O Mal de Adamski (IV)

DENTRO DAS ESPAÇONAVES

Em 18 de Fevereiro de 1953, conforme relata em seu livro “Inside the Space Ships” (“Dentro das Espaçonaves”, 1955), Adamski estava hospedado num hotel em Los Angeles quando foi procurado por dois homens de aparência e roupas comuns que pediram que os acompanhasse. Embora o motivo do convite não tenha sido declinado, o professor de Palomar Gardens não hesitou em embarcar no sedã Pontiac preto que havia trazido os dois estranhos e este se pôs em movimento. Após rodarem para fora da cidade, chegaram a um local ermo onde – surpresa – estava pousado um disco voador semelhante ao que ele havia visto no deserto, meses antes. E junto ao veículo já o aguardava o mesmo ufonauta louro, só que dessa vez, para felicidade geral, falando num inglês fluente e quase sem sotaque.

Aparentemente os homens do espaço precisavam de um porta-voz para disseminar sua mensagem junto aos nativos e Adamski fora o escolhido para a missão. Para tanto, se dispunham inclusive a levá-lo num passeio pelo espaço sideral, onde poderia travar contato com a avançada e benévola civilização que se dispunha a zelar pelo bem-estar dos habitantes do planeta mais atrasado do Sistema Solar – sim, a Terra. Adamski aduziu entusiasticamente e o disco voador decolou, levando-o para a estratosfera onde atracaram no hangar de uma nave-mãe.

Depois das belas fotografias de OVNIs inseridas por Adamski em “Os Discos Voadores Pousaram”, era de se esperar agora uma profusão de imagens do interior dos mesmos, de seus tripulantes e dos planetas vistos do espaço. Mas em “Inside the Space Ships” não há sequer um desenho explicativo, como no primeiro livro. Hugo Rocha, autor de “Outros Mundos, Outras Humanidades”, parte em socorro do professor de Palomar Gardens:

“Dirá Adamski, talvez, que um cético não deixará de o ser pelo fato de ver uma fotografia aparentemente verdadeira e que as objeções postas à autenticidade das fotografias insertas em ‘Flying Saucers Have Landed’ e, agora, por certo, também às insertas em ‘Inside the Space Ships’ não cessariam com a apresentação de fotografias de comandantes, oficiais, simples tripulantes, homens e mulheres, aspectos interiores e exteriores dos grandes e dos pequenos navios do espaço, pois nada mais fácil (o cinema nos dá flagrantes exemplos a tal respeito) do que simular, fantasiar, inventar aquilo que, na realidade, não existe...”

Pode ser, mas segundo a frase célebre, “uma imagem vale por mil palavras”. Se no que tange à trucagens e montagens cinematográficas em geral, Hugo Rocha tem uma parcela de razão, isso certamente não é válido no que toca às duas pilotos encontradas por Adamski a bordo da nave-mãe e com as quais conversou longamente. Ele gasta cerca de duas páginas discorrendo sobre a beleza quase divina de ambas, antes de reconhecer que tentar descrevê-las era “tentar o impossível”. Uma única fotografia teria dirimido essa dúvida. Pelo menos, ficamos sabendo que uma das beldades (Kalna, de Vênus) é loura e a outra, (Ilmuth, de Marte), morena. Se Adamski fosse um brasileiro contemporâneo, provavelmente as descreveria como as “Sheilas do espaço”...

Durante o bate-papo na sala de estar da nave, Adamski pensa em fumar um cigarro e olha em torno, procurando um cinzeiro. Não há nada que se pareça com um, e seu comportamento é imediatamente captado por Kalna, que lhe assegura que providenciará um “receptáculo para cinzas” se ele realmente desejasse fumar. Todavia, informa ela, apenas o “povo da Terra” pratica esse “estranho hábito”. E, algo que talvez servisse de consolo por nosso atraso em relação aos demais mundos habitados do Sistema Solar, não fosse por um detalhe: nosso modesto planeta seria um dos mais procurados portos do “turismo interplanetário”, atividade praticada com grande entusiasmo pela grande massa de extraterrestres, os quais não parecem ter muito com o que se preocupar na vida. O detalhe é que pelas medidas de segurança tomadas pelos visitantes, eles certamente devem estar preferindo observar os nativos à distância. Pelo telescópio.

Observações à distância, aliás, são a norma em “Inside the Space Ships”; em momento algum é permitido que o homem da Terra vá lá fora dar uma espiadinha pessoalmente. Por uma espécie de tela de TV ligada a um potente telescópio, Adamski vê as localidades sobrevoadas pela nave interplanetária. A face oculta da Lua revela tudo aquilo que ele já esperava encontrar: montanhas com picos cobertos de neve e escarpas arborizadas, rios desaguando em lagos, paisagens muito semelhantes às da Terra e povoações lunares, prova absoluta de que nosso satélite, além de habitável, é efetivamente habitado.

A mesma técnica de televisão a longa distância é empregada em sua viagem a Vênus. Novamente, há uma sucessão de paisagens bucólicas: majestosas montanhas nevadas com cascatas precipitando-se das alturas, rios caudalosos etc. O planeta certamente não tem deficiência de água, muito pelo contrário. É lhe revelado que existem ali sete oceanos e incontáveis lagos, todos ligados entre si por meio de canais, tanto naturais quanto artificiais. E as cidades constituem um capítulo à parte: fossem grandes ou pequenas, todas eram maravilhosas e deslumbrantes, construídas segundo uma configuração circular ou elíptica e repletas de edifícios com cúpulas policrômicas de cores prismáticas. Fato notável: em nenhuma delas se notava congestionamento de trânsito, algo que ressalta ainda mais o estado de subdesenvolvimento vivido pela humanidade terrestre.

(continua)