SERÁ QUE SEU LIVRO ESTÁ EM EXTINÇÃO?
Cuidado, seu livro impresso, aquele que você conserva na cabeceira de sua cama, pode estar em extinção. Ao menos ele não está numa biblioteca, onde o risco aumenta consideravelmente. Isso é o que conta a obra de Matthew Battles : A Conturbada História das Bibliotecas. O autor relata que, já no ano de 641 (no calendário ocidental), o exército árabe, ao invadir Alexandria, deparou-se com um monumento intelectual egípcio: a Biblioteca de Alexandria. Na dúvida, segundo a lenda, os invasores questionaram um sábio califa sobre o destino de tal importância, mas o homem determinou: “Se o que vem dito nos livros concorda com o Livro de Deus, eles são desnecessários, se discorda são dispensáveis”. Com isso, a cidade ganhou três meses de combustível, sendo queimados milhares de rolos de papiros.
Observe que uma das primeiras espécies de livros extintas era a dos próprios egípcios, que tiveram seus “livros” – que eram rolos de papiros – falecidos, resultantes da inovação tecnológica, ou seja, foram suplantados, com o tempo, por um objeto mais bem acabado, mais parecido com aquele que temos em nossa cabeceira, em casa. O mesmo ocorrera com os sumérios que viram seus “livros” – um tijolo de barro cozido, o qual trazia textos inscritos no interior – também desaparecerem (continua meu aviso, verifique se seu livro está em lugar seguro).
A queima de livros não foi privilégio de exércitos em tempos de guerra. A Igreja Católica, na Idade Média, na busca de evitar heresias criou uma série de mecanismos para combater os contestadores da doutrina, uma delas: queimar livros. Em tempos modernos, revela-se pertinente a frase do ex-líder indiano Mahatma Gandhi: “Você não precisa queimar livros para destruir uma cultura. Basta fazer com que as pessoas parem de lê-los”. Caso o leitor acredite que essas palavras tenham influenciado a humanidade, enganou-se. Enquanto surgia o computador, na Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX, os exércitos de Adolf Hitler, à medida que adentravam vitoriosamente territórios inimigos, destruíam os livros das bibliotecas dos povos vencidos que traziam qualquer menção a Reich.
Com os avanços tecnológicos, os cenários de nosso cotidiano se alteraram. Até tal data não se pensava em outro meio de leitura, de comunicação, de uso e transferência de documentos ou dados, como os tradicionalmente utilizados antes dos recursos tecnológicos. O meio livreiro se viu envolvido numa revolução informacional, sendo este um mal (ou um bem) necessário, ainda mais com mercado globalizador instaurado a partir da década de 1980.
Esse quadro acarretou na batalha que se trava entre o livro e os textos que tem como suporte o computador. Há milhares de textos disponíveis gratuitamente na internet, sendo possível encontrá-los facilmente por sites de busca. Muitas empresas utilizam somente a internet como material de pesquisa e raramente livros. Criou-se também com esse novo suporte, os livros eletrônicos, que, aliás, podem ser comprados parte a parte, dependendo do interesse do cliente. Já os textos multimodais, que misturam linguagem verbal com a não-verbal, sendo que alguns trazem animações, são grandes atrativos que competem com o livro impresso. Não há dúvida (e eu já disse sobre o seu livro, né?) que são muito atrativos, principalmente quando nos referimos ao público infanto-juvenil, ao qual as características citadas realmente impressionam.
Contudo, a impessoalidade desse processo computador é algo perturbador. O fato de ler na tela é um dos pontos que os usuários mais reclamam, inclusive o próprio Bill Gates, que admite imprimir os textos em papel. O livro, no entanto, é algo palpável, que abrange quase todos os sentidos; o leitor toca, cheira, vê, enfim sente o objeto (para os mais apaixonados dizem que até gosto tem). É um ser de fácil manipulação, de movimentação, pode ser, ao que parece, mais bem manipulado. Isso sem contar os cafés, bibliotecas (perigosas), feiras de livros etc., que são eventos sociais marcados.
É desse modo que livro também é um bem cultural, consagrado universalmente, que perdurou por várias batalhas – como algumas já descritas – e bravamente sobreviveu a este mundo de intempéries. Lembremos do advento da televisão, que histórias de entretenimento, assim como temas técnicos puderam ser tratados por outro suporte, mais dinâmico, mais fácil de “ler”, menos cansativo.
Porém, lá está o seu livro de cabeceira.