E o Purgatório!

No artigo anterior tive a oportunidade de fazer uma breve abordagem sobre a primeira parte da Divina Comédia, do poeta e filósofo florentino Dante Alighieri, dando, ao longo do texto, a visão mais clara possível da suposta incursão que aquele homem iluminado teria realizado ao mundo dos mortos, sem deixar dúvidas quanto à existência por ele defendida dos três estágios: Inferno, Purgatório e Paraíso.

Por óbvio, falei mais sobre o primeiro desses três estágios, deixando clara a minha posição de que o Inferno começa ainda nesta fase terrena pela qual estamos avançando da forma e com as limitações que nos são impostas pelo amor ou pela dor, pois defendo que o Pai primeiramente nos oferece o aprendizado pelo maior e mais lindo dos sentimentos, mas se não formos bons alunos, pela necessidade de avançarmos no processo de construção do nosso Eu interior, teremos de crescer à custa de dor, sofrimento e lágrimas.

Mas o importante é que sempre existe a possibilidade de que essa obra divina, o ser humano, possa crescer neste estágio terreno onde vivemos; o método didático é que poderá ser diferente, como antes aduzido.

Na medida em que vamos percorrendo esse caminhar terreno, mesmo sem que venhamos a perceber, estamos melhorando a nossa estrutura espiritual, vamos permitindo que sentimentos nobres como o amor, a compreensão, a solidariedade e a fé, tomem o lugar daqueles sentimentos torpes como o ódio, a mágoa, o ressentimento, a indiferença e a descrença. Essa é a grande obra que todos devemos edificar durante nossa existência.

Então, se é verdade que o Inferno tem seu início aqui nesta existência material, também é verdade que se a obra for célere, a redução das imperfeições também o será, e passaremos, ainda aqui com as limitações carnais de que somos dotados, a viver de uma maneira mais voltada para os verdadeiros valores cristãos por muitos bastante buscados e, não raras vezes, pouco encontrados. Nesta fase nossos corações espirituais ascendem com menor dificuldade à luz do cosmos universal.

Ora, se esse processo de aprimoramento do ser humano permite que haja uma antevisão de uma fase melhor, onde Deus está presente da forma mais forte e inimaginável na mente humana, é fácil concluir que o Purgatório também tem sua gênese aqui na Terra, tudo dependendo do zelo que tivermos para que a lapidação ocorra rapidamente, com o melhor aproveitamento possível, circunstância que restará evidente pelos resultados apresentados.

Seguir a rota do aprendizado, abrir nossos corações e mentes, defenestrar os sentimentos pobres e substituí-los pelos nobres e amar sempre são instrumentos eficazes para que nossas imperfeições diminuam e, a par disso, possamos almejar uma fase posterior à terrena onde mesmo labor existindo haja um facho resplandecente de amor disposto a nos acolher como essências de vida, saldo remanescente depois de nossa partida ao plano da eternidade.