LICÂNIA

LICÂNIA é a reinvenção da cidade natal do escritor Clauder Arcanjo, e fonte de inspiração para os contos registrados no seu livro de mesmo nome.

Arcanjo cria e recria a linguagem em seus contos, com novos modelos de sensibilidade.

Apresento LICÂNIA com os inesperados sentidos que vão sendo revelados, seja pela emocionante dimensão dos fatos, ou pela minha percepção na busca da fantasia, guiados pelo intelecto em um jogo relacionado aos sentimentos e as experiências vividas.

Nos contos encontro A CASA aonde Abelardo chegou, descendo do velho ônibus; na RUA de casas diferentes; local do colégio BONÉ AZUL de janelas abertas, onde a IDENTIDADE foi revelada; um vento teimoso me leva até o CEMITÉRIO; em olhar de DESPEDIDA, encontro a MENINA DE RUA que sonha uma refeição. Em tarde de ventos o mar arrasta o CAVALEIRO DO MAR, carregando O PÓ DE CHINELO.

O SINEIRO marca o som da dor da morte e me traz de volta com A MALA, junto aos quatro ventos, onde deixaram AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE e uma MOEDA AO CHÃO, esquecida.

O vento forte chega a’O CURRAL DAS ÉGUAS; lembra O GRITO; cheira à CARNIÇA; mostra O RISO DO CÃO; porque SAMIRA tem medo das lembranças e da solidão.

ZECA E OS POMBOS desejam amar e DONA TARCISA, inconformada com o seu nome, não viu aparecer o PERNETA, deixando o SONHO DO ALMIRANTE em eco de saudação: JESUÍNO só desejava prestar contas a Deus e, no domingo, havia NEGÓCIOS DE FEIRA marcando o ponto de encontro em LICÂNIA.

LICÂNIA, entre seus contos, puxa pelos condutores da memória. É prazeroso. Os contos de Arcanjo transmitem verdadeiro aprendizado narrativo de significações simbólicas, no qual cada palavra é explorada e valorizada e a verbalização, encantadora, leva-me ao deslumbramento.