Esquema de estudo para o documento de Aparecida, Igreja CAtolica
 Evangelização, Diretrizes e Aparecida
8.10.08
 Introdução
 O tema da evangelização tornou-se em nossos dias urgente.
 As mudanças de alcance mundial em curso colocaram em crise o paradigma tradicional de transmissão da fé eclesial.
 Já não temos aquela segurança que antes era dada pela instituição eclesial.
 Agora estamos ao largo, em campo aberto, num mundo plural.
 Pretendemos abordar o tema em três pontos:
 1. O processo histórico da evangelização
 1.1. Fim da era constantiniana.
 O Documento de Aparecida afirma: “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (370).
 É o reconhecimento do fim de uma era, ou seja, da era constantiniana, iniciada no séc. IV e que chegou até meados do séc. XX.
 1.2. Crise do paradigma tradicional da transmissão da fé eclesial.
 Sob o impacto das mudanças culturais, do individualismo e do pluralismo religioso (mudanças hoje de alcance mundial), estamos em plena crise do paradigma tradicional da experiência eclesial da fé.
 Ou seja: o que está em jogo é o próprio processo de transmissão da fé.
 1.3. Crise do processo de evangelização.
 Todo conceito mais abrangente e geral deve ser definido não apenas no seu sentido básico, mas também no seu sentido histórico-contextual.
 É o caso de "evangelização" e de muitos outros termos que freqüentemente utilizamos na linguagem, sem uma clareza semântica suficiente.
 A razão está em que o sentido básico é sempre vivido em vários contextos históricos, em diferentes situações sócio-culturais, ou seja, em contextos hermenêuticos diferenciados.
 “clareamento semântico” dos vários usos do termo “evangelização
 primeiro uso: como “anúncio da salvação a quem nunca ouviu”.
 segundo uso: “Todo anúncio, em palavra, da salvação, dirigida a todos, tanto para os que já ouviram quanto para os que ainda não ouviram”.
 terceiro uso:“todo anúncio da realidade salvífica de Jesus Cristo feita por palavras e atos sacramentais”.
 quarto uso: “Todo anúncio da salvação de Jesus Cristo em palavras e gestos sacramentais e não sacramentais”.
 1.4. O pluralismo religioso.
 É um dado da nossa realidade atual, dentro do processo de globalização econômica e da formação de identidades locais (identidades primárias como: religião, etnias etc.).
 O pluralismo religioso enfraquece a relação de pertença com as instituições tradicionais como Família, Estado, Escola e, na mesma linha, Igrejas.
 Fala-se
 a sociedade pós-moderna como espaço de competição entre as diversas agências religiosas para gerir o sagrado.
 Nenhuma das agências (Igrejas e outras) estão hoje em condição de impor à sociedade como um todo um sistema de crenças, normas e valores
 1.5. A religião do indivíduo.
 Na nova situação religiosa, a religião e o sagrado se encontram difusos na sociedade, à disposição dos indivíduos e de sua experiência subjetiva.
 As instituições da religião tradicional não controlam mais a experiência religiosa, seu processo de interpretação e sua expressão social.
 O mundo do indivíduo hoje está submetido a outra lógica, orientada pela necessidade que as pessoas sentem de construir o próprio mundo, e nele, a própria identidade, a partir da própria experiência e de escolhas subjetivas.
 Na religião do indivíduo, o sagrado é o próprio indivíduo e suas escolhas.
 2. A contribuição das Diretrizes
 Na nova situação missionária, a Igreja no Brasil trabalha com um conceito aberto de evangelização:
 já enriquecido pelo Vaticano II
 pela reflexão das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano e caribenho.
 Uma grande passagem
2.1. Influência do Vaticano II.
1. a passagem de uma evangelização centrada na Igreja para uma centrada no mundo;
2. de uma evangelização a partir do centro da Igreja para uma a partir da Igreja local ou particular;
3. de um projeto de evangelização centrado na instituição para um projeto centrado na pessoa do crente.
2.2. Influência das Conferências Gerais:
a) Medellín: nova visão da realidade sócio-estrutural do Continente: “injustiça institucionalizada”.
a) “recepção criativa” do Concílio Vaticano II.
b) Orienta a evangelização não apenas para a dimensão pessoal, mas também social da fé.
c) Na passagem para Puebla, foi muito importante o Sínodo de 1974 sobre a Evangelização no mundo contemporâneo (Evangelii Nuntiandi, 1975).
b) Puebla nos orienta para uma nova estratégia pastoral:
b) explicita a opção pelos pobres como exigência para a evangelização no Continente
c) Propos uma Igreja de “comunhão e participação” a partir dos pobres.
c) Santo Domingo trabalhou o tema da “nova evangelização”:
 Influencia a formulação das Diretrizes de 1991 e as seguintes, sobretudo no que se refere à inculturação da fé.
 Coloca duas condições para que a evangelização seja realmente nova:
 1) a promoção humana no sentido da libertação integral. Ela exige o reconhecimento do outro enquanto sujeito, na sua diferença;
 2) uma evangelização inculturada, ou seja, que esteja atenta aos sujeitos culturais que acolhem a Palavra da fé.
2.3. As Diretrizes dos anos 90 a 2002:
+ Sob a influência positiva dessas Conferências Gerais e na tradição da CNBB da pastoral de conjunto desde os anos 60, aos poucos a Igreja no Brasil vai clareando um conceito aberto de evangelização
+ ele se desdobra em quatro dimensões constitutivas: serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão
+ A essas dimensões se articula necessariamente a inculturação.
 Introduzindo:
Ainda não falamos das últimas Diretrizes (2008-2010). Elas vieram depois de Aparecida, assimilando os seus elementos básicos.
Aparecida, no fundo, propõe a passagem de uma Igreja de "território” para uma Igreja de “sujeitos” da fé eclesial.
3.1. Os desafios São dois:
- por um lado, construir a pessoa como sujeito em busca de um espaço de sentido, de segurança e de certezas a partir da experiência de si mesmo, do outro e do mundo. Na construção da própria identidade entram também as escolhas religiosas, experiências compartilhadas a partir de afinidades afetivas e emocionais.
- Por outro, o desafio de construir o “sujeito da fé eclesial”, capaz de integrar a dimensão afetiva e emocional no exercício prático do ser cristão; a vivência prazerosa da fé e o compromisso com a comunidade eclesial e a transformação do mundo.
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As mudanças de alcance global hoje põem em crise o paradigma tradicional de transmissão da fé eclesial.
Temos o urgente desafio de gerar novas formas de transmissão da fé eclesial, que toquem o núcleo fundamental da pessoa, estimulando-a a partilha da fé em comunidades vivas, abertas à missão.
O novo contexto missionário da Igreja nos desafia à criatividade para gerar um novo itinerário de transmissão da fé, adequado aos novos sujeitos e às formas como esses sujeitos compartilham sua experiência religiosa.
3.2. O ponto de partida
O ponto de partida para uma nova síntese entre fé e vida no quotidiano da comunidade cristã será a pessoa crente e sua experiência. Essa nova síntese deve estruturar-se ...
 “primeiro, como experiência pessoal de Deus em Jesus Cristo, refazendo a unidade entre a dimensão contemplativa e orante e o cotidiano da vida, unidade enfraquecida ou mesmo perdida no contexto do mundo secular;
 segundo, como processo para refazer o tecido cristão das comunidades eclesiais, formando assim comunidades maduras, alimentadas pela escuta da Palavra de Deus e a celebração da Liturgia (cf. CfL, 34);
 terceiro, como impulso às comunidades cristãs para saírem de suas próprias fronteiras para um novo compromisso com a missão da igreja no mundo” (Projeto Rumo ao Novo Milênio, 90).
 3.3. O caminho de Aparecida:
 O Documento de Aparecida aponta um bom caminho como resposta às buscas do sujeito da fé.
 Reconhece: a pastoral de “mera conservação” não dá mais conta da atual situação e aponta para a exigência de “uma pastoral decididamente missionária” (no. 370).
 O centro dessa pastoral é o “sujeito da fé” Ele deve ser reforçado pelos passos que o discípulo missionário deve percorrer para fortalecer sua fé subjetiva: encontro vivo com Jesus Cristo, conversão, discipulado, comunhão e missão;
 e no encontro com a fé objetiva, ou seja, na adesão aos conteúdos fundamentais da fé eclesial: adesão a Deus, em Jesus Cristo, na força do Espírito, na acolhida graciosa dos bens do Reino.
3.4. Diretrizes e Documento de Aparecida:
As atuais DGAE querem articular as quatro dimensões constitutivas da evangelização com os cinco passos para a formação do discípulo missionário do Documento de Aparecida. Vejamos o texto:
Na seqüência acima se explicitam as dimensões constitutivas da evangelização (trata-se das DGAE 52).
Quando a proclamação do Evangelho atinge o coração da pessoa, exigindo dela uma resposta de fé, descreve-se melhor o caminho percorrido pelo sujeito da fé.
As etapas desta caminhada, descritas pelo Documento de Aparecida, são: encontro vivo com Jesus Cristo, conversão, discipulado, comunhão e missão.
 Essencialmente essas etapas do Documento de Aparecida se articulam perfeitamente com as quatro exigências da nossa ação evangelizadora.
 De fato, a conversão nasce do anúncio e por ele se sustenta;
 por sua vez, o discipulado, fiel ao chamado amoroso e íntimo do Mestre, deve traduzir-se sempre em serviço, humanizador e libertador, à vida;
 a comunhão deve traduzir-se em testemunho de comunhão ao interno da comunidade cristã;
 bem como em diálogo dos que buscam o Reino de coração sincero.
 Desse modo, a missão tão preconizada pelo Documento de Aparecida engloba todas as quatro exigências da evangelização das atuais Diretrizes.