Medo da Polícia

MEDO DA POLÍCIA

Há tempos participei de um evento onde o palestrante perguntou ao auditório quais eram seus medos e temores. As respostas foram variadas, desde a morte, o desemprego, a violência, a injustiça, etc. O que mais chamou a atenção foi a resposta de um participante, que alegou ter medo da polícia. A resposta tornou-se mote para o próximo debate.

A truculência policial no Rio Grande do Sul assusta. O jovem Thomas Engel, de 15 anos, de uma família classe-média alta de Novo Hamburgo, desportista (era campeão de tênis) embora desarmado, foi assassinado por um oficial da Polícia Militar (Brigada Militar), durante uma abordagem, com um tiro de espingarda calibre 12. O crime foi perpetrado em 2001 e não foi feita a justiça devida. Depois foram as agressões covardes, com lesões corporais e constrangimentos contra professores e sindicalistas que protestavam por justiça, na Praça da Matriz.

Caiu o comando mas os desajustes psicológicos da corporação continuam. Agora, em agosto, a Brigada matou Elton Brum da Silva, 44 anos, dois filhos. um sem-terra, em São Gabriel (320 km da capital). Neste caso, agindo com aquele corporativismo que alimenta a impunidade, a Brigada está procurando “blindar” seu soldado, cujo nome é mantido em segredo. Se fosse um civil, já estava fotografado, algemado, com marcas de agressão, identificado e qualificado.

O soldado-anônimo declarou que atirou em legítima-defesa. Ora, para que se tipifique uma legítima-defesa, há necessidade que esta seja praticada ante uma ameaça injusta, atual e iminente. Ora, uma vítima de costas não caracteriza de forma alguma uma ameaça iminente. Espera-se que, no cumprimento da “Lei Hélio Bicudo” os bandidos sejam mandados a júri popular.

No último fim-de-semana, soldados da Brigada arrancaram e algemaram um motorista em serviço, dentro de um ônibus cheio de passageiros, em Canoas, apenas porque este exigiu que os policiais atendessem uma passageira que estava passando mal. Foi agredido covardemente pelos homens fardados. A barbárie foi documentada pela câmera do celular de um cidadão. O fato ainda requer as providências oficiais.

Um jornal da capital (Zero Hora, 31/08/2009) noticiou a facilidade com que seus repórteres compraram fardas da Brigada e circularam pela cidade como se policiais fossem. Por tudo isto, se robustecem duas teses atuais. Primeiro, o povo anda com medo da polícia, especialmente da “polícia militar” Segundo, conforme debates atuais, que essas entidades tornam-se apenas polícias, sem o rótulo de “militares”. Em geral, o homem fardado sente-se intocável e “mais homem” que os outros, e isso é danoso para a cidadania.