IMPRESSÕES DA AMAZÔNIA

Todo brasileiro deveria visitar a Amazônia. Navegar em barco-gaiola pelo Rio Amazonas. Passear pelas trilhas da floresta. Hospedar-se em algum hotel-maloca bem longe da civilização. Pescar piranha, abraçar uma sucuri, ouvir as araras, os tucanos, bandos de papagaios, cruzar com um bando de macacos e de porco do mato. Ver as árvores gigantes, as seculares castanheiras do Pará, as seringueiras, as florestas de açaí, as vitórias-régias; sentir o perfume do arbusto wick, da resina do breu, e de tantos outros perfumes da floresta virgem. Alimentar-se com os frutos e as comidas típicas da Amazônia. Assistir concertos e óperas nos Teatros de Belém e de Manaus. A Amazônia é muito mais do que apenas a imensidão da floresta, ameaçada de devastação pelos madeireiros, sojeiros, canavieiros e vaqueiros. A Amazônia continua uma imensidão verde, com muitas águas e, relativamente, com pouca gente. Mas não há como evitar que a Amazônia seja cada vez mais ocupada pelo homem. A grande questão é: como o ser humano ocupará a Amazônia? É verdade, desde tempos imemoriais, indígenas habitavam a vastidão da floresta amazônica. A abundância de peixes e de frutos garantiam a sobrevivência destes povos. Assim como, hoje ainda, grande parte dos amazonenses se aproveita da generosidade da natureza para sobreviver. Para quem vive na imensidão da Amazônia parece impossível que um dia desapareçam suas águas e suas florestas. Dali a pouca consciência do povo amazonense para com a poluição. Sem cerimônia os próprios capitães de navios e os viajantes jogam todo tipo de lixo nos rios; deste povo, ninguém está preocupado com o aquecimento global, com falta de água doce, com a pirataria da flora e da fauna, com a grilagem de terras, com o contrabando de madeiras... Muitas terras continuam despovoadas, florestas imensas continuam verdes, os rios continuam como sempre, anualmente, com suas enchentes e vazantes. Somente quem vem de fora, e possui uma consciência crítica, repara angustiado que muita coisa está mudando. E quantos não pagam com a vida quando querem preservar a natureza amazônica. Temos aí a história de Chico Mendes, de Dorothy Stang e de tantos anônimos que sucumbem por esta vasta região onde, muitas vezes, não existe “nem rei, nem lei, nem fé”.

A Campanha da Fraternidade, deste ano, tenta orientar criticamente nossos olhos para a Amazônia. Tenho a impressão que, nesta conversa de “campanha”, muitos falam besteiras sobre a Amazônia, porque nunca a conheceram. Com certeza, a Amazônia não será devastada de um dia para outro. Mas, com certeza, a Amazônia será ocupada, cada vez mais, pelo ser humano. A grande questão é: como a Amazônia será ocupada? Com planejamento, com projetos, ou caoticamente? E este é o grande problema. A impressão que dá, para quem visita a Amazônia, é de que o Estado Brasileiro não está presente na Amazônia. Por isto não é de estranhar que organizações estrangeiras estejam dando bolsas de estudos no exterior para lideranças indígenas e comunitárias da região, e que em algumas comunidades se fale mais inglês do que português. Mesmo que se navegue uma semana pelo Rio Amazonas e afluentes, provavelmente não se cruzará com patrulhas fiscalizando alguma coisa. A impressão é que o Brasil ainda não tomou posse da Amazônia com seu aparato legal, nem conhece as riquezas desta imensidão de águas e de terras, de flora e de fauna. O desenvolvimento sustentável da Amazônia somente acontecerá quando houver planejamento para este desenvolvimento. E isto necessitaria o envio de milhares de cientistas para a região. É preciso conhecer para dominar. Mas, infelizmente, até os Institutos de Pesquisa ali existentes dão a impressão que não possuem mais verbas para ampliar suas pesquisas. A preservação e o desenvolvimento da Amazônia precisam de projetos!