ENTENDENDO AS MULHARES...

As mulheres existem para ser amadas, não para ser entendidas

(Vinícius de Moraes)

Esse pensamento acima citado expressa bem a matéria que me disponho a cotejar neste momento. Aliás, o pensamento foi extraído do texto a que me refiro. Não estou citando o nome da autora do texto que passo a me referir porque não veio acompanhado no anexo.

Ocorre que hoje recebi um e-mail de um colega, trazendo no anexo uma narrativa de uma mulher que descreve com minúcias as horas que antecediam um encontro, mostrando as particularidades e as preocupações que tem uma verdadeira dama para vestir-se à altura quando está em vésperas de sair com algum pretendente. Aliás, embora a articulista se reporte a um encontro com um pretendente, a situação é peculiar a qualquer situação, pois, independente do compromisso assumido pela mulher, ela sempre terá a preocupação de estar impecavelmente bem vestida.

Eu sempre tive curiosidade sobre essa questão, pois, às vezes, pergunto-me porque minha mulher fica tão tensa e perde tanto tempo arrumando-se para ir à determinada festa, quando tudo aquilo poderia ser abreviado ou, ao menos, articulado de uma forma mais racional de forma que as coisas acontecessem sem tanto apego à causa, como comprar roupa nova, sapatos novos, bijuterias apropriadas, salão de beleza, horas à frente do espelho e até atrasos no momento de sair.

O artigo em questão é singelo e de uma franqueza que chega a impressionar, eis que sua autora mostra os detalhes das suas preocupações e todo o estresses que antecede o encontro, a ponto de tornar essas horas em idéias obsessivas no sentido de se tornar a pessoa mais bela da natureza, entretanto, essa tensão se transforma num certo martírio, posto que a mulher - a princípio - joga com uma expectativa que não poderá alcançar como meio estético de beleza. Ou melhor, ela projeta sobre si uma certa ficção porque almeja uma beleza que talvez não possa alcançar, já que reúne na sua convicção um certo pessimismo, por se achar gorda, ou se achar magra demais, ou por achar que tem certa saliência na barriga, por ter pernas muito finas, enfim, quer tornar-se personagem da sua própria visão de beleza. Isso lhe faz ficar refém do seu padrão de beleza que é vislumbrado além das suas possibilidades. Essa a razão de trocar vários vezes um vestido, de vestir uma blusa e depois achar que não deve usá-la. De calçar um sapato e descartá-lo logo em seguida. De usar um colar e não se sentir bem com ele, embora o tenha achado o mais lindo quando o viu na loja. Essa questão vem assim enfatizada na matéria ora tratada, da seguinte forma: "Depois vem a hora de se vestir. Homens não entendem, mas tem dias que a gente acorda gorda. É sério, no dia anterior o corpo estava lindo e no dia seguinte... PORCA! Não sei o que é (provavelmente nossa imaginação), mas eu juro que acontece. Muitas vezes você compra uma roupa para um evento, na loja fica linda e na hora de sair fica um horror."

O fato é que as mulheres não se vestem para o momento social, mas sim para elas próprias e principalmente para as outras, porque há entre elas uma certa competição que não assumem, mas que prevalece intimamente na sua consciência. Isso vem expressado com clareza na narrativa a que me refiro, quando autora diz: "Alias, ele não vai perceber nada. Você pode aparecer de Armani ou enrolada em um saco de batatas, tanto faz. Eles não reparam em detalhe nenhum, mas sabem dizer quando estamos bonitas (só não sabem o porquê). Mas, é como dizia Angie Dickinson: 'Eu me visto para as mulheres e me dispo para os homens'. Ora, por que tanto trabalho? Como explicar o fato da mulher se arrumar tanto e fazer um esforço imensurável de tornar-se a mais bonita possível, mesmo sabendo que o pretendente não irá dar tanto valor para isso? Ela sabe disso, mas no fundo espera que seja notada, não diretamente por quem a acompanha, mas espera ser apreciada pelas outras mulheres que também estão presentes no evento social, pois, assim, indiretamente, estará mostrando para seu parceiro todo o seu valor estético, em face do aspecto comparativo que toma conta de um ambiente festivo, pois enquanto o homem se diverte com o lado descontraído da festa a mulher espera ser notada pela sua beleza. O alcance dessa finalidade é que lhe renderá uma noite grandiosa e cheia de alegria. Esse é o prêmio pela sua dedicação de tantas horas no período de tensão que antecedeu a festa.

Achei interessante (na narrativa citada) o fato da autora dizer que até a questão da escolha da calcinha se torna um drama. Diz ela que essa peça íntima encerra os dois lados da medalha: um dos lados é o confortável e o outro o estético. O confortável encerra aquela peça que de longe induz erotismo ou sexualidade. Essas peças, geralmente, são grandes e folgadas, feitas de tecido fofo (de algodão); como as cuecas dos homens. Já aquela peça que possui sentido oposto e que tem o padrão da sexualidade, compõe-se de tecidos desconfortáveis, com cavas acentuadas. Ou melhor, estamos falando daquelas calcinhas que se entravam nas partes íntimas e se tornam um incômodo para a mulher. Sobre esse assunto diz a articulista, verbis: "Ok, você achou uma roupa que ficou boa. Vem o dilema da lingerie. Salvo raras exceções, roupa feminina (incluindo lingerie) ou é bonita, ou é confortável.

Você olha para aquela sua calcinha de algodão do tamanho de uma lona de circo.

Ela é confortável. E cor de pele. Praticamente um método anticoncepcional. Você pensa 'Eu não vou dar para ele hoje mesmo, que se dane'. Você veste a calcinha. Aí bate a culpa. Eu sinto culpa se ando com roupa confortável, meu inconsciente já associou estar bem vestida a sofrimento. Aí você começa a pensar 'E se mesmo sem dar para ele, ele pode acabar vendo a minha calcinha...

Vai que no restaurante tem uma escada e eu tenho que subir na frente dele... se ele olhar para essa calcinha, broxará para todo o sempre comigo...'. Muito P da vida, você tira a sua calcinha amiga e coloca uma daquelas mínimas e rendadas, que com certeza vão ficar entrando na sua bunda a noite toda. Melhor prevenir..."

Outra coisa tratada na matéria e que me causou risos, vem da parte onde a autora diz sobre a escolha de roupas desconfortáveis que anulam qualquer prazer durante o evento social. Quem ainda não sentiu um sapato apertado, quando no início parece tudo bem, quando a gente fica com a esperança do sapato lacear, mas ele continua intransigente na sua constituição original e não cede de jeito nenhum. Aí vem o peso da escolha, pois esse desconforto exige que só fique sentado e quando vai andar doí até o pensamento. Interessante a forma hilária com que o tema é tratado à luz da mente criativa da nossa autora: "Quando é comigo, passo tanto estresse que chego no jantar com um pouco de raiva do cidadão. No meio da noite, já não sinto mais meus dedos do pé, devido ao princípio de gangrena em função do sapato de bico fino. Quando ele conta piadas e ri eu penso 'É, eu também estaria de bom humor, contando piada, se não fosse essa calcinha intra-uterina raspando no colo do meu útero'. A culpa não é deles, é minha, por ser surtada com a estética."

Enfim, quem sou eu para falar sobre as manias e as obsessões das mulheres. Arrisquei-me a tecer tais considerações porque baseado em uma narrativa pessoal que achei consentânea com a realidade de muitas mulheres que nos rodeiam.

A verdade é que senti obrigação de alertar os homens para essa particularidade que - para a mulher - é uma coisa importante e, que, para nós - os parceiros - é um detalhe quase imperceptível, mas que acompanha nosso dia-a-dia e que temos a obrigação de entender as razões para tanto. Aliás, termino este artigo enfatizando a observação que vem expressada na própria matéria cotejada, onde sua autora alerta: "Por isto amigos, valorizem seu próximo encontro e aprendam um pouco mais, sobre este ser fantástico, chamado mulher."

Machadinho
Enviado por Machadinho em 10/09/2009
Reeditado em 11/09/2009
Código do texto: T1802427