A hipocrisia que vem de cima
IVAN LOPES* e PAULO BARREIROS**
Diante do panorama político nacional, ficamos muitas vezes a pensar que as coisas não são levadas muito a sério em nosso país. Ouvimos pessoas conceituadas da sociedade falar que os fins justificam os meios, achando uma válvula de escape para determinadas situações embaraçosas. Vejamos, por exemplo, o mar de lama no qual estão submetidos muitos dos políticos brasileiros. De onde deveria vir o exemplo de moral, honestidade, justiça, retidão e transparência na aplicação dos recursos públicos, ocorre justamente o contrário. Os atos secretos - uma prática comum dentro do Senado Federal -, é uma prova disso.
Denúncias por cima de denúncias são mostradas nos meios de comunicação e os acusados sempre argumentam que não sabem de nada, que não viram nada, que nem mesmo lembram dos coadjuvantes arrolados nos esquemas e que estão sendo vítimas de perseguição da imprensa. É interessante como são usados dois pesos e duas medidas neste país. Por motivos banais pessoas sem recursos sofrem as mais severas punições, mas com aqueles que detêm o poder econômico tudo termina em pizza, poder esse que muitas vezes é adquirido nos balcões de negócios obscuros.
É tão grande a insolência que já está virando mania dos nossos parlamentares afirmarem que não estão preocupados com a opinião pública. Num surto de sinceridade, o deputado federal Sérgio Moraes afirmou que estava se lixando para a opinião da sociedade e reiterou ainda que os seus pares compartilhavam da mesma opinião. Moraes era relator do processo de quebra de decoro parlamentar do Conselho de Ética e naquela ocasião disse que não via motivos para condenar Edmar Moreira, dono do castelo de R$ 25 milhões em Minas.
O deputado garantiu que não estava preocupado em absorver antecipadamente Edmar, deixando claro que não estaria também preocupado com o que a população iria pensar e declarou: “Estou me lixando para a opinião pública. Parte dela não acredita no que vocês (jornalistas) escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege".
Moraes foi sincero ao proferir tais palavras, infelizmente dias após tentou remendar o discurso e voltou atrás, ou seja, ele perdeu uma boa oportunidade de ser verdadeiro. O deputado também tem razão: os políticos fazem o que querem e acabam se reelegendo, com raras exceções. Foi assim com Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho, Fernando Collor e tantos outros.
O deputado gaúcho apenas esqueceu de que o parlamento brasileiro tem a obrigação de dar o exemplo e que deveria haver uma criteriosa investigação da vida daqueles que almejam ser político. Ficamos muitas vezes com inveja dos exemplos que vem de outros países cujas notícias dão conta de políticos corruptos que são obrigados a devolver o que tomaram ilicitamente da sociedade e chegam a pagar os estragos cometidos contra a coletividade com a própria vida. Não que sejamos defensores da pena de morte ou de governos totalitários, mas é desejo da maioria dos cidadãos brasileiros que tenhamos leis mais severas contra os políticos corruptos.
É uma utopia pensar que vamos resolver os problemas do país de forma imediata, pois ainda vamos sofrer essas mazelas por muito tempo. Culpa da harmonia entre os poderes, pois com os conchavos que são firmados entre os diversos segmentos, somos nós que acabamos pagando o pato, ou melhor, o pacto!
*Professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br). **Professor, Pedagogo e funcionário público.(E-mail: barreirosjari3@gmail.com)