LOUVORES AO CAPIBARIBE
É muito agradável numa bela tarde frequentar um bar à beira do Rio Capibaribe, quase na periferia do Recife. Quando a maré enche, o Rio se movimenta em direção ao continente; quando a maré baixa, retorna em direção ao mar. É um movimento constante de cima para baixo, e de baixo para cima. O rio Capibaribe é o Rio dos grandes poetas. Manuel Bandeira o celebra em sua evocação do Recife; João Cabral de Melo Neto descreve os dois lados desse Rio que, juntando-se ao Beberibe, na linguagem popular, forma o Oceano Atlântico. O primeiro alumbramento de Manuel Bandeira nadou no Capibaribe. Mas também, neste Rio, o poeta encontrou "as cheias! Boi morto árvores destroços redemoinhos... os caboclos destemidos em jangadas..." O Capibaribe já foi a salvação e a desgraça do Recife. Os holandeses, as cheias e a poluição demonstraram o lado nefasto deste Rio; mas as águas deste Rio também lembram comparações majestosas. Ele faz do Recife a Veneza Brasileira. Suas pontes iluminadas, e sua visão do alto, são uma festa aos olhos. Tem alto potencial turístico.
A oportunidade de uma bela tarde, às margens do Capibaribe, nos permite uma rememoração das exaltações poéticas do passado, e nos confronta com o cenário real, que se movimenta diante de nossos olhos. Capibaribe, Capibaribe. Que descrição fazer deste Rio hoje? Belo rio, sem dúvida. Quando se afasta um pouco do mar, grande parte de suas margens fica escondida por mangues. Mas, estes mangues protegem o Rio, ou o escondem dos olhares puros de cidadãos, que não querem ver o que nele nada? Já não são as moças, que alumbraram Manuel Bandeira, que nele nadam. Estas foram substituídas por animais mortos, por sacos plásticos, por todos os tarecos imprestáveis da civilização de consumo. Tudo se joga ao Rio, e os mangues tudo escondem. As jangadas dos caboclos destemidos desapareceram. Já não há peixe saudável que se aventure por estas águas. E ele já não garante subsistência às famílias dos que teimam em continuar pescadores. E os pescadores deste Rio foram forçados a se filiarem à cultura dos pedintes deste grande Brasil. Vendo assim, o Capibaribe, dá dó.
O que faz com que os políticos não olhem este Rio com o carinho que merece? que os empresários não explorem suas potencialidades? que a população não se divirta em suas águas, em vez de poluí-las de todas as formas? Os antigos romanos diriam: que tempos, que costumes! Com projetos, com costumes e consciência ecológica e turística o Capibaribe seria uma enorme riqueza para o Recife e o Estado de Pernambuco.
Para muitas das grandes cidades do mundo civilizado, às margens de rios, o rio é uma janela para a cidade. Estes rios são caminhos de locomoção e lugar de divertimento. Esportes fluviais os mais diversificados acontecem em suas águas: regatas, remos, velas, natação, catamarãs mostrando a cidade aos turistas... Que potencial! Mas, para isto, precisa-se de um rio com águas sem os odores da poluição. Os mangues são belos às suas margens, mas não podem ser depósito de animais mortos, de lama poluída em que morrem os caranguejos. As populações às suas margens devem ser conscientizadas e fiscalizadas para que não atirem ao rio seus dejetos; sem palafitas, e urbanizadas as vilas populares. Tudo isto, e muito mais, não é difícil de ser enfrentado, pois o retorno será certo; e o Recife muito mais bonito e saudável. Muitos rios foram e são as artérias da civilização. Por que o Capibaribe não poderia ser um marco mais positivo e majestoso na cultura e no desenvolvimento do Recife? Respeitemos o que a natureza nos presenteia, e deixemos que ela nos seja agradável e prazerosa!
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Inácio Strieder é professor de Filosofia -Recife/PE