Cuide de você
Cuide-se bem, perigos há por toda parte. Há criaturas destemidas, que correm mais riscos (dizem que ter medo é ser inteligente, então sou uma tola), por isso devem estar atentas, ser mais cuidadosas e buscar proteção. Os perigos da paixão estão inclusos. Coração bobo, coração, mole...
Existem mulheres que ficam sozinhas, curtem a liberdade, saem pra lá e pra cá, coisa e tal. Até a página dois. Depois de algumas semanas, começam a aparecer certos sintomas da abstinência emocional: taquicardia, tonturas, vontade de subir pelas paredes, agitações, falta de sono, carência afetiva incontrolável, vontade de falar com ele dez vezes por dia, não achar graça na vida.
Novamente começa-se, então, por sobrevivência, outro ciclo. Busca de atividades extras como ir a saraus literários, tentar ler mais e escrever também.
Tentar aceitar que o antigo amor não deu certo e ter a tendência a procurar causas em seus próprios defeitos são práticas comuns tanto quanto infrutíferas a todas. Visitar exposições também é indício.
Eu e minha irmã fomos ontem à exposição da artista francesa Sophie Calle, “Cuide de Você”, que ocorre no Sesc Pompéia em São Paulo até setembro, quando irá instalar-se na Bahia.
Multimídia, profunda e vanguardista são palavras que não bastam à definição do trabalho apresentado. Casa cheia, público interessado, distribuição gratuita de material impresso de primeira, tudo isso poderia bastar e motivar qualquer pessoa que curte cultura.
A perspectiva da autora, no entanto, é o que mais interessa. Ao receber um email do namorado, explicando os motivos do rompimento da relação, a artista francesa entrega o texto do email a mulheres de várias profissões e idades e registra as sensações que cada uma apresenta com o inusitado conteúdo do email e as formas com que expressam seus sentimentos.
Muito cuidada a mostra, passa-se ali duas horas com tranquilidade e eu devo voltar pelo menos uma vez mais para aprofundar a leitura dos depoimentos das mulheres que leram o email do namorado de Sophie.