Quem escreveu o Novo Testamento?
Estudiosos do cristianismo admitem que não sabem. Admitem que, se os quatro evangelhos tivessem sido escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João, então estariam em hebraico. Entretanto, nenhum manuscrito de quaisquer dos evangelhos jamais foi encontrado em hebraico. Todos foram escritos em grego. Assim, teólogos educados admitem que as Epístolas – Tiago e Judas – foram escritas por pessoas que desconheciam totalmente os quatro evangelhos. Nestas duas epístolas não é feita qualquer alusão aos evangelhos e nem aos milagres que relatam.
A mais antiga referência encontrada a um dos quatro evangelhos foi feita cerca de cento e oito anos após o nascimento de Cristo, e os quatro evangelhos foram pela primeira vez nomeados e citados no começo do terceiro século, cerca de cento e setenta anos após a morte de Cristo.
Hoje sabemos que havia muitos outros evangelhos além dos quatro, alguns dos quais perderam-se. Havia o evangelho de Paulo, dos Egípcios, dos Hebreus, da Verdade, de Judas, de Tadeu, de Infância, de Tomé, de Maria, de André, de Nicodemos, de Marcião e vários outros.
Havia os Atos de Pilatos, de André, de Maria, de Paulo, de Tecla e muitos outros; também havia um livro chamado O Pastor de Hermas.
A princípio nenhum desses livros era considerado inspirado. Achava-se que o Velho Testamento era divino, mas os livros que atualmente constituem o Novo Testamento eram considerados meras produções humanas. Hoje temos consciência de nossa ignorância quanto aos verdadeiros autores dos quatro evangelhos.
A questão é: os autores destes quatro evangelhos estavam inspirados?
Se estavam, então os quatro evangelhos necessariamente são verdadeiros. E se são verdadeiros, obviamente devem concordar entre si.
Os quatro evangelhos não concordam.
Mateus, Marcos e Lucas desconheciam totalmente a recompensa e a salvação através da fé. Conheciam apenas o evangelho da boa ação – da caridade. Ensinam que, se perdoarmos aos outros, Deus nos perdoará.
Com isso o Evangelho de João não concorda.
Neste evangelho é dito que precisamos crer no Senhor Jesus Cristo; que precisamos nascer novamente; que precisamos beber o sangue e comer a carne de Cristo. Neste evangelho encontramos a doutrina da recompensa e a de que Cristo morreu e sofreu por nós.
Este evangelho é completamente divergente dos outros três. Se os outros três são verdadeiros, então o Evangelho de João é falso. Se o Evangelho de João foi escrito por um homem inspirado, então os autores dos outros três careciam de inspiração. Para isto não há escapatória. É impossível que os quatro sejam verdadeiros.
É evidente que há muitas interpolações nos quatro evangelhos.
Por exemplo, no 28o capítulo de Mateus é dito que os soldados da tumba de Cristo foram subornados para dizerem que os discípulos de Jesus furtaram seu corpo enquanto eles – os soldados – dormiam.
Isso é claramente uma interpolação, uma interrupção na narrativa.
O 10o verso deveria ser seguido pelo 16o.
O 10o verso: “Então lhes disse Jesus: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão para a Galiléia; ali me verão”.
O 16o verso: “Partiram, pois, os onze discípulos para a Galiléia, para o monte onde Jesus lhes designara”.
A história sobre os soldados está contida nos versos 11, 12, 13, 14 e 15. É uma interpolação – uma reflexão posterior, muito posterior. O 15o verso demonstra isto.
O 15o verso: “Então eles, tendo recebido o dinheiro, fizeram como foram instruídos. E essa história tem-se divulgado entre os judeus até o dia de hoje”.
Certamente esta passagem não estava no evangelho original, e certamente o 15o verso não foi escrito por um judeu. Nenhum judeu escreveria isto: “E essa história tem-se divulgado entre os judeus até o dia de hoje”.
Marcos, João e Lucas nunca souberam que os soldados foram subornados; ou, se souberam, não julgaram que tal fato merecia ser registrado. Ou seja, as passagens sobre a Ascensão de Jesus Cristo em Marcos e Lucas são interpolações. Mateus não diz qualquer coisa sobre a Ascensão.
Certamente nunca houve um milagre de maiores proporções, e mesmo assim Mateus, que estava presente – que viu o Senhor ascender aos céus e desaparecer –, não o julgou digno de menção.
Por outro lado, as últimas palavras de Cristo, de acordo com Mateus, contradizem a Ascensão: “e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. (cf. Mateus 28:20)
João, que estava presente, se é que Cristo realmente ascendeu, não diz sequer uma palavra sobre o assunto.
Quanto à Ascensão, os evangelhos não concordam.
A seguir está transcrita a última conversa de Cristo com seus apóstolos segundo Marcos: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados. Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus.” (cf. Marcos 16:15-19)
Será possível que tal descrição foi escrita por um indivíduo que testemunhou este milagre?
O milagre foi descrito por Lucas desta forma: “E aconteceu que, enquanto os abençoava, apartou-se deles; e foi elevado ao céu”. (cf. Lucas 24:51)
Nos Atos é dito que: “Tendo ele dito estas coisas, foi levado para cima, enquanto eles olhavam, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos”. (cf. Atos 1:9)
Nem Lucas, Mateus, João ou o autor de Atos ouviram qualquer palavra da conversa atribuída a Cristo por Marcos. O fato é que a Ascensão de Cristo não foi alegada pelos seus discípulos.
A princípio Cristo era apenas um homem – e nada mais. Maria era sua mãe, José era seu pai. A genealogia de seu pai, José, foi apresentada para demonstrar que ele tinha o mesmo sangue de Davi.
Então se alegou que ele era o filho de Deus e que mãe era uma virgem – e permaneceu virgem até sua morte.
Então se alegou que Cristo levantou dentre os mortos e ascendeu corporalmente ao céu.
Foram necessários muitos anos para que essas absurdidades se apoderassem das mentes dos homens.
Se Cristo levantou-se dentre os mortos, por que não apareceu aos seus inimigos? Por que não fez uma visita a Caifás, o sumo sacerdote? Por que não fez outra entrada triunfante em Jerusalém?
Se realmente ascendeu, por que não o fez em público, na presença de seus perseguidores? Por que o maior dos milagres deveria ser feito em segredo, num canto?
Foi um milagre que poderia ter sido visto por uma vasta multidão – um milagre impossível de ser simulado –, que teria convencido centenas de milhares.
Após a história da Ressurreição, a Ascensão tornou-se uma necessidade: precisavam se livrar do corpo.
Há muitas outras interpolações nos evangelhos e epístolas.
Pergunto novamente: o Novo Testamento é verdadeiro? Será que alguém ainda acredita que no nascimento de Cristo houve uma saudação celestial; que uma estrela guiou os magos do oriente; que Herodes matou todos os meninos de dois anos para baixo que havia em Belém?
Os evangelhos estão repletos de narrativas de milagres. Eles realmente ocorreram?
Mateus relata os pormenores de aproximadamente vinte e dois milagres, Marcos cerca de dezenove, Lucas ao redor dezoito e João por volta de sete.
De acordo com os evangelhos, Cristo curou doenças, expulsou demônios, repreendeu o mar, curou os cegos, alimentou multidões com cinco pães e dois peixes, caminhou sobre as águas, amaldiçoou uma figueira, transformou água em vinho e ressuscitou os mortos.
Mateus é o único que fala sobre a estrela e os magos – o único que menciona o assassinato dos bebês.
João é o único que diz algo sobre a ressurreição de Lázaro e Lucas é o único que narra a ressurreição do filho da viúva de Naim.
Como seria possível comprovar tais milagres?
Os judeus, entre os quais diz-se que os milagres ocorreram, não acreditavam neles. Os doentes, os paralisados, os leprosos e os cegos que foram curados não se tornaram seguidores de Cristo. Nunca mais se ouviu falar daqueles que foram ressuscitados.
Será que qualquer homem inteligente acredita na existência de demônios? Os autores dos três evangelhos certamente acreditavam. João não diz nada sobre Cristo ter expulsado demônios, mas Mateus, Marcos e Lucas dão muitos exemplos.
Será que qualquer homem de bom senso acredita que Cristo expulsava demônios? Se os discípulos o disseram, estavam enganados. Se cristo o disse, era um maluco ou um impostor.
Se as passagens sobre a expulsão de demônios são falsas, então os escritores eram ignorantes ou desonestos. Se seus escritos revelam ignorância, então não estavam inspirados. Se tinham consciência de que estavam escrevendo falsidades, então também não estavam inspirados. Se o que escreveram é uma inverdade – não importa se o sabiam ou não – certamente não havia inspiração.
Naquela época acreditava-se que a paralisia, a epilepsia, a surdez, a insanidade e muitas outras doenças eram causadas por demônios; acreditava-se que os demônios apossavam-se e viviam nos corpos de homens e mulheres. Cristo acreditava nisso, pregou isso e fingiu curar doenças expulsando os demônios dos doentes e insanos. Se hoje sabemos alguma coisa, é que doenças não são causadas pela presença de demônios. Se hoje sabemos alguma coisa, é que demônios não habitam os corpos dos homens.
Se Cristo disse e fez o que os autores dos três evangelhos relatam, então Cristo estava enganado. Se estava enganado, certamente não era Deus. Se estava enganado, certamente não estava inspirado.
Será verdade que o Demônio tentou cristo?
Será verdade que o Demônio levou Cristo ao topo do templo e tentou induzi-lo a pular ao chão?
Como tais milagre podem ser comprovados?
Os mais importantes não escreveram nada, Cristo não escreveu nada, o Demônio permaneceu em silêncio.
Como podemos ter certeza de que o Demônio tentou Cristo? Quem redigiu a narração? Não sabemos. Como o autor tomou conhecimento do fato? Não sabemos.
Alguém, a dezessete séculos atrás, disse que o Demônio tentou Deus; que o Demônio levou Deus ao topo do templo e tentou induzi-lo a pular, mas Deus foi mais esperto que o Demônio.
É apenas essa a evidência que temos.
Será que na literatura mundial há algo mais perfeitamente imbecil?
Pessoas inteligentes não acreditam mais em bruxas, magos, fantasmas ou demônios, e estão plenamente satisfeitas com a idéia de que cada palavra do Novo Testamento sobre a expulsão de demônios é totalmente falsa.
Podemos acreditar que Cristo ressuscitou os mortos?
A viúva de Naim está acompanhando cortejo de seu filho até a tumba. Cristo interrompe o funeral e ressuscita o jovem rapaz e o devolve aos braços de sua mãe.
Este jovem rapaz desaparece. Nunca mais se ouve falar dele. Ninguém parece se interessar pelo homem que retornou da morte. Lucas é o único que conta esta história. Talvez Mateus, Marcos e João nunca tenham ouvido falar dela, ou não a acreditaram, e portanto não a registraram.
João diz que Lázaro foi ressuscitado; Mateus, Marcos e Lucas não falam qualquer coisa sobre isso.
Foi um milagre ainda mais belo que o ressuscitamento do filho da viúva. Este último não tinha sido sepultado por dias, estava apenas a caminho de sua tumba, mas Lázaro estava de fato morto, já tinha começado a decompor-se.
Lázaro não suscitou o menor interesse. Ninguém perguntou a ele sobre o outro mundo. Ninguém perguntou sobre seus amigos mortos. Quando morreu pela segunda vez, ninguém disse: “Ele não está temente. Já atravessou esta estrada e sabe exatamente para onde está indo”.
Não acreditamos nos milagres de Maomé, contudo eles são tão bem comprovados quanto estes. Não acreditamos nos milagres feitos por Joseph Smith(3), e as evidências são muito maiores, muito melhores.
Se hoje aparecesse um homem fingindo ressuscitar os mortos, fingindo expulsar demônios, o consideraríamos um maluco. O que, então, podemos dizer a respeito de Cristo? Se quisermos salvar sua reputação, seremos forçados a admitir que ele nunca fingiu ressuscitar os mortos, que ele nunca alegou expulsar demônios.
Precisaríamos, então, partir do pressuposto de que essas façanhas impossíveis e ignorantes foram inventadas pelos seus discípulos, que buscavam divinizar seu líder.
Naqueles dias de ignorância essas falsidades serviam para tornar Cristo famoso, mas agora lançam descrédito contra os autores dos evangelhos.
Será que hoje em dia podemos acreditar que água foi transformada em vinho? João relata esse milagre pueril, e diz que os outros discípulos também estavam presentes, contudo Mateus, Marcos e Lucas não dizem qualquer coisa a respeito.
Peguem o milagre do homem curado pelo tanque de Betesda. João diz que um anjo agitou a água do tanque de Betesda, e que o primeiro a entrar nele após o movimento da água seria curado de qualquer enfermidade. (cf. João 5:4)
Será que hoje em dia alguém ainda acredita que um anjo foi até o tanque e agitou a água? Alguém acredita que o pobre coitado que entrou nela primeiro foi curado? O autor do Evangelho de João acreditava e afirmava essas absurdidades.
Se ele estava enganado quanto a isto, talvez também estivesse quanto a todos os outros milagres que documentou.
João é o único que fala sobre o tanque de Betesda. Provavelmente os outros discípulos não acreditavam na história.
Como podemos dar crédito a esses falsos milagres?
Na época em que os discípulos viveram – e muitos séculos após – o mundo era abarrotado de explicações sobrenaturais. Quase tudo que acontecia era considerado milagroso. Deus era o governador imediato do mundo inteiro. Se as pessoas fossem boas, Deus enviava tempos de plantio e colheita; mas se fossem más, enviava dilúvios, granizo, geadas e fome. Se acontecia algo muito bom, o fato era exagerado até que se transformasse num milagre.
As pessoas não tinham qualquer noção, qualquer conhecimento sobre a ordem dos eventos – sobre a inquebrável cadeia de causas e efeitos.
Milagres são um símbolo da fraude. Nenhum milagre jamais aconteceu. Nenhum homem inteligente e honesto jamais fingiu realizar milagres, e nunca o fará.
Se Cristo tivesse realizado os milagres atribuídos a ele; se tivesse curado os paralíticos e os loucos; se tivesse concedido a audição aos surdos e a visão aos cegos; se tivesse curado leprosos com uma simples palavra, se com um toque tivesse dado vida e força a um membro atrofiado; se tivesse dado pulso e movimento, calor e consciência ao frio e inerte barro; se tivesse conquistado a morte, escapando das pálidas garras da sepultura – então nenhuma palavra seria pronunciada, nenhuma mão seria levantada, salvo em seu louvor e honra. Em sua presença todas cabeças estariam descobertas e todos joelhos contra o chão.
Não é estranho que durante o julgamento de Cristo não se tenha encontrado qualquer indivíduo que testemunhasse a seu favor?
Nenhum homem deu um passo à frente e disse: “Eu era leproso e este homem me curou com um toque”.
Nenhuma mulher disse: “Eu sou a viúva de Naim e este é meu filho, o qual foi ressuscitado por este homem”.
Nenhum homem disse: “Eu era cego e este homem me deu visão”.
Tudo era silêncio.
Somente por volta século III afirmou-se ou creu-se que os livros constituintes do Novo Testamento eram inspirados.Lembremos que havia um grande número de livros, Evangelhos, Epístolas e Atos, e que homens “não inspirados” selecionaram quais deles eram “inspirados”.
Entre os “Pais” havia grandes divergências de opinião quanto aos livros realmente inspirados; muita discussão e muito ódio. Vários dos livros atualmente considerados espúrios eram julgados divinos por muitos dos “Pais”; alguns dos que atualmente são considerados inspirados eram tidos como espúrios. Muitos dos primeiros cristãos e alguns dos “Pais” repudiaram o Evangelho de João, a Epístola dos Hebreus, de Judas, de Tiago, de Pedro e a Revelação S. João. Por outro lado, muitos deles consideravam o Evangelho dos Hebreus, dos Egípcios, a Pregação de Pedro, o Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé, a Revelação de Pedro, a Revelação de Paulo, a Epístola de Clemente, o Evangelho de Nicodemos, como autênticos livros inspirados.
Dentre esses livros, e muitos outros, os cristãos selecionaram os inspirados.
Os homens que fizeram a seleção eram ignorantes e supersticiosos. Acreditavam firmemente em milagres. Pensavam que doenças tinham sido curadas pelos aventais e lenços dos apóstolos, pelos ossos dos mortos. Acreditavam na fábula da Fênix e também que a hienas mudavam de sexo anualmente.
Os homens que, ao longo de muitos séculos, fizeram a seleção estavam inspirados? Aqueles homens – ignorantes, crédulos, estúpidos e maliciosos – eram tão bem qualificados para julgar a “inspiração” quanto os estudiosos de nosso tempo? O que nos prende à opinião deles? Não temos o direito de julgar nós mesmos?
Erasmo, um dos líderes da Reforma, declarou que a Epístola dos Hebreus não havia sido escrita por Paulo, negou a inspiração da Segunda e Terceira de João e também a da Revelação. Lutero tinha a mesma opinião. Declarou que Tiago era uma epístola sem valor e negou a inspiração da Revelação. Zwingli rejeitou o livro da Revelação e mesmo Calvino negou que Paulo era o autor de Hebreus.
A verdade é que os protestantes só entraram em acordo quanto à inspiração dos livros em 1647, na Assembléia de Westminster.
Para provar que um livro é inspirado é preciso provar a existência de Deus. Também é necessário provar que este Deus pensa, age, tem objetivos, finalidades e alvos. Fazê-lo é um pouco difícil.
É impossível conceber a idéia de um ser infinito. Não tendo a concepção de um ser infinito, é impossível dizer se todos fatos que conhecemos tendem a provar ou refutar a existência de tal ser.
Deus é uma suposição. Mas mesmo admitindo-se a existência de Deus, como poderíamos provar que ele inspirou os escritores dos livros da Bíblia?
Como um homem pode estabelecer a inspiração de outro? Como um homem inspirado pode provar que está inspirado? Como ele próprio sabe que está inspirado?
É impossível provar o fato de se estar inspirado. A única evidência que possuímos é a palavra de um homem.
O que é inspiração? Deus usa homens como instrumentos? Fez com que escrevessem seus pensamentos? Tomou posse de suas mentes e suprimiu suas vontades? Esses escritores estavam apenas parcialmente controlados, daí seus equívocos, sua ignorância e seus preconceitos estarem misturados com a sabedoria de Deus?
Como podemos distinguir os erros do homem dos pensamentos de Deus? Podemos fazê-lo sem estarmos inspirados? Se os autores originais estavam inspirados, então os tradutores também deveriam estar, assim como os intérpretes da Bíblia.
Como é possível a um ser humano ter consciência de que está inspirado por um ser infinito? Mas de uma coisa podemos ter certeza: um livro inspirado certamente deve ser superior a quaisquer outros livros produzidos por homens não inspirados. Deve, acima de tudo, ser verdadeiro, repleto de sabedoria, prosperidade e beleza – deve ser perfeito.
Os ministros perguntam-se como posso ser pervertido o suficiente para atacar a Bíblia.
Bem, vou responder: este livro, a Bíblia, perseguiu – às vezes até a morte – os melhores e mais sábios dentre os homens. Este livro atravancou e paralisou o progresso da raça humana. Este livro envenenou as fontes do conhecimento e descaminhou as energias do homem.
Este livro é inimigo da liberdade – apóia a escravidão. Este livrou semeou o ódio em famílias e nações, alimentou as chamas da guerra e empobreceu o mundo. Este livro é o sustentáculo dos reis e tiranos – o escravizador de mulheres e crianças. Este livro corrompeu parlamentos e cortes. Este livro fez com que faculdades e universidades ensinassem erros e odiassem a ciência. Este livro encheu a cristandade de seitas odiosas, cruéis, ignorantes e autoritárias. Este livro ensinou o homem a matar seus semelhantes em nome de Deus. Este livro fundamentou a Inquisição, inventou instrumentos de tortura, construiu calabouços nos quais homens bondosos apodreciam, forjou as correntes que se enferrujaram envolvendo seus corpos e erigiu os patíbulos nos quais foram mortos. Este livro colocou os justos em troncos(4). Este livro despojou a razão da mente de milhões e encheu os asilos de malucos.
Este livro fez com que pais e mães derramassem o sangue de seus bebês. Este livro era o tablado sobre o qual as mães escravas ficavam durante os leilões que as separariam de suas crianças. Este livro rendeu muito aos vendedores de escravos e transformou carne humana em mercadoria. Este livro acendeu as chamas que consumiram as “bruxas” e “feiticeiras”. Este livro transformou a escuridão na morada de fantasmas e os corpos de homens e mulheres na morada de demônios. Este livro poluiu as almas dos homens com o infame dogma da danação eterna. Este livro transformou a credulidade na maior das virtudes e a investigação no maior dos crimes. Este livro encheu nações de eremitas, monges e freiras – de gente fanática e inútil. Este livro colocou os santos ignorantes e imundos acima dos filósofos e filantropos. Este livro ensinou o homem a desprezar as alegrias desta vida para poder ser feliz na outra – a desperdiçar este mundo em nome do próximo.
Ataco este livro porque é um inimigo da liberdade humana – a maior travanca no progresso da humanidade.
Senhores ministros, me permitam fazer-lhes uma pergunta: como vocês podem ser pervertidos o suficiente para defenderem este livro?