RESPEITEM O MARGINAL

A cada dia que passa cedemos um pouco de nossa liberdade em nome da segurança. Quem já não ouviu a célebre frase: “Os marginais estão soltos e os cidadãos atrás das grades de suas casas?” Nos últimos trinta anos ouvimos isso tão freqüentemente que nem nos damos conta de sua seriedade. A cada dia permitimos que os marginais tenham mais espaço.

Deixar a casa aberta? Nem pensar;

O carro sem travar? Nem com os “guardadores” em volta;

Quintal sem muro? Fora de cogitação;

Ir ao banco sozinho? Arriscado.

A rotina das grandes cidades causa um stress que mata aos poucos. Muitas vezes podemos contar com a ajuda de uma bala de um bandido ou com a faquinha de um pivete. Mesmo quando queremos desviar a atenção das notícias dos órgãos de imprensa, aquelas que vêm dos colegas e vizinhos nos perseguem:

- Soube assaltaram a casa do Fulano?

- Soube que Sicrano levou um tiro de assaltantes?

O cidadão comum já não se permite sair de casa a pé, à noite. Ficar em casa, em muitos lugares, somente dentro da segurança do quarto. Que o cidadão não deva reagir a um assalto é compreensível. Contudo, os órgãos de segurança também estão abrindo espaço aos marginais.

Em Manaus, há mais de 10 anos não temos transporte noturno. Os empresários alegam que o risco de assalto a ônibus é muito alto. As estatísticas parecem comprovar isso. O passageiro não tem tanto medo de ser assaltado dentro do ônibus, mas sim quando ele sai dele e pega o rumo de casa, por vezes em ruas mal iluminadas. Porém, parar uma atividade com medo dos ladrões é um exemplo típico de valorizá-los, de lhes dar o respeito que eles não merecem.

Farmácias, restaurantes, panificadoras, hospitais etc. organizam seus horários para que os funcionários não precisem usar o transporte depois da meia-noite. Ou se trabalha até às 23 horas, ou então até as 6 da manhã.

Casas comerciais e até bancas de jornal recebem pagamento e passam o troco através de grades de ferro, onde o operador fica escondido atrás de um vidro opaco. Os assaltantes não se preocupam em esconder os rostos, mesmo onde há avisos “ Sorria, você está sendo filmado”, porque afinal, já perdeu a honra, a vida pouco lhe importa e sempre pode contar com a proteção dos “direitos humanos”.

A Secretaria de Segurança instala câmeras em lugares públicos, invadindo nossa privacidade e nós aplaudimos. Encobre a falência da segurança pública com medidas que fecham bares e restaurantes às 23 horas como se os marginais precisassem de bares para agir. A população mal informada aplaude tais medidas restritivas ao emprego e à atividade legal.

O marginal vai abrindo cada vez mais espaços, onde os cidadãos comuns já desaprenderam a se proteger entre si. Quem vê, nada denuncia porque não sabe de que lado está o policial que vai receber essa denúncia. Assim, combate à criminalidade não se faz com medidas pirotécnicas. Um bom lugar para começar a devolver o espaço às pessoas de bem é o constante e rigoroso acompanhamento da integridade das pessoas responsáveis pela segurança.

Está na hora de exigirmos o espaço a que temos direito.

Luiz lauschner – Escritor e empresário

www.luizlauschner.prosaeverso.net

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 10/08/2009
Reeditado em 10/08/2009
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