GAROTA DE PROGRAMA E BOY


Até no mercado do sexo, homem leva mais vantagem do que as mulheres. Os garotos de programa (boys) têm os mesmos objetivos delas e no geral, não sofrem tanta discriminação. Esses BOYS como já se chama por aí, passeiam pelos calçadões, desfilam nos shoppings, etc., naturalmente. Por outro lado, mesmo as "garotas" de luxo, universitárias, são tratadas meio como "alça de caixão" onde qualquer um passa a mão. Com os BOYS, não, ou talvez bem menos. Suas famílias dificilmente descobrem que são profissionais do sexo, mesmo sabendo que eles não têm emprego fixo com carteira assinada; com as "moças" logo os parentes identificam seus movimentos, talvez pela natureza feminina cuja cultura estabelece controles mais rigorosos por parte dos familiaresm - um pouco da lógica do "prenda sua cabritinha que meu bode está solto". Não raro, ao menor sinal de que existe na família uma garota de progama, essas "meninas" enfrentam discriminações em suas próprias casas. Há casos de serem expulsas, quando se descobre de onde vem o dinheiro delas, sem levar em conta que elas contribuem, financeiramente, com as despesas da casa.
O falso moralismo parece mesmo ser coisa difícil de superar, mesmo na era do conhecimento, onde a tecnologia se interpõe nas relações sociais contribuindo, em tese, para as possibilidades de maior aceitação das pessoas como elas são. Claro que a prostituição sempre foi marcada por sentimentos e condutas falso-moralistas, mas chega um momento que essa realidade fica descontrolável e a sociedade não poderá mais jogar o lixo para baixo do tapete.

Talvez seja uma inovação essa coragem dos garotos de programa, considerando ser uma atividade mais encarada pelas mulheres desde a antiguidade. Isto fica claro com as atitudes dos BOYS, haja vista que a grande maioria não demonstra nenhum tipo de problema de consciência pesada diante de suas práticas nem sempre socialmente aceitas. Isto geralmente se reflete nas suas condutas tranqüilas quando são abordados ou abordam para ajustar o preço do programa. Há um diferencial a mais a favor dos os homens: supostamente são mais competentes do que as mulheres, pois no geral não escolhem um sexo para trabalhar: saem com homem ou com mulher! De certa forma não se verifica muito com as garotas. Não se percebe, claramente, que elas saiam com mulheres na mesma lógica dos garotos - relações homossexuais. Sei de fatos que algumas saem com duas mulheres, mas desde que exista  homem no meio. Imagino que talvez aconteça de tudo com os três na mesma cama, mas acreditamos que seja a ortodoxia do homem com a mulher que prevaleça. Neste sentido, estaria a mulher discriminando a homossexualidade feminina? Ela, no entanto, pode sair com um gay que viva no armário, e daí? Afinal, a lógica do mercado passa a ter sentimento?

Os garotos de programa, ou os BOYS, têm todo um movimento característico. Nos locais Gays, por exemplo, eles se imiscuem naturalmente e tudo leva a crer que faturam um bom dinheiro. Já ouvi histórias sobre eles nas casas noturnas e até em saunas. Dificilmente escondem aspectos particulares de suas vidas tipo: são casados e têm filhos, etc.. As garotas são menos explícitas neste sentido, inclusive institucionalizando o "não-beijar" para não se apaixonar o que poderá ser compreendido como extremamente profissional. Os Boys beijam, cantam “Babalu em grego”, fazem "carro alegórico" e ainda soltam beijinhos, mas tudo por DINHEIRO. Parece que eles têm consciência da diferença entre ser homossexual e apenas ter uma atitude homo. Dito diferente, fazer sexo com um homem sendo homem não torna ninguém homossexual, posto a homossexualidade acontece num contexto de preferência por prazer e emoção.

Outro detalhe interessante: a maioria dos BOYS é sarada, bombada, mesmo; vestem-se bem e com roupa de grife, não obstante terem uma boa conversa e uma sedutora forma de abordagem, o que não fica tão claro com as garotas. Elas chegam, acordam o preço e o resto só na cama. Mas algo existe em comum: eles fazem de tudo por dinheiro. Neste sentido, os Boys, novamente, levam vantagem sobre as garotas, pois quando saem com rapazes fazem tudo, COMO JÁ DISSEMOS, inclusive assumindo a posição de "passivos" na transa, sem que sejam rotulados de veados, frangos, etc.. Mas o melhor: tudo indica serem muito bem resolvidos, pois isto não os leva a crises de identidade e, até onde pudemos observar, não "mudam a casaca". Os Psicólogos deveriam pesquisar esse segmento comportamental, pois os BOYS estão aí em todos os lugares, inclusive namorando sério com dondocas. Para não ficar sem mencionar, outra classe é muito procurada pelos BOYS: das coroas, solteironas, desquitadas, divorciadas, mal casadas e outros "adas". Nesse filé do mercado, eles (os boys) deitam e rolam, pois a sedução deles fica mais aguçada diante de mulheres românticas, boas de grana e carentes de sexo, de muito sexo, repetindo-se também com grande parte dos homens na mesma lógica estratificada das mulheres.
A rigor, esse mercado funciona como qualquer outro. Ajusta-se o preço ou consulta-se a tabela e... Vai quem quer. Não vale se apaixonar, porque só vai sofrer e gastar. Beijar na boca das garotas, nem pensar, exceto no gestual do teatro sexual, mas os garotos (boys) beijam e não se apaixonam. (A passionalidade, afinal é preponderante nas mulheres?)
Nas páginas de relacionamentos dos grandes jornais, configura-se esse mercado com todas as nuances do capitalismo. Como o emprego está em crise, cresce o número de profissionais do sexo, principalmente nas classes média e alta, agravado pela desqualificação da grande maioria de universitários que saem das escolas piores do que entraram guardadas as devidas exceções. Outra vantagem que temos que considerar dos boys sobre as garotas é o tamanho da "ferramenta". Dificilmente um garoto de programa deixa de colocar no seu anúncio "BEM DOTADO". Os clientes, por sua vez, também procuram saber se esse PLUS está bem claro e definido, pois no caso de propaganda enganosa causa sérios problemas na hora do caixa.

Aos poucos a gente vai convivendo com os atores que vendem o corpo. Só não sabemos se, quando o corpo não for mais; quando não servir mais; quando a lei da gravidade impuser seu peso, a Previdência Social irá criar um "salário" ou uma aposentadoria para as PUTAS E OS PUTOS, quero dizer: garotas e garotos de programa. Antes disto, claro, o governo terá que oficializar a profissão para que se recolha à previdência e, quando a velhice chegar, possam galgar uma merecida aposentadoria.

Temos a opinião de que quando um produto está à venda, compra quem quer e tem dinheiro. No mercado do sexo, há o conforto de que quem compra sexo não compra amor, bem como quem vende sexo não vende amor. Imperioso se faz que os compradores tenham a consciência exata daquilo que vão comprar: diferente de produtos no supermercado, sexo não se embala pra presentes. Pelo contrário, ele fica ali, no quarto, pela dor e delícia de ser o que é e do que provoca. Digo dor, porque é um mercado perigoso que contém ingredientes de prazer, mas também de violência, chantagem e até morte. Como viver é um temor em si mesmo, "o risco que corre o pau, corre o machado". No final, recite-se Carlos Drummond:
"imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto DURO"! (Grifo meu).

Pela natureza deste assunto e por sua riqueza sociopsicológica, é provável que retornemos a ele, focando outros detalhes que ficaram para essa oportunidade.