Política e Palanque

Muitos políticos parecem atores de telenovela que representam papéis que na vida real jamais poderiam desempenhar. Um ator que nunca cursou uma faculdade desempenha o de um economista, um administrador, um professor, um gestor público. Isto porque a política, que deveria ser a arte de gerir o bem comum, passou a ser a arte de chegar ao poder e permanecer nele, discursar e predicar, candidatar-se e eleger-se vitaliciamente. Ela não é somente exercida nos governos em suas diversas esferas. Os políticos estão por aí, nas empresas, associações, sindicatos, nos conluios e panelinhas, sempre a atender sonhos de poder e projeção. A ambição não olha apenas para a riqueza, olha também para os insanos sonhos de poder. Os políticos são, em geral, personalidades travestidas de simpatia e mansidão, críticos ácidos de todos os que não se subjuguem aos seus critérios, movidos por pensamentos farisaicos, medievais, cruéis. E estes pensamentos devem ser combatidos, pois todos nós temos um pouco destas manchas em nossas mentes que endurecem os corações.

A política assemelha-se, muitas vezes, às seitas religiosas extremistas cujos líderes induzem seus seguidores a suicídios coletivos, tratando-os como ovelhas ou os ratos do conhecido conto infantil que se atiram ao mar para a morte, encantados pela melodiosa música de um esperto flautista.

Muitas pessoas não gostam de pensar, preferem que outras pensem por elas e se entregam, ingenuamente, às mãos de espertalhões, falastrões incontinentes, sempre a se posicionar nos palcos e diante das câmeras com seu discurso oco e sem sentido. Os tiranos, os ditadores, os inimigos da liberdade não querem que ninguém pense, porque tal grito de liberdade, tal oposição às imposições é a ameaça ao poder que as ânsias de domínio desenham em suas mentes.

Numa sociedade em que a raiz de todos os problemas reside na ausência de um sistema educacional eficaz, menosprezar a cultura e a educação é a política mais retrógrada pela qual se possa optar.

No mundo dos engenheiros e dos arquitetos é comum ouvir-se dizer que o papel aceita tudo. No triste mundo da política cunhou-se um jargão piorado: o palanque, as câmeras e os microfones aceitam tudo.

A política passou a ser a arte de tergiversar, de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente privilegiando parentes e amigos. Os homens de bem têm ojeriza àqueles conluios e a dramática situação de todos os governos parece nunca terminar.

O político eleito nada tem a ver com o humilde candidato que prometia o impossível e se arrogava à condição de salvador da pátria, redentor milagreiro e solucionador das causas perdidas. O candidato, depois de eleito, continua se comportando como tal; a menos de um novo ar de suficiência vaidosa que os amigos e parentes chegam a estranhar.

Não podemos nos conformar com a crença de que o voto, por si só, implique democracia. O governo do povo para o povo é aquele que o representa e serve. Seria o poder constituído fazendo cumprir os anseios populares e a Lei Maior que não pode ser letra morta. Educação, saúde, trabalho, segurança e proteção ao meio ambiente deveriam ser os temas que ocupassem as mentes do homem público, e não a forma de chegar ao poder e permanecer nele indefinidamente.

Enquanto a política for encarada como profissão, onde os interesses pessoais estão acima do público, os políticos não merecerão outro conceito que o que têm na atualidade e muito pouco diz em seus favores.

Em algum momento a reversão deverá ser iniciada e pessoas que não necessitem da política como profissão, como meio de sobrevivência, por já terem percorrido uma trajetória que lhes permita colaborar com a Nação, alistar-se-ão numa cruzada de moralidade e seriedade, pois o governo não é nenhum partido, nenhuma pessoa, o governo é o povo que haverá de resgatá-lo.

Nagib Anderáos Neto

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