O MEDO E O SUSTO
E de repente o medo tomou conta da situação ante o susto há pouco sofrido. Não era um dia como tantos outros, nessa cidade que parece querer engolir cada um com suas determinações. Morar na cidade exige certas adaptações, e disto sabem os habitantes oriundos de outras localidades. Bucólicas, algumas áreas talvez possam parecer e estimular os sentidos mais secretos, e, no entanto, saibam os amantes platônicos que nada se realiza quando se tem como objetivo apenas a contemplação da coisa ou pessoa amada. E a cidade que cresce sem pedir passagem não perdoa a quem espera o trem passar. Porque quem muito espera, não vislumbra outras possibilidades para a realização e num mundo que só quer campeão, o terceiro lugar nada mais é que a indicação que não se dedicou satisfatoriamente. E como numa banca de apostas, os dados atirados, não haverá espaço para desculpas que não diminuirão o ônus da derrota.
E a mídia que dilacera os incautos e ingênuos pretendentes ao estrelado, os bajulará até esses não se reconhecerem como indivíduos. E quando não tiver mais o que oferecer como audiência, ou quando suas vidas privadas tornarem-se domínio público; os escândalos ou fofocas fabricadas serão o próximo capítulo daquele resto de vida.
Mas vem a pergunta: é tudo culpa da mídia?
Impossível atribuir tudo à mídia, pois nessa relação de troca se verifica o compartilhamento de interesses. É verdade que ao artista interessa aparecer, e á mídia, a venda da imagem ou o que dela se divulga, interessa ampliar seus ouvintes, leitores ou espectadores e disso resulta mais audiência e anunciantes.
Então como resolver essa equação que se apresenta toda vez que se tenta resolvê-la? Podemos dizer que não há uma solução ou responder-se-á que enquanto os interesses forem se satisfazendo ambas as partes não mexerão nesse contrato tácito. Ou, ainda, que tentar por um fim a essa matemática, soará como uma tarefa de Sísifo.
Conclui-se que à mídia, enquanto meio, qualquer meio, que sirva para a transmissão de informações, sob todas as maneiras – impressa, gráfica, por imagem, etc. -, cabe ter no seu horizonte a certeza que está mexendo com pessoas e seus sentimentos e que, como tais, sujeitas às emoções e erros esperados de qualquer ser humano. Não proponho censura ou qualquer forma de controle prévio, mas querer que enquanto meio de divulgação, tudo é permitido, não parece o melhor caminho. Basta olharmos algumas notícias mais antigas e descobriremos que quando se divulga informação não confirmada e apurada com rigor por quem torna pública a informação, os estragos, já feitos, não serão consertados mesmo com um “erramos”.
E retornando ao começo do artigo, o medo tomou conta da situação ante ao susto sofrido porque certa vizinha lera que o filho da sua vizinha fora preso, e sua foto estava na primeira página do jornal. Acusado por ter participado de um assalto numa loja de revelações de filmes fotográficos, o rapaz fora pego pela polícia e se encontrava na delegacia do bairro. Seus familiares e as vítimas correram para a delegacia e contaram que a foto lá encontrada era de um pacote de revelação, pertencente ao cliente, que fora jogado no chão pelos assaltantes.
Esclarecido o engano, o rapaz foi solto, os verdadeiros assaltantes presos. E o jornal colocou um “erramos”, mas até hoje o rapaz é conhecido como o rapaz do assalto. E o jornal continua colocando outros “erramos”.