Torloni prefere Sarney na ABL a vê-lo no Senado
IVAN LOPES*
(Este artigo foi censurado por jornais de Macapá, capital do Amapá, segundo Estado em que Sarney Manda).
Em recente entrevista numa conceituada revista masculina, a atriz global Christiane Torloni declarou que seria muito mais feliz se o senador José Sarney tivesse ido terminar a vida pública na Academia Brasileira de Letras ao invés de presidir o Senado Federal. A artista também lamentou a incapacidade da população brasileira em geral de se indignar com os absurdos que ocorrem pelo Brasil a fora, especialmente em Brasília. “A parada gay em São Paulo é capaz de botar 3,5 milhões de pessoas na rua, mas não se conseguiu colocar meio milhão nas ruas para exigir que fosse dada uma satisfação qualquer sobre o mensalão”, criticou.
Torloni tem razão e muitos gostariam de engrossar o coro contra a bagunça que está ocorrendo no Senado Federal. O colunista J.R. Guzzo escreveu um artigo interessante intitulado “Do mesmo lado”, no qual discorre sobre a atual união entre os ex-desafetos José Sarney, presidente Lula e Fernando Collor. No passado eles não poupavam críticas uns aos outros e agora compõe uma tropa de choque em defesa dos seus próprios interesses e mais uma vez colocam os valores coletivos, os interesses da sociedade e a opinião pública em último lugar. Juntos, os novos aliados ameaçam e intimidam os adversários, numa grotesca tentativa de anular os avanços conquistados duramente pela sociedade brasileira. Com certeza os nossos leitores com mais de duas décadas de vida estão lembrando dos caras-pintadas, que foram às ruas em 1992 pedir o impeachment do ex-presidente Collor de Melo.
De forma ainda tímida, a população brasileira está começando a se mobilizar contra os desmandos ocorridos no Senado Federal. Sarney, o principal acusado de manter os atos secretos e se beneficiar com uma série de irregularidades, tem posado de bom mocinho e garante que não cometeu nenhum ato que desabone a sua vida pública. A mesma conclusão deve chegar os seus aliados: Lula, Collor e Renan Calheiros. A culpa deve ser da imprensa, que esmiúça os fatos e os divulga para a população ficar sabendo. Na verdade, a culpa é mesmo dos eleitores que elegem sempre os mesmos políticos e mesmo quando eles comprovam que não tem nenhuma preocupação com o povo, ainda assim, recebem outras chances.
Depois de mais de trinta anos de militância no PT, a ex-ministra Marina Silva saiu do partido. É muito provável que a professora acreana ainda não tenha perdido a capacidade de se envergonhar e se indignar com a incoerência dos seus pares. Ela poderá não ter plano de governo ou ter ideias equivocadas, mas se tiver vergonha dos próprios atos e respeito pelos valores morais dos brasileiros, já pode ser uma excelente opção nas próximas eleições.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br - site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes ou www.blogdoivanlopes.blogspot.com/