O Mal de Adamski (III)

OS DISCOS VOADORES POUSARAM

Nascido na Polônia em 17 de Abril de 1891, de onde imigrou com os pais para a América quando tinha um ano e meio de idade, o investigador de Óvnis e autoproclamado filósofo e professor George Adamski, trabalhava como administrador de um pequeno restaurante, o Palomar Gardens Café, no sopé do monte Palomar em meados dos anos 1940. No alto da montanha estava localizado o então maior telescópio do mundo, o refletor de 508 centímetros da Instituição Carnegie, de Washington, e do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Curioso pelo tema astronomia, Adamski montou um pequeno telescópio no quintal de sua casa, em Palomar Gardens, a cerca de 17 Km de distância do observatório. Esta foi, afirmava, a maior aproximação que teve com o trabalho do pessoal de Hale, embora seus críticos (entre os quais, Carl Sagan), costumassem descrevê-lo apresentando-se como “professor Adamski do observatório do monte Palomar”.

Na noite de 9 de Outubro de 1946, foi do quintal de sua casa que Adamski avistou uma gigantesca “nave espacial” pairando sobre as montanhas ao sul do monte Palomar, na direção de San Diego. Depois deste primeiro contato visual com um ÓVNI, o professor de Palomar Gardens passou a dedicar seu tempo livre à investigação do fenômeno e, a partir de 1949, tendo já fotografado diversos outros discos voadores, começou a receber convites para palestrar sobre o tema em “clubes militares” e outros locais. Adamski sempre negou que cobrasse por suas apresentações, mesmo despesas de traslado e estadia; seus críticos, contudo, lhe atribuem a duvidosa honra de ter sido o primeiro ser humano a obter sucesso comercial graças aos seus contatos com Óvnis. A única coisa que Adamski confirma, porém, é que devido ao grande número de pedidos de cópias de suas fotos, teve que passar a cobrar por elas. Isso lhe teria valido, segundo suas próprias palavras, uma acusação de “mercantilismo”, a qual, naturalmente, refutava.

As fotos de Adamski são um capítulo à parte em sua história. Sempre pareceu suspeito que ele tenha conseguido tantas imagens de Óvnis, e de tão boa qualidade, praticamente sem se afastar dos arredores de casa, quando muitos, que cruzaram o país investigando o fenômeno, jamais obtiveram uma única foto, mesmo ruim. Adamski tinha duas justificativas na ponta da língua para quem lhe perguntasse sobre isso. A primeira seria uma coincidência de ordem geográfica: a sua residência estaria situada próxima a uma linha de “força magnética natural”, unindo Calexico à baía de Santa Mônica, e cujo centro estaria quase que exatamente ao sul do monte Palomar. Assim, os Óvnis apenas estariam seguindo um percurso normal de reabastecimento, e ele seria, digamos, um observador privilegiado. A segunda explicação, não menos importante, ele sintetizava numa frase: “o segredo do êxito é a constância do propósito”. Ou seja: ele conseguira boas fotos justamente por ter se esforçado em obtê-las. Foi desconsiderada propositadamente neste ensaio, a possibilidade de que Adamski pudesse ter forjado as suas belas imagens de Óvnis (como parece ter, de fato, ocorrido com o suíço Eduard Meier nos anos 1970), mas a verdade poderia estar numa outra hipótese, tão estranha que será deixada para o final ...

Proposital ou não, o momento escolhido por Adamski para o lançamento de seu livro mais conhecido, “Flying Saucers Have Landed” (“Os Discos Voadores Pousaram”, 1953), não podia ser mais propício. Graças às publicações sobre ufologia lançadas a partir de 1950, o livro tornou-se logo um best-seller, traduzido em diversos países, inclusive Portugal e Brasil. É importante ressaltar, aliás, que Adamski não foi o criador do lucrativo filão dos relatos de contatos com extraterrestres, embora certamente tenha lhes dado uma dimensão nova e, de um certo ponto de vista, desejado pelo grande público. A paternidade desse subgênero literário (e não deve ser visto aqui nenhum laivo depreciativo), é geralmente atribuída a um cidadão de sobrenome Scully.

Frank Scully, colunista da revista “Variety”, publicou em 1950 o livro “Behind the Flying Saucers” (“Por Trás dos Discos Voadores”), onde narra uma história que lhe teria sido contada por um amigo, trabalhador numa indústria petrolífera. Nela, dezesseis alienígenas, mortos, medindo cerca de um metro de altura, foram encontrados dentro de um de três discos voadores acidentados. Folhetos com estranhos pictogramas extraterrestres haviam sido recuperados. Os militares (o Pentágono e a Força Aérea) estariam, como de praxe, encobrindo as investigações – e, como de praxe, ao serem consultados, negaram até que o incidente houvesse ocorrido. Para nós, contudo, o mais importante é saber que os alienígenas provinham de Vênus. Pelo menos, assim informou Scully.

Este pioneiro “contato imediato do terceiro grau”, embora travado com defuntos de outro planeta, alavancou suficientemente as vendas de “Behind the Flying Saucers” para que este se tornasse o primeiro best-seller da ufologia. Os leitores, contudo, talvez por saudável ceticismo, talvez por uma dúvida provinciana de que homúnculos de um metro de altura pudessem construir e pilotar discos voadores, parecem não ter dado grande crédito ao que leram, mesmo com o reforço dado por N. Meade Layne (citado por Adamski como “Dr. Layne”), de San Diego, que, na mesma ocasião, publicou um opúsculo denominado “Flying Discs: The Ether Ship Mistery and Its Solution” (“Discos Voadores: O Mistério da Nave do Éter e Sua Solução”). No livreto, Layne e seus colaboradores (Millen Cooke, John A. Hilliard, Edward S. Schultz et al.) afirmam, entre outras coisas, que os discos são tripulados por humanoides de pequena estatura, como os descritos por Scully. Adamski cita ainda Layne como autor da ideia de que, em Vênus, a vida estaria “num plano de matéria mais elevado do que na Terra; por outras palavras, a uma mais alta velocidade vibratória, e ao reduzir esta vibração à velocidade dos gases, líquidos e sólidos terrestres, os venusianos poderiam aparecer aqui em forma sólida ou semissólida, conforme desejarem.” O que, dito de outro modo, daria aos venusianos a capacidade de atravessar paredes. Como fantasmas.

O pródigo ano de 1950 nos traria ainda “The Flying Saucers Are Real” (“Os Discos Voadores São Reais”), do major Donald Keyhoe, diretor da prestigiosa NICAP, uma das primeiras organizações a estudar de modo sério e sistemático o fenômeno ÓVNI e que, portanto, merece aqui um registro (também seria bom lembrar que o major chamou Adamski de “balconista de quiosque de hambúrguer”). A principal afirmação de Keyhoe é que os Óvnis não provêm de qualquer parte do globo terrestre, deixando em aberto sua origem extraplanetária. Essa ressalva deve ser feita, visto que, mesmo em fins dos anos 1950, ainda havia grupos dentro da ufologia (como a corrente teosófica brasileira, do comandante Paulo Justino Strauss), que sustentavam que os discos voadores eram oriundos do interior da Terra, onde existiriam civilizações tecnológica e espiritualmente mais evoluídas do que as da superfície exterior.

O livro de Adamski parece refletir e combinar aspectos abordados por seus antecessores, como discos voadores oriundos de Vênus e extraterrestres que representam uma avançada civilização imbuída de profundos valores éticos e morais, tipicamente humanos (ou seriam universais ?). Aliás, tecnicamente, nem se poderia dar todo crédito pelo feito a Adamski, visto que a obra foi escrita à quatro mãos com Desmond Leslie, publicitário, ex-piloto militar durante a II Guerra Mundial e estudioso de civilizações antigas e desaparecidas (como Mu, Atlântida e Lemúria). Das cerca de 230 páginas de “Flying Saucers Have Landed”, por volta de 60 foram escritas por Adamski, e se constituem na segunda – porém a mais importante – parte do livro. Leslie como que faz uma “preliminar” para a estrela do espetáculo, nos fazendo recuar ao passado inimaginável das escrituras sagradas hindus, repletas de descrições de carros celestes (“vimanas”) e terríveis armas de destruição em massa, cujos efeitos lembram, curiosamente, os de uma bomba atômica contemporânea.

Na parte que lhe cabe, e que justifica o título do livro, Adamski relata como travou contato, pela primeira vez, com uma inteligência extraterrestre. O fato teria ocorrido por volta das 12:30 horas do dia 20 de Novembro de 1952, quando, acompanhado providencialmente de seis testemunhas (George Williamson e sua esposa, Betty; Al Bailey e sua mulher; Lucy McGiness e Alice K. Wells, a dona do Palomar Gardens Café), dirigia através do deserto californiano em busca de um bom lugar para fotografar Óvnis. Como “o segredo do êxito é a constância do propósito”, a cerca de 16,5 Km de Desert Center, ele avistou um gigantesco charuto prateado (convencionalmente chamado “nave-mãe”) voando sobre as montanhas. A grande nave liberou um aparelho menor, aparentemente para fazer o reconhecimento do terreno, e que pousou num vale próximo. De câmara na mão, Adamski deixou seu grupo a uma respeitosa distância do disco voador, que flutuava sobre o chão do deserto, e caminhou até ele.

O único tripulante do aparelho desembarcou em seguida. Segundo a descrição do observador privilegiado, este era um humanoide de 1,70 m de altura, louro, “bronzeado de sol”, vestindo um macacão inteiriço cor de chocolate e que, embora tivesse feições delicadas, quase femininas, era “positivamente um homem”. Embora demonstrasse ser capaz de falar, o ufonauta não parecia dominar o inglês, motivo pelo qual a comunicação entre ambos se deu através de gestos – e telepatia. O visitante indicou que viera de Vênus e que seu povo estaria preocupado com as explosões atômicas na Terra, que seriam não só capazes de destruir o planeta, mas também de inundar de radiação o espaço circunvizinho. Disse ainda que essa não era a primeira vez que vinham à Terra, e que não desciam em áreas habitadas por receio de atos hostis pelos humanos, embora pretendessem fazer contato com maior número de pessoas no futuro. Revelou ainda que todos os planetas do Sistema Solar são habitados por vida humana inteligente, e que a forma humanoide é “universal”.

O visitante (posteriormente batizado de “Orthon” por Caroline Blodgett, editora de Adamski) recusou-se a ser fotografado, provavelmente para não delatar outros de sua espécie que estariam vivendo disfarçados na Terra, mas antes de partir solicitou uma chapa fotográfica, prometendo devolvê-la numa próxima oportunidade. Como prova material do encontro, Adamski providenciou moldes em gesso das pegadas produzidas pelas botas do ufonauta, as quais possuíam estranhas inscrições nas solas.

Pouco menos de um mês depois deste primeiro contato, por volta das 9 da manhã do dia 13 de Dezembro de 1952, uma nave de reconhecimento sobrevoou a residência de Adamski e por uma das vigias, alguém (o visitante ou outro de sua espécie) lançou a chapa fotográfica emprestada. Após submetida ao processo de revelação, descobriu-se que a fotografia original fora apagada e sobrescrita por outra imagem (aparentemente um diagrama de um disco voador) e uma mensagem escrita em símbolos desconhecidos, a qual não pode ser decifrada. Todavia, esta não seria a última vez em que os caminhos de Adamski e dos homens do espaço se cruzariam.

(continua)