Numa breve consulta ao dicionário,aprendemos que degredado é um sujeito que sofreu pena de degredo,ou seja,foi expulso ou excluído do seu país,por decreto governamental em virtude de crimes cometidos.
Mas,nada comprova que os degredados que vieram para o Brasil punidos pela Coroa Portuguesa,tivessem sido criaturas perversas ou negativas,sociopatas,incapazes de conviver em sociedade.
As Ordenações Filipinas puniam como crime,qualquer ato que desagradasse à Coroa;podia ser não cumprimentar o retrato do Rei,namorar uma cunhada,não freqüentar a igreja,gostar de fazer baderna nos bares,ou simplesmente,nobres da “real grandeza”,a nobreza mais antiga de Portugal,vista com maus olhos pelos “novos nobres”,como Pombal,por exemplo,de sangue bem menos azul que os outros.
Acrescente-se a estes os judeus, sempre mal vistos e perseguidos,ou indivíduos da escória social,sem ocupação definida ou aquele que perpetrava pequenos furtos,levado pela necessidade de sobreviver.
No Brasil criou-se a idéia falsa do degredado malfeitor, expulso da sociedade portuguesa por crimes hediondos,um perigo para a sociedade.
Alguns importantes historiadores chegaram a afirmar que os degredados foram responsáveis pela má formação moral do povo brasileiro,pelo seu apego à corrupção e ao fato de querer tirar vantagem em tudo.”Farinha pouca,meu pirão primeiro”.
-Que se pode esperar de um povo cuja origem vem de traficantes e degredados, filhos de mulheres perdidas e ladrões?Ouve-se muito essa estória.
Quatrocentos degredados chegaram com Tomé de Souza,ao lado de seiscentos homens de armas,em 1549.
Isso dá a entender,segundo Oliveira Lima,que o Brasil seria povoado pela pior escória vinda de Lisboa.
Gilberto Freyre nos ensina que ,como eu disse anteriormente,a legislação portuguesa punia muito severamente crimes como “cortar árvores frutíferas,destruir colméias,não obedecer aos dias santos,etc...”
As Ordenações Filipinas podiam transformar em criminosos , comerciantes falidos,pessoas que quebrassem ou derrubassem imagens do Rei,sem contar que,a colônia precisava de braços para crescer e solidificar a colonização,então o Rei e seus prebostes sempre arranjavam uma desculpa para “degredar” algum infeliz.
Não os quero transformar em anjos,mesmo porque havia muitas queixas dos donatários,do ouvidor Pero Borges e,principalmente,dos padres Nóbrega e Anchieta,principalmente ,pelo assédio às índias e pela devassidão reinante;era difícil aos portugueses resistir àquelas mulheres diferentes,com “suas vergonhas altas” e à mostra.
O povoador da nova terra era também o português que naufragava no nosso litoral e aqui se estabelecia, formava uma família,como Caramurú e João Ramalho ou o sesmeiro,que vinha com a intenção de plantar e colher em suas próprias terras,coisa impossível no Reino,onde todas as terras pertenciam ou à nobreza,ou à igreja.
Muitos deles transformaram-se completamente vivendo aqui, onde gozavam de relativa liberdade,sem as severas leis portuguesas nos seus cascos;tornaram-se eminentes senhores de engenho e grandes fazendeiros,ou pequenos lavradores,artesãos ou construtores.
Filhos numerosos de famílias pobres, numa época de morgadio(onde o filho varão primogênito herdava todos os bens do pai),vinham “fazer o Brasil”,na esperança de progredir e enriquecer.
Havia muitos judeus fugidos da Inquisição ou que perderam seus bens na época do endividamento de D. João III.
Por tudo isso,acho um erro culpar os portugueses que vieram para cá pelos maus hábitos do povo brasileiro,que aliás,traz no seu sangue o índio,o negro,o luso,o judeu e muitos outros povos europeus.