A GUERRA ENTRE O BRASIL E O JAPÃO
                NA DÉCADA DE 40  


                          
da série
                  Segunda Grande Guerra Mundial



     Considerando que na Segunda Grande Guerra Mundial o Brasil se alinhou aos Países Aliados que se opunham aos Países do Eixo (Itália, Alemanha e Japão), muitos japoneses que imigraram para o Brasil sofreram, como é natural num cenário de guerra, uma antipatia da sociedade brasileira. Vale ressaltar que até 1939, ano da eclosão da segunda grande guerra, o Brasil, assim como a Argentina, era simpático aos países do Eixo, devido ao grande contingente de italianos, alemães e japoneses aqui radicados. Porém, manteve-se na neutralidade até o episódio do afundamento de navios cargueiros brasileiros por submarinos italianos e alemães. 

     Cedendo às pressões populares e, também, dos norte-americanos, nossos governantes não tiveram outra alternativa senão declarar guerra, em 1942, aos países do Eixo. Na sequência, algumas bases no território nacional (Fernando de Noronha e Natal) foram cedidas aos, agora, aliados norte-americanos. Finalmente, em 1944, o primeiro contingente da FEB - Fôrça Expedicionária Brasileira, com alguns soldados nisseis (filhos de japoneses) em suas fileiras, embarcou rumo à Itália, onde foi incorporado ao  V Exército norte-americano. 

     Com a chegada de informações sobre mortes de soldados brasileiros nos campos de batalha da Itália, a antipatia sutil aos imigrantes italianos, alemães e japoneses se intensificou, transformando-se em intolerância aberta.

     Vale ressaltar que, para conquistar a simpatia do povo brasileiro, os formuladores da estratégia americana de cooptação criaram um programa de "intercâmbio cultural" para aproximar os dois países, agora aliados. Quem não se lembra do papagaio Zé Carioca, criado pelos estúdios da Walt Disney? Quem não se lembra dos filmes estrelados por Cármen Miranda, atriz luso-brasileira, produzidos pelos estúdios de Hollywood?  Assim, o Brasil que, até então, tinha forte influência européia começou a adotar valores da cultura norte-americana, que perduram até hoje.

     Como o Japão foi o último país do Eixo a capitular (a Itália e a Alemanha já tinham se rendido), as atenções do mundo se voltaram nervosamente para as batalhas navais no Pacífico entre os EUA e o Japão, onde o destino do mundo seria decidido. Finalmente, em agosto de 1945, o Japão se rendeu em decorrência das duas bombas atômicas lançadas pelos norte-americanos. Cabe observar que em nenhum momento da segunda guerra mundial, soldados brasileiros se defrontaram diretamente com soldados japoneses.

     Hoje, os norte-americanos estão fazendo uma releitura desapaixonada de sua participação na 2a. Grande Guerra, objetivando corrigir alguns erros do passado. A famosa foto dos fuzileiros navais hasteando a bandeira dos EUA na ilha japonesa de Iwo Jima, que tantos filmes, poemas e livros inspirou, na verdade não foi um flagrante romântico da vitória militar mas, sim, uma pose bem estudada para fins de propaganda... Clint Eastwood não ficou menos patriota ao mostrar, corajosamente, essa farsa em seu filme "Em nome da Honra".


Esta foto não foi um flagrante mas, sim, uma pose estudada



     Os norte-americanos, que tanto criticaram os nazistas, também criaram seus campos de concentração: os japoneses que viviam nos EUA foram "concentrados" em diversos campos do território americano, enquanto muitos jovens nipo-americanos (filhos e netos dos imigrantes japoneses) eram enviados para a Europa para combater os alemães.
 

Campo de concentração de japoneses no Texas, EUA, em 1945



     Vale registrar que os soldados nipo-americanos e os afro-americanos formavam batalhões étnicos específicos, sob o comando de oficiais brancos. Ironia do destino: Barack Obama, na formação de seu gabinete, nomeou para chefiar a Secretaria de Assuntos de Veteranos de Guerra um general de exército descendente de japoneses; um nipo-americano, portanto... Na época da 2a. grande guerra, a xenofobia norte-americana era tanta que até o Peru, país neutro na 2a. Grande Guerra, deportou os imigrantes japoneses de seu território para os campos de concentração dos EUA, "à pedido" do governo daquele país. Décadas depois do encerramento do conflito, o governo americano reconheceu oficialmente o erro e, além do pedido de desculpas, vem indenizando as famílias de americanos de origem japonesa pela referida "concentração forçada indevida".

     Não há registro de como os governantes peruanos pós-guerra administraram essa questão. Talvez, a eleição de Alberto Fujimori para a presidência do Peru tenha sido uma forma inconsciente da sociedade daquele país corrigir o grave erro ético e moral cometido contra a sua própria comunidade de imigrantes japoneses. Um processo de mea culpa, talvez...

     No Vale do Paraíba e Interior, em São Paulo, e em Tomé-Açú, no Pará, parece que tivemos também nossos "centros de reeducação" para os perigosos italianos, alemães e japoneses... Será que nós brasileiros não devemos começar a revisar a nossa própria história, seguindo o exemplo dos norte-americanos?



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Dedico este texto ao soldado brasileiro Kodama, um veterano da FEB ainda vivo, que combateu com valentia e patriotismo os soldados nazistas nos campos da Itália.



Encontro de Kodama e Nils Zen
no quartel-general do 2o. Exército, em 2009

















Nils Zen
Enviado por Nils Zen em 06/09/2009
Reeditado em 31/01/2010
Código do texto: T1796137
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