MESTRE NASCIMENTO DO PASSO

Publicado no Diário de Pernambuco

Opinião

05 09 2009

Estou em viagem e recebo um e-mail informando que Nascimento do Passo falecera. O frevo está de luto. Sabia que ele encontrava-se enfermo já há algum tempo, mas para mim a noticia foi como um acorde dissonante nada agradável, e sim, chocando com a bela melodia que o frevo sempre nos oferece.

Francisco do Nascimento Filho, nascido no dia 28 de dezembro de 1936, na cidade de Benjamim Constant, no Amazonas. Veio parar no Recife em 1949, e trabalhou como carregador de frete, engraxate, entre outras atividades exercidas.

Foi um exemplo de amazonense que tinha o coração pulsando o ritmo pernambucano, diferentemente de muitos aqui nascidos. Ele esteve sempre batalhando pelo frevo, mesmo sem condições para promovê-lo como gostaria.

Contudo, perseverante e obstinado pelo frevo, ele foi um embaixador autêntico e vibrante para divulgar no Brasil e exterior o que temos de mais representativo em termos de música pernambucana. Com certeza, vai deixar saudade e uma lacuna difícil de ser preenchida...

Lutou com muitas dificuldades, com bravura e destemor transpondo todas as fases negativas pelas quais o frevo passou, já que não havia o apoio necessário e merecido para sua promoção.

Mesmo assim, ele ignorou todos os obstáculos e honrou sobremaneira o Diploma de Cidadão do Recife e de Pernambuco, além de outras justas e merecidas homenagens que lhes foram conferidas, mercê do seu inquestionável trabalho pelo frevo pernambucano.

Não foram poucas as oportunidades em que estivemos juntos. Nos lançamentos dos CD's Frevos de Rua, Os Melhores do Século sempre contava com a sua participação juntamente com alunos de frevo.

Tudo acontecia no Forte das Cinco Pontas, local que escolhi para representar a trincheira dos amantes do nosso ritmo tão rico e exuberante...

Podemos afirmar com convicção, que valeu todo o seu sacrifício. Com sua pertinácia deixou escola, fincou um exemplo de luta que resultou em vitória. Foi homenageado pelo consagrado artista Antonio Nóbrega, que fezfluir na letra do frevo que fez para ele a performance que encenava nos seus inesquecíveis passos:

"...Entrei no passo / Do morcego e do saci, / Tramelei no do siri, / Cruzei tesoura no ar.

Na dobradiça, / Eu peguei minha sobrinha, / Passeando na pracinha, / Chutando de calcanhar.

No frevedouro, / Fiz um grande rebuliço, / Preto, branco e mestiço / Eu chamei pro bafafá. / Azuretada, / A curriola destrambelha, / Saculeja, se destelha, / No maior calunguejar.

Os passos que ele ensinou deverão ser a trilha que muitos haverão de seguir, para que o frevo seja perpetuado como majestade única e maior do nosso carnaval.

LUIZ GUIMARAES
Enviado por LUIZ GUIMARAES em 05/09/2009
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