O ACEIRO DA ESPERANÇA (Dias de Sombras).
Pensamento: Há dias de sombras na existência humana, mas importante é que a soma dos dias não supere os dias de luz brilhante.
Aclibes Burgarelli – 08.08.909
Véspera do dias dos pais. Semana de sombras.
Há certos dias, em que o cotidiano das pessoas é surpreendido por acontecimentos desagradáveis. Parece, a quem vem a padecer das adversidades, que contra si armaram-se, em atos sucessivos, todos os disparates da vida. Tão logo acontece um pequeno acidente, por exemplo, um objeto que cai das mãos, desencadeia-se uma série de outros, imediata ou posteriormente notáveis. Assim, no momento em que se busca apanhar o objeto que se soltou das mãos, inesperadamente, bate-se a cabeça na porta de um armário superior que estava aberta. Tenta-se fechar a porta do armário, mas se prende o dedo de forma dolorosa. A reação, para casos resumidos nos exemplos, orienta-se no desatino da razão. Descarregam-se impropérios, acusações, negativismo e xingamentos. È evidente que reagir de forma destrambelhada, agressiva e, às vezes, ofensivas de nada serve ao desiderato espiritual da existência humana. A certeza é que o restante das horas daquele dia envolver-se-á na aura negativa das ações e reações.
Costumeiramente ouve-se alguém dizer: - Parece que hoje é o dia no qual nada dará certo!.
É muito comum, nas regiões rurais, irromperem-se incêndios que assumem grandes proporções, se não for combatida, de forma criteriosa e cuidadosa, a propagação das chamas. O êxito do combate contra o fogo depende do estágio em que se encontra e dos meios que, proporcionalmente, são utilizados. No momento em que se percebe a impossibilidade de combate imediato do fogo, por inexistência de instrumentos capazes, o melhor é fazer um aceiro, isto é um espaço desbastado de vegetação, que se abre em torno das residências rurais ou à margem de um trecho conflagrado por incêndio nas matas, para impedir a propagação do calor e expansão do incêndio.
Nos dias adversos, cuja seqüência de infortúnios é notada por quem deles padece, o âmago do problema reside na forma pela qual esses mesmos infortúnios serão enfrentados. Agravar-se-á o dissabor se, de pronto, se instala a idéia de que “naquele dia nada dará certo”. Em resumo, arma-se, no espírito do paciente, forte carga negativa.
A indagação que se faz é esta: Como fazer o aceiro bem dirigido para cujo resultado se possa esperar a cessação do nefasto incêndio que assola o espírito?
Pertinente e oportuna citação é encontrada no Blog artedartes.blogspot.com na postagem denominada “Dhammapada – Conversando Com Buda 3”, que, sob a forma de preleção, fornece as ferramentas de se necessita para “aquele dia que nada dá certo”. Para adaptação ao mundo Ocidental e sem qualquer afetação à qualidade do ensinamento, basta trocar a palavra mente por espírito e o domínio sobre a mente por evolução espiritual.
“Dhammapada – Conversando com Buda 3” - Citta Vagga - "Mente"
1. Da mesma maneira que o armeiro precisa fabricar flechas que sejam retas, o sábio corrige sua mente instável e vacilante, difícil de vigiar e dirigir.
2. Como um peixe fora d’água ofega e se agita incessantemente, assim se esforça e luta nossa mente nas redes das tentações de Mara.
3. A mente é instável e caprichosa, difícil de ser vigiada; é veloz, corre sempre para onde lhe apraz. Dominá-la é um grande bem. Dominada, ela se torna uma fonte da alegria.
4. A mente é invisível e sutil, difícil de ser vigiada. A mente corre sempre para onde lhe apraz. Que o sábio a vigie: a mente vigiada é uma fonte de felicidade.
5. Errando ao longe, solitário, inconsistente, oculto, o pensamento habita os recessos do coração; assim é a mente.
6. As mentes instáveis, que ignoram o caminho da Verdade e carecem de confiança e paz, não chegam à plenitude da Sabedoria.
7. As mentes calmas e controladas, livres dos grilhões dos desejos, que se elevaram acima do bem e do mal, despertas, desconhecem o temor.
8. Considerando este corpo frágil como uma jarra de argila, façamos da mente uma fortaleza, subjugando Mara com a espada da Sabedoria. Depois da vitória, a conquista é mantida pela constante vigilância.
9. Não tardará muito e este corpo jazerá por terra, abandonado, sem vida, inconsciente, insensível, semelhante a um inútil galho seco. Mas não perecerão as consequências de seus pensamentos; os bons engendrarão boas ações e os maus engendrarão más ações.
10. Qualquer que seja o mal que alguém faça a quem odeie, ou que entre si se façam dois inimigos, maior mal é o causado pela mente mal dirigida.
11. Nem pai nem mãe e nem parente algum nos poderá fazer tanto bem quanto a mente bem dirigida.
Fontes e Bibliografia:
SILVA, Georges da. Dhammapada Atthaka, 4ª edição. São Paulo: Ed. Pensamento, 1989;
FRONSDAL, Gil. The Dhammapada: A New Translation of the Buddhist Classic with Annotations‎, Boston: Shambhala Publications, 2006. “
De outra maneira, desta feita nas preleções de Joanna de Ângelis (Da obra “Momentos de Saúde” - Psicografia: Divaldo Franco), remanescem estas pérolas espirituais, a respeito da aflição por que passam as pessoas que acham que há dias marcados para nada dar certo:
“Quem lhe padece a injunção tende ao desânimo, e refugia-se em padrões psicológicos de auto-aflição, de infelicidade, de desprezo por si mesmo. Sente-se sitiado por forças descomunais, contra as quais não pode lutar, deixando-se arrastar pelas correntes contrarias, envenenando-se com o mau humor.
São esses, dias de provas, e não para desencanto; de desafio, e não para a cessação do esforço.
Quando recrudescem as dificuldades, maior deve ser o investimento de energias, e mais cuidadosa a aplicação do valor moral da batalha.
Desistindo-se sem lutar, mais rápido se dá o fracasso, e quando se vai ao enfrentamento com idéias de perda, parte do labor já está perdido.
Nesses dias sombrios, que acontecem periodicamente, e às vezes se tornam contínuos, vigia mais e reflexiona com cuidado. Um insucesso é normal, ou mesmo mais de um, num campo de variadas atividades. Todavia, a reiterada sucessão deles pode ter como causa influências espirituais perniciosas, cujas personagens se interessam em prejudicar-te, abrindo espaços mentais e emocionais para intercâmbio nefasto contigo, de caráter obsessivo.
Quanto mais te irritares e te entregares à depressão, mais forte se te fará o cerco e mais ocorrências infelizes tomarão forma. Não te debatas até a exaustão, nadando contra a correnteza. Vence-lhe o fluxo, contornando a direção das águas velozes.
Há mentes espirituais maldosas, que te acompanham, interessadas no teu fracasso. Reage-lhes a insídia mediante a oração, o pensamento otimista, a irrestrita confiança em DEUS.
Rompe o moto-contínuo dos desacertos, mudando de paisagem mental, de forma que não vitalizes o agente perturbador.
Ouve uma música enriquecedora, que te leve a reminicênscias agradáveis ou a planificações animadoras. Lê uma pagina edificante do Evangelho ou de outra obra de conteúdo nobre, a fim de te renovares emocionalmente.
Afasta-te do bulício e repousa; contempla uma região que te arranque do estado desanimador. Pensa no teu futuro ditoso, que te aguarda. Eleva-te a DEUS com unção e romperás as cadeias da aflição.
Há sempre Sol brilhando além das nuvens sombrias, e quando ele é colocado no mundo íntimo, nenhuma ameaça de trevas consegue apagar-lhe, ou sequer diminuir-lhe a intensidade da luz. Segue-lhe a claridade e vence o teu dia de insucessos, confiante e tranqüilo”.
“Nunca percas a esperança. Haja o que houver, permanece confiando. Se tudo estiver contra e o insucesso te ameaçar com o desespero, ainda aí espera a divina ajuda. Somente nos acontece o que será de melhor para nós. A lei de Deus é de amor. E o amor tudo pode, tudo faz.” (Joanna de Ângelis / Divaldo Franco Livro: Vida Feliz”).