Apologia da violência
Pasmem! Em um mundo já tão assolado pela violência, o que a maior emissora de televisão brasileira leva ao ar em seu programa de domingo, no dia nove de agosto, em horário nobre e que, querendo ou não, é o horário em que a família encontra-se reunida? Retransmite a cena de maior violência da novela das oito: Caminho das Índias.
É lamentável o “serviço social” que essa emissora vem prestando aos telespectadores brasileiros. De tempos em tempos, ela nos brinda com cenas de violência contra a mulher, idosos, crianças, ou mesmo entre pessoas adultas, em sua maioria, mulheres.
Não assisto a essa novela; porém, na sexta-feira, dia sete de agosto, ao procurar um programa para assistir na TV aberta, deparei-me com a mais horrenda cena de violência. Passava-se entre as atrizes Letícia Sabatella e Cristiane Torloni. Aliás, atrizes de tão alto gabarito para estarem se prestando a esse tipo de exposição. É esta a mensagem que a autora da novela quer nos transmitir: se uma mulher “dá em cima” do marido da outra, a vítima deve ir lá acertar as contas e fazer justiça com as próprias mãos?
O que é mais detestável é o fato da emissora que transmite a novela apresentar em seu programa “tão familiar” de domingo, como que em sinal de glória e autopromoção, essa cena grotesca e abominável, comparando-a com outras cenas de igual teor. Isto sim é o que se pode chamar de “banalização da violência”. Emissora esta que sempre se vangloria do compromisso que tem com a busca da não violência na sociedade brasileira. E lhes pergunto: compromisso com o quê? Quando é visível que ela preocupa-se apenas em manter sua audiência, mesmo que, para isso, tenha que fazer uso de cenas de extremo mau gosto.
Quero aqui deixar minha indignação contra esta empresa de telecomunicações que, aliás, não é de hoje... Esta exibição gratuita de violência só nos frustra ao pensarmos que o ser humano se resume a isso: intrigas, mesquinharias, ganância... E, na maioria das vezes, as protagonistas dessas cenas são mulheres. Por que será? Será que todas as mulheres são assim? Baixas, ciumentas, mesquinhas, intrigantes, fofoqueiras. E quanto aos homens? Por que sempre nos apresentam apenas mulheres com esses estereótipos?
O mundo e, em especial, a nossa sociedade, já não estão violentos o bastante para ficarem fazendo apologias da violência ao invés de tentarem nos apresentar soluções ou, no mínimo, reflexões sobre suas prováveis causas? A maioria das cenas exibidas não tem o intuito de denunciar ou de propor uma reflexão a respeito da violência, como na novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos, apresentada em 2003, que tratou do problema da violência doméstica. Estas constituem raras exceções, infelizmente!
Publicado originalmente em 22 de agosto de 2009 no Jornal VS – São Leopoldo/RS