Senti uma compaixão extrema pela cantora, embora ela não precise. Vanusa tem seu valor e a história de uma vida inteira para provar seu talento como compositora e intérprete.
ELA - [ 04/09 ]
Gentileza gera gentileza - Estela Casagrande
Notícia publicada na edição de 04/09/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno Ela.
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Nas manhãs de setembro"
Foram os versos belíssimos da canção Manhãs de Setembro, composição de Vanusa e Mário Campanha que me vieram à mente enquanto assistia a sofrível interpretação do Hino Nacional pela cantora, na Assembleia Legislativa de São Paulo, em março, que somente agora caiu na rede.
A mesma Vanusa que queria ensinar o vizinho a cantar nas manhãs de setembro, se perdia na letra e na música do hino que já foi nosso tormento na escola, quem há de negar?
Quem nunca trocou aquele “lábaro que ostentas estrelado” que atire a primeira pedra. Mas Vanusa errou o hino quase inteiro. Depois do primeiro erro, foi adiante trocando os compassos e as palavras. Inventando algumas até.
Senti uma compaixão extrema pela cantora, embora ela não precise. Vanusa tem seu valor e a história de uma vida inteira para provar seu talento como compositora e intérprete.
Sobre o fiasco do hino, ela contou, em entrevista, que não estava bêbada, que estava sob efeito de remédios e tensão nervosa. Não sei se convenceu alguém. No dia, recebeu atendimento médico e a levaram para casa.
O que fiquei abestalhada mesmo foi com uma mesa inteira de autoridades e um salão lotado de pessoas, que ficaram apenas olhando e se olhando, rindo ou indignando-se. Ninguém teve a iniciativa da ação. Qualquer ação. Puxar o coro do hino com o arranjo usual, desligar o microfone da cantora, agradecer, bater palmas, qualquer coisa que acabasse com aquela agonia que foi ouvir a cantora tentar até o fim cantar o hino pátrio perdendo-se cada vez mais nos erros. É como ver uma pessoa com o zíper da calça aberto ou alface nos dentes e não avisar. Meias trocadas, blusa no avesso, dente sujo de batom. A lista é longa. Mas ninguém fica na memória de outro porque um dia andou o dia todo com a blusa no avesso.
Será que Vanusa ficará na memória por ter errado o hino uma vez na vida ou por ter composto Mudanças, um quase-hino feminista?
Se um dia eu tiver alface nos dentes, por gentileza, me avise. Eu prometo fazer o mesmo.
estela.casagrande@jcruzeiro.com.br
Links relacionados:
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