToDos Borra, ciscos,/PoBres-DiaBos/Que PoDeriam morar nos funDos De uma cozinha/TiPo Bola SeTe, Mário Pega SaPo, Maria Pelego PreTo etc”. (BARROS, 2007, p. 61)
CONCLUSÕES: Todos os efeitos de estilo tanto de expressividade quanto de emotividade imbricam-se um no outro quase sem haver distinção de significado, assim, misturam-se e ficam registrados na obra de Manoel de Barros. Essa ideia de sobreposição de sentidos só é válida nesse contexto somente se desconsiderar, é claro, a formalidade semântica que diferencia a expressividade da emotividade, e considerar somente o ponto de vista estilístico na liberdade do compor poético ou literário do autor, cuja inspiração brota daquilo que há de mais simples para alcançar sob forma de pura sensibilidade, o complexo. Talvez esse comentário bastasse para definir a utilização dos recursos estilísticos dos quais o poeta usa e abusa em sua escrita. Falar dos feitos poéticos de Barros é mais do que isso; é transcender toda forma de horizontes e de explosões emotivas. “(...) A cada passo, no discurso, deparamos com o problema de transmitir a vibração de um estado d´alma ou a força de um apelo a formas que mais propriamente se prestam à representação pura. Há como uma tensão perene no instrumento lingüístico, posto assim ao serviço das emoções e dos impulsos da vontade. Em cada um de nós, o estilo, em dados momento, faz violência à língua não poucas vezes a dobra no seu interesse” (CÂMARA JR., 1978, p. 21). A articulação de sentidos distribuída nos poemas de Manoel de Barros encerra-se em toda carga de sentimentos e de expressividade no compor poético do autor. Por esse motivo único e particular de viver, de escrever, de fazer e, por que não dizer, de transportar-se para o imaginário, é que o Autor e O Fotógrafo Gorjeiam A Borra nos seus Ensaios fotográficos, o qual divide espaço ainda, com o seu Álbum de família. Eis que surge o estilo Manuelino de criar artístico, feito o próprio Manoel de Barros.
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