Estímulo material vs. estímulo moral (no mercado de trabalho)
Naturalmente, quando se busca uma nova oportunidade de emprego o cidadão vislumbra a maior importância no salário oferecido pelo trabalho, sem analisar devidamente o seu papel como funcionário ou as condições de trabalho que ele será submetido. E nessa perspectiva o cidadão vai atrás dos editais para depois iniciar sua maratona de estudos para que no fim ele seja contemplado com um emprego de 3, 4 mil "real", e assim aumentar seu poder de compra para realizar seus desejos e fetiches de consumo. Muito bom, é fácil. Através do estímulo material o indivíduo é capaz de ter sucesso na vida do jeito que é apregoado nas esquinas e calçadas da nossa vida.
A mobilização do homem pelo seu interesse material direto, privado, individual é um vestígio dos hábitos da antiga sociedade, de uma sociedade sistematicamente orientada para o isolamento do indivíduo, senão quando se encontra mercenários que se dizem seus amigos. Dessa maneira cria-se uma atmosfera de rivalidade, egoísmo e de corrida à riqueza travando o desenvolvimento do homem como ser social. O estímulo material é herança do passado com que é preciso contar, mas a qual é preciso retirar, aos poucos, da preponderância na consciência das pessoas, na medida em que queremos que a sociedade progrida.
O estímulo moral surge como balizas para o desenvolvimento da consciência cidadã, para o amadurecimento da consciência social e política das massas populares. O trabalho do homem deve ser reconhecido pelo seu sacrifício e sua luta que é refletida no bem coletivo. E que o indivíduo comece a se identificar intimamente com sua obra e a compreender a sua grandeza humana por meio do objeto criado e do trabalho realizado.
As escolhas feitas por meio de estímulos morais proporcionam uma satisfação que vai além do bem-estar físico e psicológico do trabalhador, ela consegue atingir outrem e ainda provoca repercussões positivas nos âmbitos social, familiar e político.
Devemos saturar toda essa vida repleta de móbiles psicológicos e fenômenos reais de luta pela riqueza, de corrida pelo êxito individual. É possível lutar contra a miséria, o desemprego e, ao mesmo tempo, contra a alienação. Como um marxista, penso que é fundamental fazer desaparecer o interesse, o fator "interesse individual". E lamento muito por nossa bíblia não ser O Capital.
"O homem não atinge sua plena condição humana senão quando produz, livre da coação da necessidade física de se vender como mercadoria".¹
¹Guevara, Obras Revolucionárias. 1968.