Gosto de passear pela cidade como um Flâneur.

15.06.2008. Visitando sua Cidade

(*) Paulo Celso da Silva - http://www.vivacidade.com.br/cidade_textos_interno.php?id_cidade=1515

Gosto de passear pela cidade como um Flâneur. Inclusive, gosto tanto da idéia quanto da palavra flâneur. É possível "flanear" por Sorocaba? Creio que sim, ainda que isso custe um pouco devido ao relevo.

O flâneur é aquele que faz da cidade uma paisagem, não está somente preocupado com os pontos cobiçados pelos turistas, mas por todos os pontos. É a busca de uma nova percepção para compreender a cidade de uma maneira diferente, ultrapassando a racionalidade do cotidiano, quando tudo é tão rápido e temos um destino específico e horário sempre apertado.

O filósofo Walter Benjamin afirma que o flâneur transforma a cidade em uma paisagem viva, referindo-se a Paris do início do século XX. Aqui estendemos para nossa cidade, Sorocaba.

Em um feriado, fim de semana ou nas férias, sair como um Flâneur pelas ruas de Sorocaba certamente trará um outro entendimento sobre o que é essa cidade. Que tal pensar que as ruas são cruzamentos de nomes? Que tal se deixar levar pelo movimento ou pela sua imaginação, sem preocupação de onde vai chegar?

Não se preocupe com os outros passantes, seu anonimato é como um pacto com a cidade, você a descobre e ela descobre você.

Será uma experiência única de descoberta. Para cada lugar que você passar, procure recordar coisas e pessoas que se ligam àquela rua ou àquele bairro e de que forma a cidade e as pessoas se ligam a você. Tenho certeza de que se emocionará com a quantidade de referências e passagens que sua experiência de viver em Sorocaba proporcionará.

Já imaginou alguma vez porque a Rua de São Bento muda para Rua XV de Novembro? Ou por que na Vila Santana a Rua Bartolomeu de Gusmão muda para Rua Olavo Bilac? Ou qual seria o nome da ruela entre as ruas Amador Bueno e Cel. José Loureiro, perto da Praça Frei Baraúna? Por sinal, tem uma pracinha na esquina da Rua Amador Bueno com a Avenida Juscelino Kubistchek, você já parou ali por alguns instantes observando o movimento?

Os mais apressados dirão que tudo isso é perda de tempo, coisa de quem não tem o que fazer.

Pode ser, mas buscamos uma outra percepção da cidade e não o ganho de tempo. Fazer da cidade uma paisagem é visitar pela primeira vez os locais que passamos todos os dias, porém com um novo olhar, com outras preocupações, exatamente com a preocupação de mudar. Pensem que dedicamos tanto do tempo para todas as atividades que o único tempo que não pode ser considerado perdido é aquele que dispensamos para nós mesmos. Ainda mais quando é para melhorarmos nossa percepção e nosso conhecimento.

Os exemplos não param aí. O que está escrito no monumento a Baltazar Fernandes? Aquele bem em frente ao Mosteiro de São Bento... E no monumento da Praça 9 de Julho? Que cor mesmo que é o prédio do Seminário na Rua Eugênio Salerno? Quantas casas dessa rua não são destinadas ao comércio ou prestação de serviços? O que sobrou do antigo "Peladão do Scarpa"?

Vamos mudar o lado da cidade, quem foi D´Abreu Medeiros? Essa rua é uma travessa da Avenida São Paulo e o Gabinete de Leitura de Sorocaba tem um livro incrível dele que merece ser lido: Curiosidades Brasileiras, escrito em 1864.

Finalizando, gostaria de deixar uma sugestão de leitura para que todos: O Flâneur - Um passeio pelos paradoxos de Paris, de Edmund White, lançado pela Companhia das Letras em 2001. Quem sabe o leitor não se anima, pega o livro e sai flaneando por Sorocaba e, para descansar um pouco, aproveita essa indicação.

(*) Paulo Celso da Silva é professor do Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura da UNISO.

http://www.vivacidade.com.br/cidade_textos_interno.php?id_cidade=1515

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 23/08/2009
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