Eu amo pardais

Certa vez ao ler sobre a adaptabilidade notável dos pardais à agitação da cidade grande, passei a observar melhor essas criaturinhas e com isso tornei-me um admirador delas.

Até fiz um soneto em sua homenagem (veja no final).

Divertia-me muito com seus pulinhos e estrepolias, olhando-as da janela no pátio do prédio onde moro. Colocava comida para elas nas jardineiras das janelas e gostava muito da algazarra que faziam todo dia bem cedinho.

É certo que eles não têm o charme colorido de outros pássaros. Nem fazem sucesso como cantores... mas são encantadores!

Também gostam do chão, mas não sabem caminhar com a elegância do joão-de-barro. O jeito deles de andar é dando pulinhos.

Os pardais se misturam com outras aves para disputar a comida. Pode ter surgido daí o motivo de uma acusação popular.

"O pássaro nativo daqui era o tico-tico. E o pardal afugentou o tico-tico. Você só encontra o tico-tico praticamente para o interior, onde não existe mais o pardal”, disse alguém, ecoando a opinião de muitos.

O biólogo Pedro Ernesto Ventura faz a defesa do pardal. E põe a culpa na urbanização...

"Isso já foi estudado e o que parece que aconteceu é que o tico-tico desapareceu de boa parte da cidade por causa exatamente dessas modificações introduzidas pelo homem. E o pardal, pelo contrário, ele se beneficia das modificações que o homem faz no meio ambiente. Tanto que ele se reproduz em forros de casa, em telhados, em beirais, encanamentos entupidos", explica o biólogo.

Há mais ou menos um ano, meus amiguinhos desapareceram da minha vizinhança. Fiquei preocupado. Fiz uma consulta pela Internet e diversas pessoas de várias partes do Brasil disseram que também tinham sumido da sua. Outros disseram: “Aqui está cheio deles.”

Por fim descobri o motivo do sumiço: onde há muitos pombos disputando comida com eles, preferem migrar para outro lugar.

Isso comprova que não são vilões que expulsam outros, ao contrário, cedem o espaço.

Com tanta facilidade de adaptação, os pardais se tornaram as aves mais numerosas do planeta, depois das galinhas.

Os pardais existem no mundo todo. Até nos lugares frios, com exceção dos pólos. No Brasil, eles não chegaram voando. Vieram de navio.

Em 1906, o Rio de Janeiro sofria com doenças transmitidas por mosquitos, como a malária, por exemplo. O prefeito Pereira Passos mandou importar, de Portugal, 200 pardais. Eles foram soltos no Campo de Santana, no centro da cidade.

A mão-de-obra imigrante contratada para ajudar no saneamento e reforma urbana daqueles tempos não funcionou muito. Os pardais se alimentam de insetos mais na fase reprodutiva, quando precisam de muita proteína para os filhotes.

O macho é quem faz o ninho, sozinho. Aí, em um ritual de dança, ele convida uma fêmea para ver a casa. Se ela gostar, logo vai botar três ou quatro ovinhos. Está explicado porque todo fim de tarde tem tanta algazarra de pardais...

Eu amo essas criaturinhas de Deus as defendo. Se for meu amigo não fale mal delas!

PARDAIS

Em toda parte os vejo! e a cada dia

me encanta mais seu jeito divertido;

horas a fio às vezes, entretido

fico assistindo à sua estrepolia!

São tão comuns que até despercebido

passa, talvez, seu chilro à maioria...

Sua presença alegre, todavia,

foi Deus quem planejou - deve ter sido!

Estranha opção a desse passarinho

que prá viver em meio ao burburinho

abandonou a paz do seu roçado...

Nesses pardais, percebo claramente:

é a natureza que se faz presente

em meio à selva de cimento armado!