AGIR CONTRA
A ética platônico-aristotélica situa a virtude no meio entre dois extremos. Os extremos sempre estão viciados. Desta forma é vício situar-se tanto na extrema esquerda, como na extrema direita; ser santo demais, como ser santo de menos; tomar bebida demais, como bebida de menos; comer demais, como comer de menos; exceder-se no sexo, como abster-se totalmente; nem trabalho demais, nem total ociosidade. É a norma da moderação, ou do “meio termo”. Nada em exagero, pois, entende-se que os extremos são prejudiciais à vida humana saudável. Esta proposta ética da filosofia clássica foi assumida, posteriormente, pelas mais diversas filosofias. Inclusive o cristianismo a assumiu em sua espiritualidade. Assim encontramos inúmeros conselhos de moderação na ascese cristã. Mas o que tem isto a ver com o “agir contra”? Num primeiro momento, parece evidente que o ser humano concorde que o melhor para ele seja orientar-se pelo meio termo em todas as suas ações. Mas a psicologia nos ensina que a natureza não nos fixa no meio termo. Os seres humanos, em toda a sua história, são levados a extremos. Extremos de heroísmo, e extremos de covardia; extremos de bondade, e extremos de crueldade; extremos utópicos, e extremos de pessimismo realístico; extremos de virtude, e extremos de vício. Isto, muitas vezes, nos leva a crer que o ser humano é mais um ser que tende a extremos, do que um ser moderado e que respeita meios termos. Como esta tendência instintiva a extremos é tão forte no ser humano, a cultura ocidental já se convenceu de que o homem não é um ser ético por natureza, mas precisamos ser educados eticamente. E isto significa, de acordo com a melhor das filosofias e da espiritualidade cristã, que é necessária a educação para as virtudes, ou como se diz hoje, para se levar uma vida com excelência, expressa por valores de dignidade. E se constatamos vícios, exageros, desvios éticos, corrupção e desumanidades, isto são deficiências civilizatórias, que não se orientam por uma antropologia, em que o ser humano se define como ser racional, imagem e semelhança de Deus, destinado à uma felicidade terrena e ultraterrena. Como então agir em relação a este desvio do ser humano com referência àquilo que ele deveria ser e ao seu destino último? Em outras palavras, como se contrapor aos vícios, aos exageros e à falta de um sentido digno para a vida da humanidade? Filósofos e mestres espirituais propõem “agir contra”. Este agir contra não significa querer simplesmente erradicar as causas dos vícios, dos desvios éticos, mas oferecer substitutivos virtuosos mais prazerosos para uma vida pessoal feliz, e de convivência pacífica para com todas as criaturas. Neste sentido, não adianta apenas reprimir plantadores de maconha, de coca, de papoula, ou outras plantas alucinógenas. É necessária uma política que ofereça alternativas de plantas e de atividades comerciais compensatórias aos traficantes de drogas. Não adianta apenas reprimir os jogos de azar, é preciso oferecer alternativas de lazer aos ociosos e aos viciados nestes divertimentos. Freud diria que é preciso sublimar energias instintivas exageradas e destrutivas com encaminhamentos benfazejos à vida. Falta ao nosso tempo encontrar estas propostas positivas de vida para que o jovem, ou o adulto de hoje não se vicie e não se corrompa. Com tanto vício, com tanta corrupção nos tempos atuais, isto, com certeza, acusa alguma raiz pobre em nosso modo de vida, em nossas ideologias contemporâneas. Como agir contra estes descaminhos? Somente propondo um modo de vida mais atraente, e ideologias pragmáticas mais humanas.