Celebrações de Setembro
ARTIGO - [ 05/09 ]
Celebrações de Setembro - Edgard Steffen
Notícia publicada na edição de 05/09/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A. Na velhice a gente dá para repetir casos antigos, porém jamais com a mesma precisão, porque cada lembrança é um arremedo de lembrança anterior*
Lindas manhãs setembrinas talvez estejam mais gravadas em meu coração e reminiscências que, propriamente, nos registros meteorológicos
Na Padaria Real, esperando ser atendido, cumprimenta-me o (até então) desconhecido. - O senhor não é o doutor Edgard que escreve no Cruzeiro? Estende-me a mão e declina seu nome - Benedito. Muito prazer! Leio sempre a sua coluna. Enquanto tartamudeio palavras de agradecimento, completa sua cortesia - O que eu mais gosto é quando o senhor fala das coisas do passado, daquelas histórias que o senhor viveu... Após breve diálogo, sobraçando grande saco de pães ainda quentinhos, lá se foi Benedito - camiseta indicando condição de “Voluntário” - afável figura de homem simples, em direção a algum evento de seu voluntariado. Alegrou-me a manhã de domingo.
Diante do computador, em busca do que abordar neste início de mês, lembrei-me dos beneditos dispostos a perder alguns minutos com leitura de escrevinhações recordativas. Por eles, não temo pecha de repetitivo e vou falar sobre gente importante para minha vida.
Vivo num país em que a marcação das estações é imprecisa - o verde sempre presente, dias quentes no inverno da mesma forma que podemos ser impelidos a buscar agasalhos em pleno verão - mas, a memória atávica de meus antepassados europeus continua viva em meu inconsciente. A chegada da primavera trazendo as primeiras flores e o primeiro canto dos pássaros deve ter sido, para eles, grande alegria; flores e trinados sinalizavam que poderiam trabalhar, ao ar livre, sob bafejo acalentador do sol. Como eles, sempre esperei a primavera. Com ansiedade pueril, contava os dias até chegarem feriados prolongados que me permitissem ir ao rancho em busca dos piaus, pacus e dourados.
Setembro dos dias lindos. Lindas manhãs setembrinas talvez estejam mais gravadas em meu coração e reminiscências que, propriamente, nos registros meteorológicos. Por feliz coincidência, no mês que abre a Primavera, nasceram figuras queridas, que fizeram e fazem parte de minha vida.
Áureo Cavaggioni completará 80 amanhã (6/9). Diretor de Escola, aposentado, vive retirado em sua chácara de Nova Odessa. Com ele dividi traquinagens da infância, sonhos de adolescente e, na idade adulta, o ensejo de ver consolidados nossos respectivos projetos de vida..
Newton Fahl (12/9), primo-quase-irmão, radicado em Londrina (Pr), dentista aposentado, comigo dividiu andanças, pequenos trabalhos, pescarias, brincadeiras no Sítio do Capão Grande, e bancos escolares (ele sempre o 1º da classe) no Cesário Motta e no Culto à Ciência de Campinas.
Ayrton, dos sobrinhos o mais velho, também aniversaria no 28 deste mês. Está preso à cadeira de rodas, mas se mantém livre do pessimismo e das lamentações. Dotado de arguta inteligência, continua plugado no que se passa no mundo, conforme o observa pela janela global da Internet. Além de compadre, foi meu parceiro de barco e andanças pelos rios do Coxim (MS).
O Sete de Setembro sempre foi especial. Ao feriado nacional, acrescentava-se a comemoração do aniversário de meu pai Christiano Steffen. Alguém escreveu sua biografia: “Não somente por sua estatura moral, prestígio social e político, mas, especialmente, por causa de seu elevado senso de justiça era conselheiro e mediador em questões de divisas territoriais, partilha de bens, desavenças familiares, etc. Nesse particular muito fez em benefício dos humildes que não tinham condições para contratar um advogado”. Juiz de paz, vice-prefeito, vereador, delegado de polícia, presidente da banda, fundador do E.C. Primavera, da Escola da Cruz Alta, da Igreja Luterana de Indaiatuba, terminou seus dias como humilde funcionário público municipal.
Os bons augúrios de setembro concretizaram-se com nascimento de meu filho mais velho, Edgard Jr.. Nem sempre estivemos concordes no campo político (foi líder estudantil da UEE e UNE) ou nas preferências musicais (foi roqueiro na Banda Vzyiadok Moe), mas, orgulho-me ao ver meu primogênito honrar e dignificar o nome herdado. Atleta, arquiteto, empresário, trabalhador, pai amoroso aniversaria neste 18 de setembro.
De meu pai, a saudade. Para meu filho, bênçãos. Para os amigos, abraços fraternos. Ao Deus Eterno, gratidão por todos eles e pelos setembros de nossas vidas.
(*) Eulálio D'Assumpção, personagem, in Leite Derramado de Chico Buarque de Holanda
Edgard Steffen é médico pediatra (edgard.steffen@gmail.com)