CIGANOFOBIA OU RACISCMO

É de conhecimento público os laços estreitos que mantenho com o Povo Cigano, seja Rhom ou Khalon, tanto no aspecto familiar, quanto profissional, o que me permite e me autoriza tecer algumas considerações acerca da forma como esse povo é tratado por pessoas alheias à raça (gadjês) que desconhecem sua cultura, suas tradições, sua forma de agir e de pensar.

Aqui em nossa terra, lamentavelmente, existem pessoas que, pela forma com que olham e tratam esse povo, poderiam ser facilmente qualificadas como ciganófobos (detentores do medo em relação a um integrante de tal raça) ou de racistas (discriminadores daqueles que são e não negam serem ciganos).

Ignoram aqueles que assim agem, muitas vezes se negando a atender um cigano (rhom ou khalon) ou uma cigana (rhomli ou khali) em um estabelecimento comercial público, em horário de pleno funcionamento, sob a alegação de que está na hora de fechar, que esse povo surgiu há cerca de três mil anos atrás, fruto da invasão das terras que eram suas, por outro povo – os beduínos – ambicioso e preparado para a guerra. Os homens foram assassinados, as mulheres estupradas e as crianças sacrificadas, mas o que deles restou se espalhou pelo mundo e hoje está presente em todo o mundo.

Mas não ficou somente nisso! Durante a Segunda Guerra Mundial, o também racista e macabro ditador alemão, Adolf Hitler determinou o assassinato e a cremação de cerca de setecentos mil ciganos, o que efetivamente veio a ocorrer, sendo, proporcionalmente, o maior genocídio que a História Universal registra durante o Holocausto. Contudo, esse povo persistiu sua luta e ainda conserva suas raízes: trabalhador, religioso, alegre e festivo.

Embora o odioso preconceito de que não raras vezes são alvos, os ciganos estão, aos poucos, conquistando espaços dignos na sociedade brasileira, podendo ser citado como exemplo a iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campinas – SP, para utilização da Praça Carlos Gomes pelas ciganas desenvolverem legalmente suas atividades místicas milenares, ou seja, a quiromancia (leitura de mãos) e a cartomancia (cartas ciganas), sem que estejam a sofrer perseguição policial ou sendo vítimas de preconceito racial. Aludido avanço naquela cidade também estabeleceu áreas públicas para acampamentos ciganos, todos dotados de infraestrutura (água, luz e saneamento).

Cumpre salientar que na cultura cigana existem três pilastras básicas sempre presentes: preservar os costumes, dignificar as pessoas idosas (fonte de sabedoria terrena) e zelar pela família. Eles são um povo da paz e, por isso mesmo, desejam caminhar em paz, usando de seu direito milenar e constitucional de ir e de vir, sem qualquer obstáculo.

Para aqueles que não são arredios em relação aos ciganos e, até mesmo, para aqueles que deles receiam ou alimentam preconceito racial, a recomendação que posso deixar é a de que procurem conviver mais com esse povo, seja em suas casas (kêr) ou em suas barracas (tsara), procurando com eles conversar, especialmente com os idosos, pois assim verão quanto sabedoria existe acumulada por uma nação que insiste em sobreviver numa jornada cuja duração é de, pelo menos, três milênios.

Ainda, para que não fique a idéia de que somente os ciganos pobres são alvo de preconceito racial, é importante afirmar a existência de centenas de casos recentes no Brasil de ciganos com razoável poder econômico serem perseguidos em supermercados, bancos, restaurantes, lancherias e lojas comerciais em geral. Vejam, estimados leitores, que basta ser cigano para ser perseguido, obviamente por aqueles que disseminam o racismo e, por isso, são criminosos.

Para finalizar, gostaria de transcrever uma parte do discurso de nosso sempre amado Papa João Paulo II, do ano de 1999, que deveria servir de instrumento de sensibilização de corações ainda endurecidos que abrigam sentimentos pobres como os aqui abordados: “Enquanto a humanidade não resgatar sua enorme dívida para com os nossos irmãos ciganos, nenhum de nós poderá falar em direitos humanos e cidadania.”