Eucaristia: O Sacramento do Amor - Sermo XLVII

EUCARISTIA, O SACRAMENTO DO AMOR

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

(Jo 6,54)

Ao subir aos céus, Jesus prometeu que estaria sempre conosco (cf. Mt 28,20), até o final dos tempos. Algumas perguntas podem surgir daí. Como ele vai estar conosco? E por que só até o fim dos tempos? E depois?

Na verdade, Jesus instituiu diversas maneiras de permanecer conosco. Essa idéia perpassa todo o conteúdo da nossa espiritualidade: a presença de Jesus no meio de nós. A maioria dessas maneiras (oração, Igreja, Evangelho, reflexões, etc.) é espiritual, ritual, metafísica. Outras, porém, são físicas, reais, palpáveis, como a caridade devida aos pobres e a assistência material prestada à Igreja. Há outro meio, porém, de inigualável excelência que é a Eucaristia, o sacramento do amor. Ali, como veremos neste estudo, a presença de Jesus é visível, e como tal, real.

Antes de ir adiante, vejamos a segunda pergunta: Por que Jesus disse que estaria conosco só até o fim do mundo? A resposta, embora profunda, parece-nos fácil. É semelhante à alocução paulina em que ele afirma que por ora existem a fé, a esperança e o amor, mas que o amor é mais importante. Mais importante por quê? Porque um dia, na eternidade nossa esperança e nossa fé se converterão em certeza, perdendo, portanto, a razão de existiram.

O que é a fé? A fé é dom. É um meio auxiliar que Deus nos dá para irmos além do mistério. É certeza do que não se vê. Ora, vendo o Cristo, vivendo o Reino, não precisamos mais da fé. O mesmo sucede com a esperança. Ela é igualmente dom, é virtude teologal (infundida por Deus em nós) para que esperemos algo de bom e futuro, mesmo sem saber bem o que esperamos.

A esperança tem origens na fé. Temos esperança porque acreditamos. Quando o que esperamos acontece, deixamos de ter esperança no que aconteceu, pois se trata já de um acontecimento do presente, e não mais do futuro. Desfazendo-se, por realizadas, a fé e a esperança, o que permanece? Permanece o amor! Por que permanece o amor? Porque o amor é a essência de Deus (cf. 1Jo 4,8.16), vem de Deus (v. 7) e, como tal, “jamais haverá de passar” (1Cor 13,8).

A vida eterna, na comunhão daquele que é amor, será uma eternidade de amor, pois nessa conformidade teológica, o amor nunca há de acabar. Portanto, através das formas que instituiu, Jesus estará conosco só até o fim dos tempos, pois no Reino estaremos juntos pessoalmente e não de forma metafísica (conduzidos pela esperança), ou sob as espécies de pão e vinho (conduzidos pela fé).

Essa presença real de Jesus na Eucaristia, é a consolidação das promessas do pão da vida feitas após a multiplicação dos pães. Uma presença real desse quilate só poderia ser concebida por alguém que nos amasse muito, escolhendo ficar em permanente comunhão com seus amados. Além desse amor-presença, a Eucaristia é memorial do amor de Deus por nós (cf. Jo 3,16), pela entrega de Jesus na cruz, por nosso amor (“ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” Jo 15, 13). A partir dessa perspectiva, a Eucaristia é o sacramento-núcleo da Igreja católica, pois é sinal de união, de amor e presença.

Com inspiração e propriedade Santo Agostinho cunhou a expressão sacramento do amor para referir-se à Eucaristia: “A Eucaristia é o grande sacramento do amor. Sacramento do amor de Jesus pelo homem e do homem por seu próximo e pela divindade Trinitária” (Sermo 89,II).

São Bernardo referindo-se à veneração cristã a Maria, mãe de Jesus, ele afirmou que nunca se falará o suficiente a respeito da mãe de Deus e nossa mãe. Pois, plagiando o doutor de Claraval, este pregador, modestamente ousaria dizer (se é que alguém já não disse) que, do mistério da Eucaristia nunca se falará o bastante.

Por sua riqueza incomensurável a Eucaristia é tesouro da Igreja, é fonte e coroa de toda a evangelização porque torna presente Cristo, autor da salvação. Documentos e citações do Magistério e da Tradição da Igreja não cansam de afirmar que a Eucaristia é a base e o centro da sacramentalidade cristã e a presença mais plena de Cristo no meio da humanidade.

Antes de sua ida ao Pai, Jesus instituiu o sacramento do seu amor, a Eucaristia (cf. Mc 14,22), memorial do seu sacrifício. Assim o Senhor permanece no meio do seu povo para alimentá-lo com seu corpo e seu sangue, fortalecendo e expressando a comunhão e a solidariedade que deve reinar entre os cristãos, enquanto peregrinam pelos caminhos da terra, na esperança do encontro pleno com Ele.

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

Quem quer libertar-se deve buscar privilegiadamente na Eucaristia a força e a motivação necessárias. Enquanto pão vivo, a Eucaristia é fonte de todas as atividades dos fiéis, que transcendem os estreitos limites do aspecto eclesial; é energia vivificante de Cristo e do Espírito para a libertação dos homens. Instituída na noite da paixão (São Paulo diria, noite da traição; cf. 1Cor 11, 23), a Eucaristia incorpora o sacrifício da Nova lei, como fecho da Nova Aliança universal. Não é mais com sangue de animais, mas com o sangue do próprio Filho de Deus, que se instaura essa Aliança.

Quando o homem rejeitou, nas tantas vezes, a Aliança, o Senhor, pela boca do profeta Jeremias, anunciou uma nova Aliança (cf. Jr 31, 31-34), não mais como lei escrita, mas através de preceitos indeléveis, gravados nos corações. E para que esses corações possam tornar-se receptáculos da lei da nova Aliança, eles precisam se mudar, de corações de pedra em corações de carne (cf. Ez 36, 26ss).

A mediação dessa Aliança, aberta a todo o povo convertido ao Senhor, será executada por Jesus Cristo, o servo do Senhor, que será luz das nações, e que se oferece em sacrifício expiatório (cf. Is 42, 1.6; 53,10). A Eucaristia renova esse sacrifício, no dia a dia.

Os preceitos divinos não ficam apenas nas páginas da história, mas despontam hoje, como uma vigorosa interpelação, no sentido de uma permanente conversão do povo de Deus, bem como de sua inserção no plano comunitário.

Não se edifica nenhuma comunidade cristã, se ela não tiver por raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia: por ela, há de iniciar-se toda a educação do espírito comunitário. Para que a celebração se realize de maneira sincera e plena, deve constituir-se, da mesma forma, em canal para as múltiplas obras de caridade e auxílio mútuo, para a ação missionária, como ainda para as várias formas de testemunho cristão (PO 6).

Da Eucaristia a evangelização pode haurir forças para levar a “novidade” do Evangelho ao mundo. Se é verdade que o batismo insere a pessoa na comunidade e na missão, a Eucaristia aperfeiçoa a pertença comunitária e ativa o ardor missionário. Após afirmar que a Eucaristia é síntese do cristianismo, os “Pais da Igreja” perguntavam: “É possível alguém ser cristão sem a Eucaristia?”. A participação na Eucaristia é tão necessária que só ela decide se alguém é cristão ou não é.

Partindo de um mesmo pão, que é o remédio da imortalidade, antídoto contra a morte e vida em Jesus para sempre, a Eucaristia vem ao encontro do desejo humano de sobrevivência eterna (Santo Inácio de Antioquia. Ep. ad Eph. 20,2)

Esse remédio para a imortalidade, tão buscado pelos pagãos, nos elixires da deusa Íris, de Éfeso, é a Eucaristia, comunhão do homem com Deus para a vida eterna: “Eu sou o pão que desceu dos céus: quem dele comer, nunca morrerá!” (Jo 6, 50). Se toda a vida cristã tem por fim a nossa transformação em Cristo, o meio mais eficaz de obter essa transformação é a Eucaristia.

De acordo com a teologia que aprendemos e ensinamos, pela ressurreição e ascensão, Cristo não se tornou ausente do mundo, buscando, como as divindades pagãs, refúgio ou descanso nos céus. Deste modo, a fé na consagração das espécies ofertadas é, tanto fé na encarnação como, e principalmente, fé na ressurreição, integrantes dos mistérios do cristianismo que, a cada consagração, se atualizam e apontam para o Reino instaurado por Jesus.

Na Eucaristia, o Filho de Deus está dialeticamente no aqui e no lá; no presente e no oculto. Tanto no aspecto bíblico-teológico evocador da libertação do cativeiro no Egito, quanto na transubstanciação do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus, ocorre, dentro de um mysterium fidei, a Eucaristia é uma ação de graças para tornar o evento morte/ressurreição sempre atual e presente no meio do povo fiel.

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

Eucaristia, no grego eú, bom e cháris, graça, é uma ação de graças, como agradecimento por todos os benefícios que, em Cristo, o Pai nos cumulou. Por isto é preciso, sem cessar dar ação de graças (agradecer) a Deus por tão admirável sacramento (cf. Mc 14,23; Lc 22,19; 1Cor 11,24) com grandes atos de louvor aos céus (cf. Mt 26 ,26; Mc 14, 22), porque passamos da morte do pecado para a vida da graça, das trevas para a luz, do cativeiro para a liberdade.

Todo o sacramento traz consigo uma certeza de encontro, de comunhão com Deus, ao mesmo tempo em que propicia o encontro e comunhão na dimensão horizontal, para os lados, com a comunidade, o próximo (e os nem tão próximos assim). Nos sacramentos (e em especial no que aqui tratamos) cumpre-se a profecia: “Vocês me buscarão e me encontrarão, se me buscarem de todo o coração” (Jr 29, 13).

Penhor da nossa ressurreição (“Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”, Jo 6,54), a Eucaristia é, como disse João Paulo II, no encerramento do Congresso Eucarístico de Natal (RN) em 1989, a resposta de Deus à sede dos homens que caminham neste mundo em direção à pátria celestial. No deserto Deus alimentou o povo com o maná que caía do céu. O maná era figura da Eucaristia, o pão que nos guarda para a vida eterna.

São Cirilo de Alexandria, combateu os seguidores do herético Nestório que afirmavam existir em Cristo duas pessoas, a divina e a humana, estabelecendo uma hierarquia da segunda à primeira. Esse dualismo subordinacionista invalidava a doutrina da Eucaristia, pois esta seria o corpo e o sangue de um homem, deixando de ser sinal e penhor da ressurreição. Em louvor à Eucaristia, Santo Tomás de Aquino compôs um dos mais belos hinos litúrgicos:

Tantum ergo Sacramentum

veneremur cernui...

Na Eucaristia há uma razão de fé. Esta diz respeito não somente à divindade, mas também à humanidade. Depois, como a fé diz respeito àquilo que não se vê, Cristo ocultou neste sacramento tanto a divindade quanto a humanidade, para exercitar a nossa fé em torno de ambas as suas naturezas (Santo Tomás e Aquino. In: STh 3,71.1).

No grande mistério da “comunhão dos santos” a Eucaristia é o vínculo de todo o “corpo místico” de Cristo (a Igreja), coeso e articulado, em cujos órgãos e membros circula a mesma seiva vital. Esse sacramento do amor, onde “há muitos num só corpo em Cristo”, a Igreja celebra assiduamente no mistério do altar. A Eucaristia é a constante passagem da seiva entre nós. Somos enxertados na árvore e esta passa para nós a seiva, faz-nos crescer. E todos recebem a mesma seiva: aquele pequenino ramo debaixo, com apenas duas folhas, aquele que ostenta múltiplos galhos, todos recebem seiva idêntica e cada um dá o que tem. Um dará duas folhas só, o outro será forte bastante para sustentar outros galhos. Não importa: é a mesma árvore que cresce e dá frutos. É a comunicação da seiva.

A compreensão da circulação dessa seiva é chave para o entendimento do mistério da “comunhão dos santos” e, por extensão, da Eucaristia. A multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 1-13) prefigura a abundância do pão eucarístico. O sinal da água transformada em vinho em Caná (cf. Jo 2, 1-11) anuncia, também essa abundância, como a hora de glorificação de Jesus.

Ambos os gestos antecipam o banquete de bodas no Reino dos céus (cf. Mc 14, 25), onde os fiéis haverão de beber o vinho novo, do qual Caná é tipo.

Nessa realidade sacramental, Jesus afirma que seu corpo é realmente comida e seu sangue é realmente bebida (cf. Jo 6, 55), não como bens que se consomem, mas, pelo contrário, que perduram e, como “rios de água viva” (cf. Jo 4, 14) jorrem para a eternidade. No latim, alimento é expresso pelo verbete cibum (neutro da 2a. declinação).

Os alimentos, nas populações de língua romana eram guardados nos ciboria (guarda-comida). Na liturgia eucarística, o cálice com tampa utilizado para guardar as partículas consagradas chama-se cibório, para caracterizar que ali dentro há o alimento que dá sustento e guarda para a vida eterna.

Na vida de Santo Antônio há um interessante episódio que narra um milagre envolvendo os aspectos fé, alimento e Eucaristia. Contam que o santo pregava no norte da Itália, justamente sobre a propriedade sobrenatural da Eucaristia, capaz de dar força e sustento para a caminhada para o Reino. Mais tarde, Antônio, em procissão, desfilava o Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade, quando um homem ateu desafiou-o a provar o poder e a santidade da Eucaristia, dizendo-se: “Eu só acreditarei na Eucaristia se minha mula fizer reverências a ela”.

O santo aceitou o desafio e o ampliou: “Deixe sua mula três dias sem comer, e aí leve-a à igreja”. No fim de três dias lá se foi o desafiante ateu à igreja da cidade. Na frente estava um monte de feno novo, recém cortado e, ao lado, um pequeno altar com o Santíssimo em exposição. Embora puxada pelo dono na direção do feno, a mula avançou para onde estava a Eucaristia e, bem próxima do altar, ajoelhou-se. Parece que o ateu se converteu... É um dos milagres mais vigorosos do santo, que a Igreja dá mais divulgação.

A Igreja cataloga um sem-número de milagres envolvendo a Eucaristia. Santo Agostinho, um dia, em oração, teria ouvido uma voz que vinha do sacrário: “Eu sou o alimento dos fortes; vem, crê e come. Não serás tu que me mudarás em ti, mas eu que te mudarei em mim” (In: Conf. VII,10). O sacrário da Eucaristia é a tenda que Deus veio armar no meio dos homens (cf. Ez 37, 27) para fazer história conosco.

No dia em que as pessoas tiverem consciência da presença real de Cristo no sacrário, certamente irão mais à igreja, celebrarão com mais ardor esse inefável mistério. Indo à igreja e celebrando melhor a Eucaristia, irão menos aos psicoterapeutas, aos analistas, aos gurus, médiuns, tiradores de sortilégios e casas de macumba. Não vão procurar soluções nem nas ciências nem no ocultismo, mas na fé e naquela certeza de vida que dela decorre.

A Eucaristia é fonte e cimo de toda a vida cristã, conforme nos diz o Vaticano II. Os demais sacramentos, como também todos os ministérios eclesiais e as obras de apostolado, estão unidos à Eucaristia e a ela se ordenam. A Sagrada Eucaristia, com efeito, contém todo o bem espiritual da Igreja, é dizer Cristo mesmo, nossa Páscoa (PO 5).

Quem está disposto a comungar o Cristo eucarístico deve ter a reta intenção, isto é, sentir o desejo de receber Jesus para a santificação de sua vida e de seus projetos. Nunca deve comungar por outros motivos, como por exemplo, por influência, por vaidade, para ser visto e ser considerado piedoso, por rotina ou para fazer gosto a outras pessoas. Seriam comunhões inválidas, prejudiciais à vida espiritual.

Por isto, grande cuidado tiveram os ‘Pais da Igreja’ ao advertir os fiéis que, considerar esse augustíssimo sacramento, não confiassem nos sentidos, que põe em relevo as propriedades do pão e do vinho, e sim nas palavras de Cristo, as quais têm a força de mudar, transformar, trans-elementar o pão e o vinho no corpo e no sangue dele; de fato, como muitas vezes os ‘Pais’ afirmam, a virtude que opera este prodígio é a própria virtude de Deus, onipotente que, no princípio dos tempos, criou, do nada, o universo (Paulo VI, MF 5).

Com um grande amor (epitimía, com paixão), Jesus esperava pela última ceia pascal que ia comemorar com os doze, na qual instituiria o novo, definitivo e universal banquete pascal. De um modo especial, João, o discípulo que Jesus amava, descreve o ambiente de amor em que o Senhor instituiu a Eucaristia, clima de amor este que, desde o início, foi seu desejo que se perpetuasse na celebração da mesma, no seio da sua Igreja.

A Eucaristia, que nasce do amor (de Cristo) e gera o amor (nas dimensões vertical e horizontal), quer fortalecer esse encontro para que todos vivam em absoluta comunhão, de fé, justiça e paz. Nisso configura-se, em duplo sentido, o pão que permanece (cf. Jo 6,27). Permanece na comunhão entre os homens e, igualmente, permanece na graça que vai conduzi-los ao Reino dos céus. Esse permanecer é a força para a caminhada: “Levanta-te e come, senão a caminhada será longa demais para ti” (cf. 1Rs 19, 6ss). É igualmente a alegria da comunhão sem fim, no céu (cf. Ap 21, 5ss).

No horizonte bíblico, as palavras ‘isto é meu corpo’ significam isto é o meu eu dado a vós. Corpo significa o homem todo na sua corporalidade concreta. Em outras palavras, significa que, neste dom, se dá a pessoa viva do ressuscitado. Nele, o corpo e espírito são equivalentes. Corpo e sangue são sinais do eu pessoal de Jesus inserido sacramentalmente na história da humanidade (U. Zilles).

A riqueza inesgotável deste sacramento se expressa através de vários e distintos nomes que a ela se dá. Cada um desses títulos tem um significado e evoca algum de seus aspectos. É chamado de Eucaristia porque é ação de graças a Deus. As palavras eucharistein, (ação de graças - Lc 22,19; 1Cor 11,24) e euloguein (louvor, elogio - Mt 26,26; Mc 14,22) recordam as bênçãos judaicas que proclamavam, sobretudo à hora das refeições, as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação. Nesse contexto teológico, a Eucaristia tem vários outros nomes:

Banquete do Senhor (1Cor 11,20);

Banquete de Bodas do Cordeiro (Ap 19,9);

Fração do Pão (At 2,42.46);

Assembléia Eucarística (1Cor 11, 17-34);

Memorial da Paixão (v. 24);

Sacrifício de Louvor (At 13,15);

Sacrifício Espiritual (1Pd 2,5);

Celebração dos Santos Mistérios;

Pão dos Anjos;

Pão do Céu;

Remédio da Imortalidade;

Pão dos fortes, e

Viático (alimento para a "viagem").

O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício. É uma só e mesma a vítima. Aquele que ofereceu a si próprio, na cruz, é o mesmo que agora, por meio dos sacerdotes, oferece o sacrifício diário. Apenas, como ensina o Catecismo (1381), a maneira de oferecer difere: “Neste divino sacrifício que se realiza na Missa, este mesmo Cristo que se ofereceu uma vez de maneira cruenta no altar da cruz, esta contido e imolado de maneira incruenta”.

Evocando o sangue da aliança sinaítica, o Senhor subentende que o seu sangue é o da nova aliança, afirmando-o explicitamente conforme a versão de Lucas e Paulo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue’(Lc 22,20; 1Cor 11,25)” . Esta aliança, fora profetizada no Antigo Testamento como eterna (cf. Is 55,3; Jr 31,31; Ez 37,26;). Essa aliança eterna é reverenciada pela Igreja como prova do grande amor que Deus tem pelos seres humanos. Há uma especial menção à Eucaristia numa antífona de Santo Tomás:

Adoro te devote, latens Deitas,

Quae sub his figuris vere latitas:

Tibi se cor meum totum subjicit,

Quia te contemplans totum deficit...

“Adoro-te devotamente, oculta divindade, que sob estas sagradas espécies te ocultas verdadeiramente: A ti meu coração se submete totalmente, pois, ao contemplar-te sente-se desfalecer por completo” (STh 3,75.1)

A orientação teológica da Eucaristia, segundo Paulo (1Cor 11) gira sob três eixos temporais:

a) passado

ágape de “memória”: “...na noite em que foi

entregue” (v. 23)

b) presente

atualização do sacrifício e ação de graças:

“... todas as vezes” (v. 26).

c) futuro

esperança da parusia: “... até que ele venha”

(v. 26b).

Pela recepção do sacramento ficam reforçados todos os laços de unidade entre aqueles que Jesus veio unir e salvar. A participação consciente do cristão na Eucaristia, compromete-o com as reformas preconizadas no Evangelho: reformas da sociedade humana, a partir da mudança interior de seu coração.

Infelizmente, participando indignamente da Eucaristia, alguns, em paralelo têm uma vida de pecado, afastamento de Cristo e desprezo pelo próximo, correndo, tantas vezes atrás dos mais variados tipos de ídolos, deixando-o sozinho e abandonado lá no sacrário. A alguns desses cabe, quem sabe, as invectivas de São João Crisóstomo:

Degustaste o sangue do Senhor e não reconheces sequer o teu irmão. Desonras esta própria mesa, não julgando digno de compartilhar do teu alimento aquele que foi julgado digno de participar desta mesa. Deus te libertou de todos os teus pecados e te convidou para esta mesa. E tu, nem assim, te tornaste mais aberto à prática da misericórdia.

Participar indignamente da Eucaristia é uma ofensa grave a Cristo. Quem não reconhece o corpo e o sangue de Cristo na Eucaristia, recebendo-os mecanicamente, com o coração em pecado, ou sem fé, está, segundo o apóstolo Paulo, comendo e bebendo sua própria condenação (cf. 1Cor 11, 29).

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

A Eucaristia é a comunhão duodimensional na qual Cristo se faz presente, física (o pão transubstanciado) e espiritualmente, transformando a ação de graças numa legítima graça em ação, no sentido da partilha, do encontro e da acolhida. Jesus instituiu-a no auge da paixão, naquela noite que hoje costumamos chamar de “quinta feira santa” e as Escrituras falam “... na noite em que foi traído...” (cf. Mt 26,26; Mc 14,22ss; Lc 22,19; 1Cor 11,24), quando, “...amando os seus até o fim...” (cf. Jo 13,1), instituiu esse sinal para estar sempre com os homens. Por isso, como inspiradamente escreveu São Paulo:

Portanto, todas as vezes que vocês comem deste pão e

bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor

até que ele venha (1Cor 11,26).

A partir dessa ótica, temos a dimensão escatológica da Eucaristia. Em seu célebre “Sermão da Ceia do Senhor”, São Bernardo ressalta o poder regenerador e fortalecedor da Eucaristia:

Quem será capaz de quebrar os assaltos furiosos deste

monstro, que é a impureza? Quem poderá curar esta úlcera,

esta gangrena de nossa pobre natureza? Tende confiança!

Vós tendes o auxílio da graça e, para vos dar uma

segurança mais certa de êxito, Deus coloca à vossa

disposição o sacramento do corpo e do sangue do Senhor. E

este sacramento opera, em nós, dois efeitos igualmente

admiráveis: nos ataques mais leves ele diminui o sentimento,

e nos mais graves impede o consentimento. (In: Sermo in

coena Domini, III).

A partir dessa época (séc. XII-XIII) a Eucaristia passa a ser chamada, entre tantos outros títulos de “pão dos fortes”, não porque os que a procuram sejam fortes, mas porque ela torna fortes aqueles que a procuram. Num tradicional hino à Eucaristia, a Igreja toda canta:

Tu dos fortes a doçura,

tu dos fracos o vigor,

eu te adoro, Jesus Hóstia,

eu te adoro, Deus de amor!

Santo Ambrósio traz da necessidade do alimento diário a idéia de igual necessidade constante do “alimento espiritual”: “Se a Eucaristia é um pão e um pão cotidiano, por que recebê-lo apenas uma vez por ano?” (O alimento espiritual). Isto porque, em determinada época (depois do século III) algumas correntes da Igreja recomendavam a obrigatoriedade de freqüentar os sacramentos da Ceia e da Penitência “ao menos uma vez por ano, por ocasião da Páscoa”. O bispo de Milão insurgiu-se contra isto, recomendando a confissão mensal e a Eucaristia, se possível, diária ou, no mínimo, dominical.

E não poderíamos falar em Eucaristia dominical sem falar no ato, sacramental, litúrgico e comunitário através do qual a Eucaristia é ofertada: a missa. Na Santa Missa se oferece um sacrifício “verdadeiro e próprio a Deus” (DS 1751). A Missa, conforme as definições dos antigos catecismos, é “renovação incruenta do sacrifício de Cristo na cruz”.

Nossos irmãos de outras religiões não compreendem a expressão renovação, e por isso, interpretando as Escrituras de forma fundamentalista, sob a ótica do “...Cristo morreu uma vez por todas...” (cf. 1Pd 3,18) afirmam que nossa Missa não tem valor, pois estamos “matando” o Cristo em cada sacrifício. O que é um grande equívoco, deliberado ou não, da parte deles.

A missa tem origens nas assembléias do deserto, quando Javé recomenda a Moisés: “Reúne meu povo!” (cf. Dt 4, 10).

A partir daí a ekklesía tou kyriou (a Igreja do Senhor) passou a reunir-se para ouvir sua Palavra e escutar seus preceitos morais. Na chamada “última ceia” Jesus acrescentou um elemento novo à Qahãl Iahwéh: o ágape da memória. “Este cálice representa a Nova Aliança no meu sangue: toda a vez que beberem dele, façam-no em minha memória” (cf. 1Cor 11, 25).

O ágape eucarístico é farto não muita comida e muita bebida, mas farto em amor de Deus e, em conseqüência, em amor fraterno. E por que os convidados são importantes? São importantes porque são filhos de Deus, plenos de sua graça e de seu Espírito.

A Eucaristia deve ser sempre aclamada, durante a Missa ou celebração, com cantos especificamente eucarísticos, devendo ser evitadas músicas populares e/ou para-litúrgicas. A Missa divide-se em duas liturgias, indissociáveis: a Liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística. “A Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística constituem juntas um só ato de culto” (SC 56): Com efeito, a mesa preparada para nós na Eucaristia compõe-se da mesa da palavra de Deus e da mesa do Corpo do Senhor.

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

A Eucaristia é, por excelência, na Igreja, o sacramento da comunhão dos santos, em todos os seus níveis. Enquanto não se realiza a promessa dos “novos céus e nova terra”, tempo-lugar de justiça e paz, a Igreja peregrina leva, em seus sacramentos, os consolos e a esperança que vem do alto. A comunidade, como as criaturas, “geme até agora em dores de parto”, como espera toda a Criação pela volta do Senhor.

Por este motivo a Igreja pede, especialmente através da Eucaristia (cf. 1Cor 11, 26) que se apresse o Reino, enquanto suplicam Maranatha!, “Vem Senhor Jesus!” (cf. 1Cor 16, 22; Ap 22, 17-20). Na liturgia eucarística há como que uma síntese da natureza. Como é composta a natureza? De três reinos: mineral, vegetal e animal. Pois esses três reinos estão presentes na Eucaristia, afirmando-a como uma síntese cósmica.

reino mineral

a pedra do altar;

o metal (ou vidro) do cálice e da patena;

o mármore do altar (em alguns casos);

a água;

reino vegetal

o linho da toalha, do sangüíneo e do corporal;

as flores e as folhagens;

o pão e o vinho;

a madeira do altar;

reino animal

irracional: a cera das velas

racional: o celebrante e a assembléia.

As espécies eucarísticas representam os frutos da terra, o trigo e a uva, dados por Deus, que pelo trabalho do homem se mudam em pão e vinho, e pelo poder do Espírito Santo, se transformam no corpo e no sangue do Senhor Jesus Cristo, alimento para a jornada desta vida, capaz de nos manter incólumes para o Reino que há de vir.

Vamos sair agora da parte externa da Eucaristia para penetrar no intrínseco de seu mistério: como pão e vinho se convertem, pelas imposições das mãos sacerdotais do ministro em Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Na pedagogia eucarística Jesus ensina o despojamento. Vamos falar nisto antes de vermos as mudanças das espécies físicas em corpo e sangue de Cristo.

Na preparação da Eucaristia o trigo morre para renascer pão; a uva é aniquilada para tornar-se vinho. No mistério da Eucaristia a natureza morre, transforma-se para converter-se em Cristo. Na Eucaristia o homem morre como “homem velho” para ressurgir como “homem renovado” pela graça.

Nas bem-aventuranças Jesus ensina esse despojamento, através dele o homem pode chegar ao Reino dos céus. O despojamento da cruz (Cristo morreu nu, sem nenhum aparato, injustiçado e, praticamente, sozinho) faz parte importante da pedagogia da Eucaristia, e é preciso ter uma compreensão adequada para avançar no estudo deste mistério inefável.

Sob as espécies de pão e vinho, na Eucaristia, estão presentes, real, verdadeira e substancialmente o corpo e o sangue de Jesus Cristo. Juntamente com seu espírito e divindade, na Eucaristia recebemos o Cristo todo. Pela consagração do pão e do vinho efetua-se a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda substância do vinho na substância do seu sangue. Esta conversão foi, com muito acerto e propriedade, chamada pela Igreja católica de transubstanciação (DS 1641).

Transubstanciação é mudança de uma substância em outra. No caso da Eucaristia, como vimos nos textos do decreto conciliar, o pão muda-se no corpo de Jesus e o vinho em seu sangue.

Na transformação, a matéria de um ser permanece antes e depois da mudança, enquanto só a forma passa de um termo a outro. Na transubstanciação, toda a substância (vinho e pão) passa ao corpo e ao sangue de Cristo. Transubstanciação, na verdade, não é uma palavra cunhada no Concílio de Trento. Ela já aparece em Latrão.

Humanamente é impossível conhecer em profundidade a doutrina da transubstanciação. O mistério Eucarístico é o mais difícil de crer, dentre todos os mistérios de nossa fé. A transubstanciação ocorre, indefectivelmente, na Santa Missa. A Igreja afirma, através de três advérbios, a presença de Cristo na Eucaristia:

1. verdadeiramente, e não como símbolo;

2. realmente, e não como uma metáfora;

3. substancialmente, e não dinamicamente.

Na teologia dos “Pais da Igreja” vamos encontrar diversos, significativos e esclarecedores tópicos a respeito da Eucaristia.

Em cada dia do Senhor (domingo) reuni-vos, parti o pão e dai

graças, depois de haverdes confessado os vossos pecados

para que o vosso sacrifício seja puro (Didaquê, 14,1).

São Justino refere-se à Eucaristia como fonte da libertação total do homem, pois a comunhão com Deus só é capaz a quem se liberta para a relação com o próximo: “Renovados por Cristo, cuja memória renovamos no meio de nós, nós nos consagramos a Deus”. Estabelece ainda, este mestre da patrística, uma clara relação entre a encarnação do logos e a Eucaristia, quando afirma que o alimento consagrado nos chega com a oração de ação de graças formada pela palavra de Cristo.

A Eucaristia, celebrada no “dia do sol” (o domingo), revela que Cristo é o sol (a luz do mundo). Enquanto no alemão e no inglês, o domingo (sonntag e sunday) é o “dia do sol”, no grego, no italiano e no latim, o domingo (küriaki, doménica e dóminicus) é “dia do Senhor”. Santo Inácio de Antioquia afirmou que a Eucaristia, como “o sangue de Cristo”, confirma a Igreja na fé.

Na Didascália (Manual da doutrina cristã, do século III) há referências ao “dia do Senhor”. “Não coloqueis os vossos negócios temporais acima da Palavra de Deus, mas abandonais tudo no ‘dia do Senhor’ e correi depressa às vossas Igrejas... caso contrário, que desculpa terão junto de Deus os que não se reúnem no ‘dia do Senhor’ para ouvir a Palavra de Vida e nutrir-se do alimento divino que permanece eternamente?”

Encerrando os tópicos sobre o “dia do Senhor”, a palavra sábia de Santo Agostinho nos fala (no Sermo 215) sobre domingo, celebração e salvação: “Reuni-vos cada domingo. Os judeus celebram o sábado com grande devoção, quanto mais vós cristãos deveis consagrar o domingo exclusivamente a Deus e reunir-vos na igreja para a salvação de vossas almas”.

Sendo “semente de Páscoa” a Eucaristia ministrada ao enfermo (em geral associada à Unção dos Enfermos), pode ser o último sacramento da peregrinação terrena. Viático quer dizer via, estrada, passe para a vida eterna. Junto com a ação de graças, a Eucaristia traz consigo elementos intrínsecos do cristianismo, como adoração, entrega e fraternidade. É uma síntese de todos os valores do Reino.

Como oração de adoração ela reflete a pequenez humana diante do grande mistério do Deus presente sob as espécies de pão e vinho. Por isso, na adoração eucarística a Igreja ora:

“Ó Deus que nesse admirável sacramento

nos deixastes o memorial da vossa Paixão, concedei-nos

tal veneração pelos sagrados mistérios do vosso corpo

e do vosso sangue, que experimentemos sempre em nós

a sua eficácia redentora! Vós que viveis e reinais

pelos séculos dos séculos. Amém !”.

Só a perfeição da sabedoria divina é que poderia ter criado algo semelhante ao mistério da Eucaristia. Nele, por muitos séculos a Igreja tem se inspirado e tirado consideráveis e inesgotáveis lições, como o Espírito permite e ilumina. É salutar conhecermos o que chamo de lições da Eucaristia.

1. ação de graças

Na celebração do Sacramento do amor, damos graças pela vida, pelo amor que nos une, pela comunidade onde atuamos, pelo dom da filiação divina, por nossa libertação do pecado;

2. partilha

Cristo se dá aos fiéis na Eucaristia, partilhando sua presença e seus dons, e continua o mesmo: rico, forte, generoso e indivisível. Aqui a lição é de repartir coisas, dons, a vida;

3. comunhão

A comum-união com Cristo exige, igualmente a mesma atitude com o irmão;

4. celebração da vida

Como “pão vivo descido do céu”, o sacramento nos dá a vida abundante que Jesus veio trazer e, por isso, deve ser celebrado;

5. memorial da entrega

Na imitação do gesto-doação de Jesus, a Eucaristia ensina os cristãos a entregar-se pela causa do Evangelho...

6. democracia

O povo em fila para comungar é uma reunião de classes e raças. Lá estão pobres e ricos, patrões e empregados, pretos e brancos. Ali não há primeiros nem últimos, protegidos ou excluídos. Jesus está disponível a todos. Pelo menos ali todos são iguais. Não havendo nenhuma discriminação: “Se compreendermos a democracia dessa Eucaristia que nos faz iguais; que faz a gente se sentir primeiro e, às vezes derradeiro, por não vir em paz...” (Padre Zezinho in “Convite”).

7. reconciliação

Por seu caráter de sinal do Deus-amor, só pode participar da Eucaristia quem está em paz e reconciliado, com Deus, com o próximo, com a natureza e consigo mesmo...

A grande questão, em vista da pedagogia da Eucaristia é, como celebrar tão admirável sacramento sem estar disposto a viver o mistério da paixão-morte-ressurreição de Cristo como dom de vida, como negativa de morte e de opressão? Para iluminar nosso estudo é interessante conhecer o que se chama de “os sinais da Eucaristia”:

Matéria

pão e vinho;

Forma

“...enviai o vosso Espírito a fim de que estas ofertas se

transformem † no corpo e no sangue de Nosso Senhor

Jesus Cristo;

Ministro

o presbítero

Efeitos

torna Cristo presença real no meio dos homens;

Gesto

imposição das mãos.

A consagração da Eucaristia (a passagem do pão e do vinho no corpo e sangue de Jesus) só acontece através da celebração da missa. Por isto a Igreja dá tanta importância à missa, pois só ali o pão e o vinho, sob suas espécies características, tornam-se corpo e sangue, presença viva do Senhor. Por isso a missa deve ser uma festa, uma celebração ou até um banquete.

Recomenda-se que se fique o mais perto possível do altar, ali onde o Cristo vivo vai surgir. Sem essa de ficar lá atrás, escondido atrás das colunas. Vamos chegar cedo, tomar um bom lugar, orar, cantar... Eucaristia não se assiste: se participa, se vive! Como não existe Eucaristia sem padre, vamos orar ao Senhor para que sempre nos mande muitos e santos padres para a consagração das espécies, em todos os tempos.

Na primeira celebração (noite da Paixão) Jesus disse (e diz até hoje): “tomai e comei...” e não “tomai e observai...” ou “tomai e adorai...” Não! A Eucaristia é para ser comida, vivida, participada, assumida. A comunhão é prêmio para os santos, mas também alimento, força, consolo e conforto para nós, pecadores que querem ser santos. É importante que sejam observadas algumas condições necessárias para uma digna participação na Eucaristia:

• ser batizado;

• conhecer o sacramento; querer recebê-lo e estar

espiritualmente preparado para tal;

• estar em estado de graça, i.é, sem pecado;

• manter-se em jejum de alimentos sólidos, pelo menos uma

hora antes;

• ter fé de que sob as aparências de pão e vinho está Jesus;

• mostrar disposição de assumir os compromissos de amor,

partilha, solidariedade, decorrentes da Eucaristia.

Para receber Jesus, santo, puro e bendito, o coração do homem precisa estar igualmente puro e limpo. Aquele que participa indignamente da Eucaristia, o faz de forma indevida e sacrílega. “Portanto - diz São Paulo - cada um examine a si mesmo, antes de comer deste pão e beber deste cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a sua própria condenação” (cf. 1Cor 11, 28s).

Quem come minha carne e bebe meu sangue

tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia

Antônio Galvão, 67 anos, teólogo leigo, biblista e Doutor em Teologia Moral, é autor, entre outros, do livro “Sacramentos: sinais do amor de Deus” (Ed. Vozes, 3ª. edição, 1999, 128 pp.) de onde “Eucaristia: o sacramento do amor” é parte componente.

Esta meditação iluminou um retiro de padres no estado de São Paulo em maio de 2009.