Obesidade infantil - uma batalha a cada dia...


A obesidade infantil é fator alarmante nas estatísticas sobre saúde. Não obstante, a sociedade ainda não se deu conta deste fato e não está envolvida no combate ao problema, mesmo sabendo que dele se origina um grande número de doenças de risco com conseqüências gravíssimas, como as cardiovasculares (todas as doenças relacionadas ao coração e artérias), que estão entre as doenças que mais matam no mundo, hipertensão arterial, diabetes, câncer e muitas outras que, em longo prazo, causam degenerações (artroses) de articulações da coluna, quadris, joelhos e tornozelos.

E como se não bastassem esses riscos, a criança obesa ainda é vítima de todos os tipos de discriminação igualmente graves e maléficos, vez que ferem como lâminas finíssimas e afiadas. Entre eles citarei alguns que vivenciei e que conheço bem as terríveis consequências:
- a perda da identidade entre os amigos, na escola e até mesmo dentro da própria família – o nome é normalmente substituído por apelidos que marcam e doem como ferro incandescente: “o fofinho, o gordinho, a baleia, o meteoro, o saco de areia, rolha de poço” e por aí afora;
- a dificuldade de relacionamento – ela tem pouquíssimos amigos e por não ter a mesma agilidade que as outras (as não obesas), geralmente é excluída das brincadeiras diárias, fato que a faz isolar-se e fingir desinteresse pelas mesmas;
- o medo da solidão – motivo pelo qual tantas vezes age como que indiferente às gozações dos colegas, por temer perdê-los, chegando ao ponto de rir junto como se nada lhe doesse.

Depoimento

Há dez anos e meio, minha filha caçula então com dezesseis anos, nos deu um presente maravilhoso, trazido em asas de anjos (com laço de fita e tudo) – nasceu a Gabriella – nossa menininha.

A mudança em nossa vida e em nossa casa foi integral, e para que nosso pequeno anjo crescesse em segurança, a delicadeza dos objetos e enfeites foi substituída pela alegria do seu riso e das músicas que sempre cantou ainda antes de saber falar.

Aos quatro anos, por ocasião da mudança de seu pai para Portugal, as coisas tomaram rumo diferente. Ela começou a ganhar peso muito além do permitido para a sua idade e tamanho – foi diagnosticada a obesidade. Tinha início então uma difícil maratona: acompanhamento por nutricionista (três anos) e por psicólogo (um ano), ambos sem sucesso.

Estávamos tomados pela preocupação e desespero ao acompanhar o crescente excesso de peso em seu pequeno corpo e a terrível discriminação a que era submetida diariamente, a mesma anteriormente citada e com todos os requintes de crueldade. Não tínhamos como controlar a atitude das pessoas. Era-nos impossível defendê-la.

Recorremos à escola e não obtivemos nenhum tipo de ajuda na valorização da educação alimentar e no combate à discriminação. A mudança (de escola) foi inevitável e fomos bem sucedidos na escolha, mas a obesidade continuava sem controle.

Em 01/11/2007, já com oito anos, 1,40m e 57 quilos, conhecemos o Programa TOI – Tratamento da Obesidade Interdisciplinar – já veiculado no Globo Repórter (Rede Globo) e em outros canais de televisão pelo enorme sucesso e benefício. Este Programa, coordenado pelo Médico Nutrólogo Dr. Sandro Trindade Benites, é desenvolvido no Hospital Rosa Pedrossian (SUS), no Hospital Geral (Hospital Militar) e em sua Clinica Particular – Clínica TOI, todos em Campo Grande/MS.
Era a luz que procurávamos no fim do túnel.

Iniciamos o tratamento, o qual exige a participação, envolvimento e integração de toda família na mudança de hábitos da casa, a começar pela reeducação alimentar e obrigatoriedade de exercícios físicos diários. A criança obesa precisa da colaboração, do amor e da força de vontade de todos a ela diretamente ligados, sem críticas e cobranças individuais, para a obtenção do sucesso.

Reside na família a responsabilidade pelo tratamento, seja ele da forma que for e dure o tempo que durar, levando em consideração todos os riscos à saúde causados pela obesidade.

Trata-se, e precisamos estar cientes disso, de um TRATAMENTO DIFICÍLIMO; uma guerra a ser enfrentada todos os dias e que, em muitos momentos, ter-se-á a sensação de derrota. É preciso muita força e nem a mais tênue sombra do desânimo para vencer. Não podemos perder de vista que lidamos com mudança de hábitos, alimentos e crianças. Submetê-las às atividades físicas obrigatórias e tirar-lhes as guloseimas é como se tirássemos o sol de seus dias.

Hoje, após ter emagrecido 12 quilos, a Gabriella é uma pré-adolescente linda, feliz e com a certeza de que estamos juntos nessa guerra e não vamos perdê-la!

Apelo

Como educadora, e por vivenciar o problema, faço um apelo às instituições de ensino para que cumpram o seu papel, posto que têm a obrigação de cuidar de seus alunos no tempo em que estes estão sob sua responsabilidade (a este cuidado incluem-se a integridade física, moral e a saúde), sejam eles obesos ou não. Enquanto as cantinas escolares lhes oferecerem doces, frituras, salgados e refrigerantes, oferecem também a oportunidade de se tornarem obesos, esquecendo-se ainda que nossas crianças em tratamento continuam sendo vítimas da discriminação, ridicularizadas por levarem suas frutas ou seus lanches balanceados.

Trabalhemos a educação para uma vida saudável de forma a envolver toda comunidade escolar e todas as disciplinas. Não podemos nos iludir acreditando que ao falarmos deste assunto em aulas estanques (Ciências e Educação Física) vamos obter sucesso absoluto. Ele é resultado do conjunto de esforços.

Famílias e escolas precisam se dar as mãos em prol da saúde dos nossos filhos!
Socorro às nossas crianças obesas!!

Aplausos à nossa Gabriella pelo esforço enorme em ajudar e colaborar ainda que muito lhe custe!

Agradecimentos ao Dr. Sandro Trindade Benites, pelo acompanhamento, orientações contínuas, pela força nos momentos de crise e pelo bem enorme que tem feito a Gabriella.

Quero encerrar com uma frase que aprendi com ele e que pratico constantemente para me dar forças:

__ “Por amor ao seu filho diga não... (não ao excesso de alimentação errada, de tempo frente à TV, ao computador... não aos excessos)!”

Por amor ao seu filho, diga NÃO, ainda que isso muito lhe doa...
Por amor...